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Pandemia reduziu em 60% coleta de recicláveis por catadores, diz associação
O setor de reciclagem de resíduos sólidos no Brasil enfrenta uma situação paradoxal.
Se por um lado a pandemia ampliou o uso de embalagens, principalmente por causa do comércio eletrônico e dos serviços de delivery, por outro resultou em uma drástica redução no volume de material reciclável que foi recuperado por catadores autônomos ou de cooperativas.
Com isso, uma maior quantidade de lixo que poderia ter sido reaproveitado foi parar em aterros sanitários.
Segundo estimativa de Roberto Laureano da Rocha, presidente da Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), o total de material repassado pelas cooperativas para a indústria da reciclagem nos últimos doze meses foi 60% menor do que no período anterior.
A redução se deve principalmente ao fato de que as cooperativas de catadores precisaram suspender suas atividades durante os períodos de maior rigor nas medidas de isolamento social. Os catadores são responsáveis por 90% da reciclagem no Brasil.
O próprio trabalho de triagem do material tornou-se mais complexo. Muitas cooperativas tiveram que aumentar a distância entre os trabalhadores nas esteiras ou mesas de separação, reduzindo assim o número de trabalhadores por turno.
"O tempo para o manuseio dos materiais também se tornou mais demorado, em algumas situações exigindo até colocá-los em 'quarentena' antes de serem selecionados", explica Dione Manetti, diretor da Pragma Soluções Sustentáveis, empresa com sede em Brasília que atua em projetos de logística reversa em parceria com 71 cooperativas em todos os estados da federação.
Com o abre e fecha das atividades das cooperativas, a indústria da reciclagem passou a ter dificuldade para suprir sua demanda por matéria-prima. Os preços dispararam. "O quilo de ferro para reciclagem passou de cerca de R$ 0,20 para até R$ 1,20, o papelão de R$ 0,50 para R$ 2,00 e a garrafa pet de R$ 0,60 para mais de R$ 2,50 por quilo", diz Rocha, da Ancat, associação que tem 85.000 catadores cadastrados e que representa cerca de 700 cooperativas em todo o país.
Sem poder trabalhar, os catadores cooperados também enfrentaram dificuldades sérias para se sustentar. A categoria foi uma das que foram excluídas do auxílio emergencial pago pelo governo federal, após veto do presidente Jair Bolsonaro, em abril de 2020.
Para compensar parte da renda perdida, empresas e entidades criaram programas alternativos de auxílio, como os vales-alimentação para 9.300 catadores fornecidos pela operadora Sodexo e a distribuição de cestas básicas por empresas que dependem das cooperativas para cumprir suas metas de logística reversa.
Logística reversa consiste em recuperar ou reutilizar parte das embalagens pós-consumo e outros materiais em reciclagem ou geração de energia. Está relacionada à Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, estabeleceu a gestão adequada desses materiais pelas empresas no Brasil.
Para cumprir suas metas de logística reversa, muitas empresas estabelecem parcerias com as cooperativas, que recebem investimentos proporcionais ao volume de material recuperado.
"Esses investimentos em equipamentos e projetos melhoram a produtividade das cooperativas, o que por vezes chega a elevar a renda dos catadores em 30%", diz Manetti, da Pragma, cujos projetos de logística reversa no último ano também incluíram apoio financeiro para reduzir os impactos da pandemia no sustento dos trabalhadores.
Além da paralisação temporária das atividades das cooperativas de catadores e do aumento no consumo de embalagens, um terceiro fator relacionado à pandemia contribuiu para bagunçar o setor de coleta seletiva. "A população mudou seus hábitos, deixando de tomar certos cuidados na separação do lixo porque não sabe mais com segurança quando os catadores vão passar para fazer a coleta", afirma Rocha.
Além disso, por falta de informação adequada, muitos moradores têm descartado máscaras e luvas cirúrgicas em meio ao lixo reciclável, colocando em risco a saúde dos catadores.
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