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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vídeo desmente alegação de Bolsonaro em pedido de desculpas a venezuelanas

Colunista do UOL

18/10/2022 15h52

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A cada nova declaração, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se enrola mais no caso da difamação feita contra mulheres venezuelanas que moram na comunidade de São Sebastião, em Brasília.

Desde que começou a péssima repercussão da entrevista ao podcast Paparazzo Rubro-Negro, na qual disse que "pintou um clima" quando ele avistou meninas de 14, 15 anos "arrumadinhas", Bolsonaro só pensa em minimizar os prejuízos para sua campanha à reeleição.

Destacou a primeira-dama Michelle e a ex-ministra Damares Alves para tentar convencer as mulheres a participarem de seu programa eleitoral. A ideia era que as venezuelanas dissessem que houve um mal-entendido e que o caso estava encerrado. Elas, no entanto, se recusaram a fazer esse papel.

A alternativa do presidente foi gravar um vídeo ao lado de Michelle e de María Teresa Belandria, representante do ex-autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó.

Em um dos momentos mais constrangedores da história política recente do Brasil, o presidente culpa "militantes de esquerda" por pressionar as venezuelanas, diz que suas palavras refletiram preocupação por uma suposta exploração de vulneráveis, mas não tomou qualquer providência para lhes dar apoio social depois da visita.

A seguir, Bolsonaro diz que Damares foi ao local e constatou que as mulheres são trabalhadoras. Emenda então um pedido de desculpas em que distorce a realidade: "Se as minhas palavras, que por má-fé foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal-entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas".

Não houve má-fé ou palavras tiradas de contexto: em várias ocasiões, Bolsonaro se referiu às mulheres e adolescentes venezuelanas de São Sebastião como se estivessem se prostituindo. Além da entrevista ao Paparazzo Rubro-Negro, em uma outra declaração, ao Podcast Collab, que a coluna divulgou no domingo (16), o presidente foi ainda mais explícito.

Disse no mês passado a influenciadores evangélicos que elas chamaram atenção porque estavam "todas muito bem arrumadas, estavam fazendo o cabelo". E questionou: "Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Não vou falar".

Mas bastou que um dos entrevistadores dissesse que elas estavam ali para fazer programa, para Bolsonaro confirmar. "Pra fazer programa. Vocês acham que elas queriam fazer isso? Qual era a fonte de sobrevivência delas? Essa."

Uma das mulheres venezuelanas que estava presente no dia da visita, em 2021, negou a versão do presidente. Localizada pelas jornalistas Camila Turtelli e Amanda Rossi, do UOL, ela disse que entre as adolescentes no local —onde acontecia uma ação social— estavam sua filha e sua sobrinha. "Não tem nada a ver com o que ele está falando agora", disse a mulher, que não quis se identificar por temer ataques.

O episódio expõe em praça pública toda a hipocrisia do moralista Bolsonaro:

Conclui sem provas que meninas e adolescentes venezuelanas estavam se prostituindo apenas pelo fato de estarem "bem arrumadas".

Ao relatar a visita, revela seu espírito malicioso, quando diz que "pintou um clima".

Diante da repercussão do episódio, não se preocupa com os prejuízos causados às mulheres que difamou, mas apenas com o estrago em sua campanha eleitoral.

Por fim, atribui falsamente as ofensas feitas por ele a militantes de esquerda que teriam distorcido suas palavras.

Como se vê no vídeo que acompanha essa publicação, não há distorção e nem palavras retiradas de contexto. O que se constata de forma evidente é que esse Bolsonaro que se diz defensor da família e de valores cristãos não passa de uma grande fraude eleitoral.