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Com a Copa, Qatar conseguiu fazer mundo esquecer que é uma ditadura
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A espetacular final da Copa do Mundo de 2022, em que a Argentina se tornou campeã na cobrança de pênaltis, após empate de 3 a 3 com a França, foi a cereja do bolo no projeto desenhado pelo governo do Qatar. Durante um mês, os olhos do mundo estiveram voltados para o país. Como costuma acontecer nos torneios mundiais de seleções, os lances sensacionais, as jogadas dos craques, as zebras, as vitórias e derrotas catalisaram espectadores de todo planeta.
A não ser pela proibição da prometida venda de cerveja nos estádios e uma ou outra reportagem esparsa, as mazelas quase não apareceram. E não são poucas.
A Copa foi organizada no Qatar ao custo de US$ 220 bilhões justamente para que todos esqueçam que aquele é um emirado absolutista governado fora das regras da Constituição, um país em que partidos políticos não são permitidos e a última eleição foi realizada em 1970. É uma ditadura.
Até que as seleções começassem a jogar, as principais referências do país eram quanto à desigualdade absurda de um recanto do Oriente Médio em que a elite mais rica de todas convive no mesmo espaço que uma população que sobrevive em condições paupérrimas.
No Qatar vigoram a censura à imprensa, a perseguição à comunidade LGBTQI, a limitação dos direitos das mulheres e os maus tratos aos trabalhadores migrantes, expostos a temperaturas extremas e com baixos salários.
Não é justo permitir que a imagem do sorridente emir Tamim bin Hamad bin Khalifa Al-Than, que estava no pódio ao lado do lendário Lionel Messi e do presidente da Fifa, Gianni Infantino, se sobreponha aos horrores de seu governo.
Enquanto milhares de torcedores que estiveram na Copa retornam às suas casas e os atletas voltam para seus clubes, o Qatar retoma a vida normal.
Longe do alcance das câmeras e microfones da imprensa internacional, o país não terá mais o clima festivo.
Para a população mais pobre, para os jornalistas locais, para os gays e para as mulheres, o Qatar volta a ser a ditadura de sempre.
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