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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro é um enviado do Centrão, não de Deus

Colunista do UOL

10/08/2022 08h33

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Comentei na Live UOL de segunda-feira (8) o discurso de Michelle Bolsonaro, em evento religioso, no qual ela afirmou que o "Planalto já foi consagrado a demônios".

"Podem me chamar de louca, podem me chamar de fanática: eu vou continuar louvando nosso Deus, vou continuar orando", disse ela, ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL), na Igreja Batista Lagoinha, na capital mineira, onde, curiosamente, Guilherme de Pádua, que matou a atriz Daniela Perez a tesouradas, virou pastor.

"Vou continuar orando e intercedendo em todos os lugares porque, por muito tempo, aquele lugar foi um lugar consagrado a demônios. Cozinha consagrada a demônios, Planalto consagrado a demônios e hoje consagrado ao senhor Jesus. Ali, eu sempre falo, e falo para ele [Bolsonaro], quando eu entro na sala dele e olho para ele: essa cadeira é do presidente maior, é do rei que governa essa nação", afirmou a primeira-dama.

Com a presença frequente em cultos evangélicos, Bolsonaro, que se disse em "missão de Deus", e Michelle, que vem tratando o marido como "enviado de Deus" na "luta do bem contra o mal", afetam preocupação com um segmento tratado com arrogância pela esquerda, mas desvirtuam a tradição cristã, apelando ao maniqueísmo, originalmente combatido por Santo Agostinho, e ao messianismo, que atribui ao presidente um papel análogo ao de Jesus, como método de explorar a fé alheia para fins eleitorais.

A apropriação política de discursos pretensamente religiosos não é sintoma de fanatismo religioso, mas, sim, de cinismo político.

Tanto Bolsonaro, como mostrei aqui, quanto a primeira-dama que recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz em sua conta têm um histórico de atos individuais que contradizem a retórica explorada pelo casal - e é fundamental que os eleitores evangélicos questionem quem quer que tenha um discurso sem correspondência prática com aquilo que o segmento acredita.

Na Live UOL, falamos também sobre o discurso eleitoreiro do presidente a banqueiros, em São Paulo; sobre os ataques ao ex-juiz Sergio Moro e sobre os debates realizados com os candidatos aos governos de São Paulo e Rio de Janeiro.

Com Madeleine Lacsko, debato os principais assuntos do país diariamente, das 17h às 18h, com transmissão ao vivo nos perfis do UOL no YouTube, no Facebook e no Twitter.