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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A politização de tudo acaba em selvageria

O Jair Bolsonaro ao chegar para a cerimônia de comemoração do Dia Nacional do Voluntário no Palácio do Planalto, em Brasília - GABRIELA BILÓ/Estadão Conteúdo
O Jair Bolsonaro ao chegar para a cerimônia de comemoração do Dia Nacional do Voluntário no Palácio do Planalto, em Brasília Imagem: GABRIELA BILÓ/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

28/11/2022 21h48Atualizada em 28/11/2022 21h51

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Reúno aqui na coluna minhas respostas a perguntas feitas por leitores:

"Acha que Simone Tebet pode ser a liderança que vai invalidar os extremos em 2026?"

Lula e PT, como Jair Bolsonaro, só transferem poder a quem não é de seu núcleo raiz em caso de extrema necessidade para eles próprios.

Quem apoiou Lula em nome de "frente ampla", ou Bolsonaro para acenar a antipetistas, precisará superar a sabotagem de cada um para se impor como alternativa eleitoral.

"Comente o fim humilhante e constrangedor do bolsonarismo."

O bolsonarismo não acabou.

Seu núcleo de comando apenas se voltou para a bolha virtual, explorando a credulidade e o inconformismo de pessoas ingênuas e radicalizadas, que não leem nada mais longo que sínteses enganosas de WhatsApp e postagens igualmente rasteiras de mercenários em busca de engajamento, inclusive dos EUA.

Com isso, eles mantêm uma base mobilizada em portas de quarteis e estradas, com o objetivo confessado por Frederick Wassef de garantir a blindagem de Bolsonaro, seus filhos e entorno.

O golpismo permanente afasta, claro, o eleitorado moderado ou independente, que eles novamente sonham em reconquistar lá na frente com a força do antipetismo não golpista.

Em 2022, não deu certo.

"Qual é o seu maior desafio como jornalista nos tempos atuais do Brasil?"

Sigo cumprindo o que falei no Twitter em 10/11/2019:

"Jornalistas e intelectuais que não aderiram à militância petista ou chapa-branca terão seu maior desafio com conflagração resultante da soltura de Lula durante governo Bolsonaro: a coragem de expor e analisar, com senso de proporções, fatos incômodos dos 2 lados, doa a quem doer."

Existem, por exemplo, abusos de Moraes, Lula, Bolsonaro e outros.

Nem todos os atos de cada um, porém, são abusivos.

A premissa dos ativistas de cada lado é que você deve repudiar todos os atos do lado contrário e relevar os abusos do lado deles.

Se você aponta um ato não abusivo dos alegados inimigos ou um ato abusivo dos políticos de estimação, eles associam você ao outro lado, fingindo que jamais aponta seus abusos.

Todas essas premissas têm de ser contestadas, porque elas são sintomas de cinismo e irracionalidade.

"Você é de direita ou de esquerda?"

Sou um jornalista independente, de temperamento conservador, o que nada tem a ver com a usurpação bolsonarista dessa tradição.

O conservadorismo é uma reação, fundada no realismo e guiada pela virtude da prudência, a diferentes ideologias, sejam elas de direita ou de esquerda, de modo a evitar rupturas no tecido social e garantir continuidade histórica.

Ele pressupõe uma postura crítica às teorias abstratas defendidas pelos ideólogos e, atualmente, difundidas pelas redes sociais e pelo zap.

Lembro meu artigo "Mais Burke, menos Lula e Bolsonaro", que começa assim:

"O expediente comum entre petistas e bolsonaristas de associar aos rivais quem não segue a visão estreita de seus respectivos grupos não é novidade.

O dualismo é endêmico de tal modo na história humana que até o pensador irlandês e pai do conservadorismo, Edmund Burke(1729-1797), então atuante no Parlamento britânico, foi acusado de traição?" - leia a íntegra: aqui.

"O seu segredo para ficar frio com tanta pressão e ameaças batendo nos dois populistas todos os dias?"

São eles que se incomodam com a verdade, não eu.

"Felipe, eu odiava qualquer pessoa que falasse mal do Lula. Mas sua coerência me fez ser mais racional."

Obrigado.

Muitos pensam que não, mas o jornalismo independente fura bolhas de irracionalidade.

Falo mal dos males.

Não é culpa minha se populistas patrimonialistas, com retórica de esquerda ou direita, incorrem neles.

"Por que desdenhar de patriotas que simplesmente não querem um chefe de quadrilha como presidente?"

Não querer um alegado quadrilheiro como presidente é absolutamente legítimo, seja beneficiário de propinas ou usuário de funcionários fantasmas.

Incitar golpe de Estado, bloquear estrada e apelar para litigância de má-fé sem qualquer prova de fraude eleitoral, não.

Ser patriota exige a capacidade cognitiva e moral de fazer essas distinções básicas.

"Por que brasileiro gosta de idolatrar político? Político tem que ser cobrado e não idolatrado!"

O caminho menos trabalhoso para sinalizar virtude é aderir a um movimento de massa.

"Bolsonarismo sem a máquina publica tende a diminuir?"

A perspectiva de financiamento da propaganda bolsonarista já diminuiu, como mostra o reposicionamento da emissora do regime.

O resto vai depender da postura dos empresários diante do governo Lula, dos processos envolvendo a família Bolsonaro e da capacidade de formação de novas lideranças antipetistas.

"Por que pessoas se orgulham de se informar pelos microfones amestrados!?"

Elas não buscam informação e análise, mas, sim, viés de confirmação a suas paixões e ódios, que são precisamente os focos da propaganda populista.

Elas têm tanto pavor de reconhecer que estão sendo enganadas que precisam se alimentar diariamente em bolhas alienantes, exaltando seus propagandistas, enquanto negam a realidade.

"Os 'Bolso-Humoristas' da rádio do governo não te esquecem."

Ao longo da história, os chamados intelectuais orgânicos sempre atacaram os jornalistas independentes, que recusaram as vantagens do poder de turno.

Subcelebridades orgânicas não poderiam ser diferentes.

Vão continuar manifestando seu recalque.

"Sobre as ofensas gratuita ao Gilberto Gil, os extremistas estão passando do limite."

A estupidez bolsonarista contra Gilberto Gil no Qatar e a estupidez lulista contra Kim Kataguiri na Unifesp são sintomas da selvageria causada pelo duelo entre populistas patrimonialistas, com suas claques beligerantes.

"Politizar esse assunto do Neymar é sacanagem?"

Todo jogador tem liberdade de expressar suas preferências políticas, mas nenhum deles deveria ter prometido homenagear um político em caso de gol em Copa do Mundo.

Isso divide o povo em momento de união.

Celebrar contusão de jogador por razões políticas, porém, é uma reação sádica, que merece o repúdio geral da sociedade.

A politização de tudo acaba em selvageria.