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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Farra eleitoreira na Caixa abre a maior brecha para punição de Bolsonaro

Pedro Guimarães ri com Jair Bolsonaro durante evento - Antonio Cruz/Agência Brasil
Pedro Guimarães ri com Jair Bolsonaro durante evento Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Colunista do UOL

29/05/2023 10h20

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Não é segredo para ninguém que Jair Bolsonaro colocou os cofres públicos a serviço de sua tentativa de reeleição a presidente. Em plena campanha, aprovou aumento de R$ 200 no Auxílio Brasil que valeria até a eleição (uma despesa de R$ 40 bilhões); concedeu R$ 5,4 bilhões em voucher para caminhoneiros; deu auxílio a taxistas; ampliou o Vale-Gás e, além de várias outras "bondades", teve apoio de um batalhão de deputados que se beneficiaram dos recursos estratosféricos do chamado orçamento secreto.

Em todas essas iniciativas eleitoreiras, a equipe do governo anterior tomou o cuidado de pedir permissão ao Congresso - como foi o caso do aumento do Auxílio Brasil em ano eleitoral - ou de esconder suas verdadeiras intenções atrás de minúcias técnicas. Assim, fica mais difícil a investigadores e ao Judiciário imputar a culpa.

Esse não é, porém, o caso do calote arquitetado com requintes de crueldade pela equipe de Bolsonaro na Caixa. A reportagem que a jornalista Amanda Rossi publica hoje no UOL revela a forma irresponsável como o presidente da instituição, Pedro Guimarães, determinou a liberação de R$ 10,6 bilhões de crédito para 6,8 milhões de pessoas até a eleição.

Um terço desse valor foi destinado a pessoas com nome sujo na praça, o que resultou em 80% de inadimplência.

O restante foi para empréstimos consignados a beneficiários do Auxílio Brasil, cujo valor era de R$ 600. Não por acaso, 99% desse crédito foi concedido entre o primeiro e o segundo turnos da eleição. Do total de tomadores, 104 mil foram excluídos por inconsistência na renda informada ou desatualização no cadastro.

O calote resultante dessa tentativa de compra do eleitor sobrou, obviamente, para a Caixa.

Por causa disso, informa a matéria, o banco chegou ao fim de 2022 com o menor volume de reservas em 162 anos de existência.

Esses números mostram mais do que a utilização da Caixa para a tentativa de reeleição de Bolsonaro. Revelam também o pouco apreço que o ex-presidente e sua equipe de governo tinham pelo país, já que essa barbeiragem colocou em risco a instituição garantidora de vários benefícios dos trabalhadores brasileiros.

Uma estranha forma de patriotismo, essa.

Se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já tinha elementos bastante concretos para uma punição severa, agora é possível dizer que a inelegibilidade de Bolsonaro passa a ser questão de tempo. Além disso, o ex-presidente e seu cúmplice, Pedro Guimarães, devem ser julgados também em outras instâncias que não a eleitoral, por crime contra a economia.

Mais esse episódio escabroso do bolsonarismo confirma a necessidade de que a Justiça Eleitoral seja mais célere, que tenha instrumentos para determinar investigações praticamente em tempo real.

Durante a temporada de caça ao voto, justiça tardia é justiça falha.

Se Bolsonaro tivesse vencido a eleição, o TSE continuaria com as condições de fazer valer a justiça em um mandato que se prenunciava com marcas ainda mais fortes de autoritarismo?

Para o bem da democracia, Bolsonaro perdeu a eleição.

Mas que as lições da farra com recursos públicos na última campanha sejam aprendidas e rendam medidas concretas para 2024.