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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lavajatismo envergonhado finge que não vê fake news absurda de Dallagnol

Deltan Dallagnol - Marcelo Frazão / Agência Brasil
Deltan Dallagnol Imagem: Marcelo Frazão / Agência Brasil

Colunista do UOL

26/04/2023 09h24

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A operação Lava Jato não existe mais nos moldes de antes, aquele festival de abusos jurídicos e exibicionismo midiático, mas o lavajatismo envergonhado persiste. É representado por uma turma da política e de parte da imprensa que costuma ser implacável com os erros dos políticos — do governo Lula, em especial —, mas passa pano e dá credibilidade às barbaridades praticadas pelo senador Sergio Moro (União-PR) e pelo deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), criadores da República de Curitiba.

Desde que a Vaza Jato tornou públicas as arbitrariedades cometidas pela força-tarefa do Ministério Público Federal do Paraná e pelo ex-juiz até então visto como herói anticorrupção, os tietes da Lava Jato submergiram. Tornaram-se mais discretos, mas mantêm a mesma prática de tentar criminalizar a política e dar importância desmedida aos ataques proferidos por Moro e Dallagnol (que agem como se não fossem políticos).

Tentam ignorar que ambos foram desmascarados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou várias sentenças resultantes da parceria ilegal entre acusadores e magistrado.

O lavajatismo envergonhado age também para minimizar as barbaridades que ainda hoje praticam Moro e Dallagnol.

Não deram um pio, por exemplo, sobre a exploração polítiqueira feita pelo ex-juiz quando seu nome apareceu na lista de alvos do PCC, ao vangloriar-se de um feito (transferência dos presos da facção para presídio federal) que na verdade se deve ao trabalho do promotor Lincoln Gakiya. Ou sobre a aliança oportunista que fez com Jair Bolsonaro, a quem tanto criticou, para conseguir votos bolsonaristas que o levaram ao Senado.

Quanto a Dallagnol, as viúvas da Lava Jato — que adoram acusar outros de bajulação —, não sentem o rosto corar por justificarem ou simplesmente fingirem que não enxergam as barbaridades do ex-procurador.

A mais recente delas foi divulgada para reforçar sua campanha contra o PL das Fake News, que ontem a Câmara decidiu fazer tramitar em regime de urgência. No tuíte que publicou, Dallagnol teve a cara de pau de dizer que "até a fé será censurada se nós não impedirmos a aprovação do PL". Abaixo do texto, estampou um panfleto em que aprofunda a cascata. "Atenção cristãos, alguns versículos serão banidos das redes sociais", está escrito.

Entre os trechos bíblicos que o mentiroso deputado diz que seriam excluídos, está Colossenses 3;18: "Vós, mulheres, estais sujeitas ao vosso marido, como convém no Senhor". Também relaciona Efésios 5;22-24, onde se afirma que "o marido é a cabeça da mulher, assim como Cristo é a cabeça da igreja", com a seguinte conclusão: "sujeitai-vos a vosso próprio marido". Cita mais quatro versículos.

Obviamente, nada disso consta do Projeto de Lei que trata das fake news. Por causa da lorota, Dallagnol poderá ser levado ao Conselho de Ética da Câmara, como reivindicam alguns deputados.

A postagem do ex-procurador é grave por vários motivos, mas especialmente porque usa a mentira para manipular os adeptos da fé evangélica. A mistura de religião e política é golpe baixo e já foi muito além do tolerável no Brasil, como se pôde constatar na última eleição presidencial.

Isso para não dizer que fake news não deveriam fazer parte da conduta de alguém que se diz cristão fervoroso.

Outro aspecto preocupante é constatar o tipo de personagem que por tantos anos foi cantado em verso e prosa como herói anticorrupção do país.

Que parte dos políticos e da imprensa continue a apoiar os delírios do homem do Power Point, seja com concordância explícita ou por abster-se de criticá-lo, talvez diga mais sobre os apoiadores do que sobre Dallagnol.

Sua verdadeira índole tem-se revelado diariamente, a cada pronunciamento, postagem ou vídeo que publica nas redes sociais.

Já o lavajatismo envergonhado segue camuflado. Somente em momentos cruciais aparece de esfregão em punho, para lustrar as palavras e atos de Dallagnol e Moro, conferindo-lhes a relevância que não têm.

No entanto, tem sido cada vez mais fácil identificar os integrantes desse grupo. São aqueles que invariavelmente acusam os adversários daquilo que é sua especialidade: passar pano.