Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
CPI: Queiroga, ministro equilibrista, prova que não tem autonomia no cargo
O segundo depoimento de Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, à CPI da Covid no Senado foi, mais uma vez, cheio de contradições. Não poderia ser diferente, pois se trata de um ministro equilibrista: seu cargo é uma corda bamba e, para não cair, Queiroga precisa mostrar resultados no combate à pandemia ao mesmo tempo em que evita contrariar o presidente Jair Bolsonaro, justamente a pessoa neste país que mais atrapalha o combate à pandemia.
A nova convocação de Queiroga, como já se imaginava, acrescentou poucas informações relevantes para a investigação das ações e omissões do governo federal que agravaram a pandemia de covid-19.
Mas serviu para deixar ainda mais evidente que, embora diga o contrário, Queiroga não tem autonomia no cargo para fazer o que é certo e necessário para conter a pandemia e evitar a morte de brasileiros.
Ele foi menos evasivo dessa vez, por exemplo, quanto à sua posição a respeito do uso dos medicamentos do chamado "tratamento precoce", que Bolsonaro e seu gabinete paralelo de médicos obscuros defendem com tanto ardor. Queiroga deixou claro que não há evidências de que esses remédios funcionem contra a doença e que esse assunto já deveria estar "pacificado" — ou seja, não se deveria nem falar mais nisso.
Também foi mais enfático em defender as medidas não farmacológicas para evitar a proliferação do vírus, o que obviamente inclui as restrições de circulação e outras políticas duras que governadores e prefeitos se veem obrigados a adotar, apesar da oposição do presidente.
Queiroga não diz para Bolsonaro parar de promover aglomerações e para usar máscaras em público?, perguntaram os senadores. Ele garante que sim, mas que não pode "censurar" o presidente por não o atender.
A respeito da infectologista Luana Araújo, que ele havia escolhido para chefiar uma secretaria criada no ministério exclusivamente para coordenar o combate à covid-19, Queiroga garante que partiu dele a decisão de não a efetivar no cargo, apesar de dizer que ela possuía as qualidades técnicas para tanto.
A ordem não teria partido do Palácio do Planalto, afirmou o ministro, dando a entender que ele concluiu sozinho, sem ordens superiores, que a efetivação da infectologista — a única do ministério — no cargo não seria bem recebida politicamente.
Quando um funcionário toma uma decisão errada ou mais rígida do que o necessário, pensando ser do agrado do chefe, sem consultá-lo, diz-se que ele foi "mais realista que o rei".
Obviamente, não é o caso aqui. Queiroga dispensou a doutora Araújo, que pensa como ele em questões como cloroquina, testagem e isolamento social, e manteve no ministério outra secretária, Mayra Pinheiro, a capitã cloroquina, que além de tudo segue dando entrevistas defendendo o desacreditado "tratamento precoce" e outras ideias do gabinete paralelo.
A autonomia de Queiroga no cargo não passa de uma falácia.
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