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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fim do consórcio de imprensa indica que o Brasil vai voltando ao normal

Odára Matias é voluntária em vacinação depois que avó morreu de covid, no RJ - Divulgação/Helga Pitta
Odára Matias é voluntária em vacinação depois que avó morreu de covid, no RJ Imagem: Divulgação/Helga Pitta

Colunista do UOL

30/01/2023 04h00

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Depois de quase três anos de funcionamento, foi extinto no sábado (28) o consórcio de imprensa que, no auge da pandemia, tornou-se a principal fonte de informação sobre a ocorrência de casos e mortes por covid-19. Em mobilização histórica, UOL, Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, G1, O Globo e Extra, veículos de comunicação concorrentes, se uniram para oferecer à população e aos gestores de saúde dados confiáveis sobre a contaminação e as perdas causadas pelo coronavírus.

Mergulhados na saraivada de fatos absurdos que marcam esses dias — da tentativa de golpe de Estado ao abandono dos yanomamis de Roraima —, talvez não tenhamos dado a esse fato a devida importância.

Aqueles que no futuro estudarem os fatos contemporâneos possivelmente vão identificar esse episódio como um dos mais ilustrativos da distopia negacionista que o Brasil viveu em meio à trágica pandemia.

Para começar, é preciso lembrar o motivo insólito pelo qual o consórcio foi criado.

Em situação de tamanha gravidade, quando deveria fazer todos os esforços para colher e compartilhar dados detalhados sobre a doença, o governo de Jair Bolsonaro fez justamente o inverso. Primeiro promoveu um apagão e depois bagunçou os números de casos e mortes enviados pelas secretarias estaduais de Saúde.

Levando-se em conta que a epidemiologia e a infectologia precisam de informações exatas para funcionar, e que também as campanhas de vacinação são baseadas na mesma matéria-prima, tal sabotagem pode ser considerada um crime. Quantas mortes esse apagão terá causado? Difícil determinar.

O gesto cruel pode ser resumido da seguinte forma: para tentar esconder a gravidade do que acontecia, o governo do Brasil colaborou deliberadamente para a disseminação dos males da covid-19.

Foi aí que os veículos de comunicação criaram o consórcio de imprensa. Por 965 dias, esse instrumento serviu para mostrar aos brasileiros o que a equipe de Bolsonaro queria ocultar.

Assim como a criação do consórcio era indício de uma gigantesca anomalia governamental, o encerramento de suas atividades indica que, apesar de a pandemia não ter chegado ao fim, as coisas no Brasil estão voltando à normalidade.

Saber que o governo retoma as suas responsabilidades em uma área tão crucial não deveria ser motivo de comemoração.

Mas depois do negacionista Bolsonaro e seus dois últimos ministros da Saúde, em especial Eduardo Pazuello, retomar a rotina já é algo a ser louvado.

Que o Poder Público possa avançar para dar ao povo não o atendimento mínimo, mas o atendimento máximo.

Cobrar que isso se torne realidade é a melhor contribuição que os veículos jornalísticos poderão dar a partir de agora.

O consórcio acabou, mas a imprensa continuará fiscalizando a atuação das autoridades de saúde, como sempre fez.

A partir de agora, ao menos se sabe que o governo estará tentando agir a favor da população, não contra ela — como absurdamente fez a gestão de Jair Bolsonaro.