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Chico Alves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Formatura de cadetes da Aman tem reclamações de comida ruim a banheiro sujo

Presidente Jair Bolsonaro na formatura da Aman, realizada na tarde de sábado (26). A festa aconteceria à noite. - Clauber Cleber Caetano - PR
Presidente Jair Bolsonaro na formatura da Aman, realizada na tarde de sábado (26). A festa aconteceria à noite. Imagem: Clauber Cleber Caetano - PR

Colunista do UOL

27/11/2022 15h55Atualizada em 28/11/2022 16h43

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O que seria a noite de glória para 395 cadetes que se formaram ontem na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) se transformou para muitos deles e seus familiares em um grande fiasco. Segundo reclamações recebidas pela coluna e também registradas no site Reclame Aqui, não foram cumpridos vários itens do contrato dos formandos com a empresa de organização de eventos Brave Brazil, de Santa Catarina. Entre as reclamações estão relatos de comida escassa e ruim, falta de pratos e talheres, além de sujeira nos banheiros.

A formatura de 2022 teve um caráter especial, por marcar o bicentenário da Independência. À tarde, estiveram na Aman para a solenidade o presidente Jair Bolsonaro, o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira e o comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes.

À noite, segundo contam os parentes dos cadetes, a festa para os formandos e familiares não teve nada de especial, pelo contrário. O jantar que deveria ter 13 itens, incluindo trilogia de batatas, pernil à Califórnia e tilápia crocante, se resumiu a arroz e carne de porco quase crua, em quantidade insuficiente para os convidados, segundo contou a mãe de um dos cadetes à coluna (ela não quis se identificar por temer represálias contra o filho).

Para participar da festa de formatura, a família de cada um dos aspirantes tinha que comprar um kit com sete convites a preços unitários que variaram entre R$ 600 e R$ 850.

"Faltou tudo, talher, copo, bebida e comida, e a pouca comida que veio, estava fria/azeda. Total falta de respeito com os formandos e seus familiares, me senti envergonhado", relata um dos parentes no site Reclame Aqui. Por falta de talheres, algumas pessoas foram obrigadas a comer com hashi, os dois palitos que são usados nas refeições japonesas.

"Pessoas idosas e crianças [ficaram] horas sem se alimentar passando mal. O cardápio informado simplesmente não existiu. Os poucos doces que estavam nas ilhas, estavam sendo retirados com palitos de comida japonesa", disse outro familiar no mesmo site. "Os garçons que só tinham poucas bebidas para servir e algumas com data de validade vencida. Ninguém sabia explicar o que tinha acontecido. Por volta das 2h da madrugada colocaram um pouco de risoto numa ilha. O risoto estava azedo".

Por falta de talheres, parentes de formando da Aman tiveram que comer com hashis - Foto recebida por WhatsApp - Foto recebida por WhatsApp
Por falta de talheres, parentes de formando da Aman tiveram que comer com hashis
Imagem: Foto recebida por WhatsApp

Convidados tiveram até que fazer a limpeza das mesas e recolher copos e pratos sujos, por falta de quem desse conta da tarefa.

A coluna enviou mensagem à empresa Brave Brazil no espaço do site destinado a esse fim e também encaminhou questionamento ao CEO da empresa, Rafael Brogni, por meio de seu Instagram. Assim que houver resposta será publicada nesse espaço.

Parentes e amigos dos aspirantes reclamaram também da falta de limpeza dos banheiros. Sobre isso e sobre falta de supervisão da direção da Aman sobre a festa que ocorreu em suas dependências, a coluna questionou a academia militar, que respondeu atribuindo a responsabilidade do evento à Brave Brazil.

No texto, a administração da Aman reconhece que "houve várias falhas operacionais da empresa e descumprimentos contratuais, que em que pesem os inúmeros alertas e advertências por parte da comissão organizadora, culminaram com os problemas relatados durante o evento, que desagradaram os convidados presentes". Diz ainda que adotou "diversas medidas visando reduzir os impactos das falhas operacionais da empresa, realizando inclusive empréstimos de material para que os serviços fossem prestados". (Leia a íntegra da nota ao fim desse texto)

A desorganização do evento causou muitas reclamações e muitas discussões. Pais de formandos chegaram a entrar na cozinha para discutir com as pessoas responsáveis pela alimentação e houve quem quebrasse pratos no chão, em meio ao bate boca.

Outro problema foi a iluminação deficiente, que deixou boa parte do ambiente praticamente às escuras - inclusive o local destinado ao buffet, que estava com vários recipientes vazios. A escuridão provocou várias quedas de pessoas idosas.

Somente quando entraram em cena os artistas contratados para fazer os shows da noite - o sambista Mumuzinho e os sertanejos Matheus e Kauan - o clima ficou mais tranquilo.

"No balanço geral, posso dizer que foi um verdadeiro pandemônio", desabafou um dos convidados.

Resposta da Aman:

Acerca dos fatos tratados na reportagem veiculada no Portal UOL que trata da festa de formatura da AMAN e em resposta aos questionamentos contidos na mensagem eletrônica recebida neste dia 27 de novembro, a Academia Militar das Agulhas Negras informa que:

no sábado, dia 26 de novembro, pela manhã, ocorreu a formatura dos Aspirantes a Oficial que concluíram o curso este ano, com a presença de grande público, integrado pelos parentes e convidados dos formandos. Durante esse evento não foi registrado qualquer incidente ou reclamação acerca das instalações e banheiros da AMAN.

Na noite de 26 novembro ocorreu o baile do Aspirantado, nas dependências da AMAN. Tratou-se de uma festa contratada, sua organização coube a uma comissão de formandos, que este ano contratou a empresa de eventos Brave Brazil, de Santa Catarina, para promover e organizar o baile.

Ressalta-se que, no período que antecedeu o evento a comissão organizadora esteve em recorrente monitoramento junto à empresa Brave Brazil, responsável pela realização do baile, a fim de que fossem cumpridas todas as exigências contratuais. Não obstante, houve várias falhas operacionais da empresa e descumprimentos contratuais, que em que pesem os inúmeros alertas e advertências por parte da comissão organizadora, culminaram com os problemas relatados durante o evento, que desagradaram os convidados presentes.

Destaca-se que, durante o evento, e no intuito de mitigar os problemas verificados, a administração da AMAN adotou diversas medidas visando reduzir os impactos da falhas operacionais da empresa, realizando inclusive empréstimos de material para que os serviços fossem prestados.

Quanto ao serviço de banheiros para o baile, a responsabilidade também era da empresa Brave Brazil, que realizou a contratação de estruturas temporárias, cuja manutenção durante a festa também foi falha e motivo de observações e reclamações.

Por último, a Academia Militar das Agulhas Negras lamenta o ocorrido e solidariza-se com as famílias e convidados. A AMAN abrirá Procedimento Administrativo para apuração de responsabilidades e a comissão organizadora irá acionar judicialmente a empresa organizadora para ressarcimentos dos danos.

Atenciosamente,

Seção de Comunicação Social da AMAN.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O nome do CEO da empresa Brave Brazil é Rafael Brogni, e não Renato Brogni, como foi publicado anteriormente.