Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Caminhão mais festejado da história é o símbolo das esperanças do Brasil
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Desde o Caminhão do Faustão - quadro do antigo programa de Fausto Silva em que uma carreta entulhada de eletrodomésticos chegava de surpresa na casa de algum felizardo - um veículo desse tipo não representava tão bem as esperanças dos brasileiros quanto aquele que estacionou no Palácio da Alvorada na quinta-feira (15).
Mergulhado no metaverso golpista, em que simpatizantes de Jair Bolsonaro querem desconsiderar o resultado da eleição para impedir Luiz Inácio Lula da Silva de tomar posse, o Brasil viu com alívio a foto do caminhão de mudanças estacionar à porta da residência presidencial. Sucesso total nas redes sociais.
O governo eleito não terá vida fácil para se equilibrar entre os interesses divergentes da frente ampla, a pindaíba orçamentária deixada pelo antecessor não é fácil de administrar, a gula por verbas públicas do Centrão continua a mesma e o antipetismo que estava adormecido volta a se manifestar. Por mais incerto que seja o futuro, no entanto, é impossível não sentir alívio quando se prepara para deixar o poder o presidente que tantos males causou ao país.
A mudança que nesse momento esvazia o Alvorada e o Palácio do Planalto não levará apenas peças decorativas de péssimo gosto, como a estátua de Bolsonaro de madeira ou o emblema de um partido natimorto confeccionado com balas de fuzil. A bagagem terá bem mais que as caixas de cloroquina e os chinelos Raider — que um dia o presidente ousou combinar com meias, camisa do Palmeiras e paletó.
Quando os caminhões de mudança fizerem sua última viagem, o governo do Brasil estará finalmente livre do personagem que instilou ódio na cena política nacional, que tratou adversários políticos como inimigos a serem exterminados e que incentivou nos brasileiros homofobia, racismo, misoginia e tantos outros sentimentos abjetos.
O bolsonarismo, como se vê à porta dos quartéis, não desaparecerá apenas porque Bolsonaro vai deixar de ser presidente. Mas o primeiro passo para voltar à institucionalidade é não ter no posto mais alto da política do país alguém como ele, completamente isento de empatia e compaixão, adorador das armas, que não dá a mínima importância para assuntos fundamentais, como a preservação do meio ambiente.
Era de se esperar que a trégua concedida a Lula por parte dos empresários, banqueiros e imprensa terminasse assim que o perigo da reeleição de Bolsonaro fosse afastado. Como na música "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque, boa parte daqueles que o elogiavam há dois meses já fazem piadas e críticas ferozes ao governo que nem começou.
Antes de esquentar a cabeça com as dificuldades que são inerentes à democracia, porém, é preciso respirar um pouco. Lembremos que o país se livrou de um projeto de poder que instalaria por aqui uma autocracia.
Em meio à discussão sobre ocupação de ministérios, negociação da PEC da Transição e debates sobre a futura política econômica, a imagem do caminhão de mudança na porta do Alvorada trouxe um refresco necessário para esse fim de ano. Vamos desfrutar.
Finalmente, como diz a música que embalou a campanha petista, "tá na hora do Jair já ir embora".
Ufa.
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