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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Polarizar com Barroso e Moraes é estratégia eleitoral de Bolsonaro

13.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro e o ministro do STF Luís Roberto Barroso se cumprimentam usando os cotovelos - Marcos Corrêa/PR
13.mai.2020 - O presidente Jair Bolsonaro e o ministro do STF Luís Roberto Barroso se cumprimentam usando os cotovelos Imagem: Marcos Corrêa/PR

Colunista do UOL

16/08/2021 15h11

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Depois da prisão de Roberto Jefferson, na sexta-feira 13, antecipei nesta coluna que o bolsonarismo redobraria "a aposta na retórica antissistema, focada em Barroso e Moraes, enquanto reabilita o sistema na prática".

No dia seguinte, Jair Bolsonaro anunciou que pedirá o impeachment de Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, deixando a claque bolsonarista em polvorosa nas redes sociais e nas emissoras que aumentam seu faturamento de verbas federais bajulando o governo.

Depois, Bolsonaro disparou pelo WhatsApp uma convocação às ruas, destinada a mostrar que ele e as Forças Armadas têm apoio para uma ruptura institucional, tratada como "contragolpe", "diante do grave avanço do golpe", "perpetrado pelo Poder Judiciário, esquerda e todo um aparato, inclusive internacional, de interesses escusos".

Entre meu artigo "A função do reacionarismo aloprado" e as mensagens do presidente, ainda veio à tona que Hamilton Mourão havia encontrado com Barroso na terça 10 e descartado qualquer possibilidade de golpe militar, o que irritou Bolsonaro, que mal cumprimentou o vice no mesmo sábado 14, durante a formatura dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras.

Ministros do STF viram a reação do presidente contra Barroso e Moraes como "apenas mais uma forma de ataque retórico contra as instituições", com "chances mínimas" de prosperar; enquanto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, "quer esfriar a tentativa" de Bolsonaro "de incendiar a relação entre as instituições" e pretende, como esta coluna mostrou que Arthur Lira faz na Câmara, posicionar o Legislativo como o Poder "moderador", para evitar o que senadores já chamam de "circo".

Embora haja discussões nos bastidores do Exército, do Supremo e do Congresso sobre os melhores procedimentos a serem adotados para lidar com cada situação provocada pelo presidente e por seus aliados beligerantes, todos já estão mais ou menos conscientes de seu papel no picadeiro, ao contrário dos crentes em cada "nós contra eles" explorado pela família das rachadinhas, que posa de valente contra o Judiciário, mas sabotou a CPI da Lava Toga para garantir aliança com Dias Toffoli pela impunidade.

Nada é mais ilustrativo dessa frente ampla, aliás, que a campanha agora feita por José Dirceu, ex-chefe de Toffoli na Casa Civil do governo Lula, a favor do segundo indicado de Bolsonaro ao STF, André Mendonça, ex-subalterno de Toffoli na AGU e organizador de livro em homenagem aos dez anos do ministro na Corte. O mensaleiro petista condenado no petrolão e solto duas vezes com votos de Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes tenta garantir apoio dos senadores do PT pela aprovação de Mendonça.

Curiosamente, os dois ministros que Bolsonaro diz querer 'impichar' do STF votaram a favor da prisão em 2ª instância no julgamento que a derrubou e resultou na soltura de Lula. Depois, o mesmo Bolsonaro que mandou apagar de seu Twitter a defesa da medida indicou Kássio Nunes Marques, cuja sorrateira posição é contra a prisão "automática" em 2ª instância - tema a ser providencialmente esquecido pelo plenário. Desde Sergio Moro, o presidente só confronta quem não ajuda sua patota a ficar impune. Com Toffoli ("por muitas vezes em decisões monocráticas Vossa Excelência muito bem nos atendeu") e Gilmar ("homem que, por vezes que o Executivo precisou, não se furtou de dar seu voto em prol do Brasil"), tem até abraço e cafezinho.

Enquanto Ciro Nogueira tenta convencer Pacheco a minimizar os danos causados pela CPI da Pandemia, o delatado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara e alvo da comissão, confessa que insistir na pressão pelo voto impresso, mesmo após a derrota em duas votações, "é bom eleitoralmente" para Bolsonaro, "que tem que tocar o seu jogo também". "Nós estamos num momento de formar opinião pública, ganhar adesão. E o discurso da transparência nas eleições é aderente à população e fortalece o presidente", alegou Barros, culpando preventivamente Barroso por qualquer tumulto em 2022: "isso é uma possibilidade que o TSE deveria ter ponderado quando quis mostrar força, pressionando os partidos para vencer a votação no Congresso".

Em resumo, a estratégia eleitoral de Bolsonaro consiste em polarizar com Barroso e Moraes, colando a própria imagem na das Forças Armadas - como o presidente voltou a fazer na Operação Formosa, com transmissão da EBC - e deixando no ar a hipótese intimidatória de intervenção militar, sempre narrada como reação legítima a um golpe alheio anterior, já que o bolsonarismo terceiriza suas responsabilidades e não admite derrotas antes, durante, nem depois.

Tudo isso para manter um discurso plebiscitário contra o sistema do qual faz parte e encobrir o desastre moral, sanitário e econômico do governo.

Só trouxa cai.