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Diogo Schelp

Disputa por maioria no Senado inibe republicanos de reconhecer Biden

O presidente americano Donald Trump e o presidente eleito Joe Biden - Jonathan Ernst e Brian Snyder/Reuters
O presidente americano Donald Trump e o presidente eleito Joe Biden Imagem: Jonathan Ernst e Brian Snyder/Reuters

Colunista do UOL

13/11/2020 12h16

A essa altura da apuração dos votos nos Estados Unidos, já está mais do que claro que é matematicamente impossível que o presidente Donald Trump consiga reverter o resultado que elege o democrata Joe Biden como o próximo ocupante da Casa Branca. Os recursos na Justiça feitos pela campanha de Trump exigindo recontagem teriam que apontar erros gritantes demais e em mais de um estado decisivo para desfazer a derrota do republicano.

Diante desse cenário sem volta, só o Brasil, o México, a Rússia e as principais lideranças do Partido Republicano, com algumas exceções, não reconhecem ainda a vitória de Biden. A posição dos três países se explica pela idiossincrasia de seus líderes populistas. Mas por que raios os republicanos, que conhecem as regras e sabem que a briga de Trump para ficar no cargo não tem futuro, estão em silêncio, alimentando o clima de incerteza?

Uma das principais explicações é o estado da Georgia, onde, com 99% dos votos contados, Biden supera Trump com uma margem estreita de 14.000 votos, mas a disputa para duas vagas no Senado se mantém indefinida. No dia 5 de janeiro, os moradores da Georgia terão de retornar às urnas para um segundo turno da disputa para o Senado.

O resultado será decisivo para definir qual partido terá maioria no Senado durante a gestão Biden (a Câmara dos Representantes permanecerá sob controle democrata). Se Jon Ossoff e Raphael Warnock, do Partido Democrata, vencerem, o Senado ficará dividido, com 50 democratas e 50 republicanos. Nesse caso, a vice-presidente Kamala Harris terá o voto de minerva, o que equivale a uma maioria efetiva dos democratas sobre as duas casas legislativas.

Basta, porém, que um dos dois candidatos republicanos, David Perdue e Kelly Loeffler, se eleja para uma das duas vagas da Georgia para que o partido de Trump mantenha o controle do Senado, na proporção de 51 para 49.

E o que isso tem a ver com reconhecer ou não a vitória de Biden? A explicação é que, para Perdue e Loeffler vencerem, o Partido Republicano precisa que seus eleitores estejam engajados para comparecer às urnas no início de janeiro.

As lideranças da legenda temem que reconhecer a derrota para a presidência frustre as expectativas dos eleitores republicanos da Georgia, muitos dos quais acreditam no discurso de Trump de que a eleição foi fraudada. Além disso, as chances de Perdue e Loeffler aumentariam se Trump entrasse na campanha no estado e pedisse votos para eles — algo que o presidente se negará a fazer se o Partido Republicano refutar seus esforços insistentes em provar que é o verdadeiro vencedor das eleições presidenciais.

Manter a maioria no Senado é uma questão estratégica para o Partido Republicano, principalmente com a confirmação de que o próximo presidente será o democrata Joe Biden. Manter-se no jogo como uma oposição forte é essencial para aumentar as chances de os republicanos voltarem a eleger um presidente daqui a quatro anos (Biden não descarta buscar a reeleição, mas muitos analistas consideram isso improvável, pois ele terminará o primeiro mandato com 82 anos de idade).

Eis, portanto, mais uma maneira pela qual Trump tornou o Partido Republicano refém de sua recusa em aceitar a derrota eleitoral.