Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Negacionismo e revanchismo marcam retomada de eventos públicos de Trump
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Poderia ser 2016, mas é 2021. Donald Trump retomou, nos Estados Unidos, sua agenda de comícios e eventos públicos. O ex-presidente escolheu Wellington, em Ohio, para iniciar uma sequência de atividades presenciais que deve se entender para diversos outros estados e regiões nos próximos meses.
Banido das redes sociais, que constituíam sua principal forma de engajamento público, o ex-presidente vinha se manifestando apenas por meio declarações curtas postadas em seu site oficial. Engana-se, no entanto, quem tem a percepção de que ele tenha desaparecido. Enquanto lida com investigações sobre fraude fiscal conduzidas pelo Ministério Público de Nova York, Trump produziu incontáveis notas públicas nos últimos meses e tem articulado nos bastidores do partido republicano.
Depois de Ohio, Trump já tem, na agenda, atos programados na Flórida, na fronteira com o México e na Geórgia. Apelidada como "turnê da vingança" pela imprensa norte-americana, a empreitada promete ser marcada por ataques para todos os lados.
A estratégia, tanto nas manifestações digitais pregressas quanto nos comícios que agora têm lugar deve ser a mesma: apostar na narrativa da fraude eleitoral para deslegitimar o governo eleito e atacar, não apenas os democratas e o presidente Biden, como também a ala republicana que Trump considera traidora de sua confiança.
É bastante provável que, se tiver condições, Trump concorra ao pleito de 2024. Justamente por isso, o ex-presidente sabe que precisa pavimentar o caminho para enfraquecer a capacidade de realização do governo democrata nos próximos anos e, com isso, fragiliza-lo, ao mesmo tempo em que precisa mobilizar republicanos para garantir sua viabilidade eleitoral pelo partido.
Sem surpresa, portanto, Trump mira no curto prazo: nas eleições legislativas de meio de mandato. Em 8 de novembro do próximo ano todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes e 34 das 100 cadeiras no Senado serão disputadas. Entre 2020 e 2021, durante a primeira metade de seu governo, Biden detém o controle do Congresso: 222 das 435 cadeiras na Câmara (lembrando que 218 deputados configuram maioria) e 50 assentos (somando democratas e independentes) no Senado, no qual o voto de minerva é da vice-presidente Kamala Harris.
Isso favorece o avanço da agenda do presidente, principalmente em políticas ambiciosas envolvendo transformações estruturais do país. Caso perca as maiorias nas casas legislativas em 2022, Biden poderá enfrentar dificuldades em construir o legado que prometeu. Trump aposta precisamente nessa desidratação para os últimos dois anos do mandato democrata.
No meio tempo, Trump também tem como desafio se fortalecer dentro do próprio partido. Muito embora o trumpismo tenha, em algum momento, capturado mentes e corações republicanos, não está claro como as polêmicas dos últimos meses da gestão podem ter impactado essa relação. No final de abril desse ano, uma pesquisa da NBC News apontou que 50% dos republicanos afirmavam apoiar mais ao partido do que a Trump. Somente 44% dos republicanos diziam o contrário. Foi a primeira vez, desde 2019, que uma pesquisa apontou que os devotados ao partido superaram os adeptos de Trump.
Enquanto Trump tenta escapar da verdade desconfortável que foi sua rejeição no pleito de 2020, e aposta em um discurso inflamado de revanche que cheira naftalina, relembramos, feito mantra, o ensinamento de Benjamin Franklin, que certa vez, professou que a vingança apenas serve para multiplicar injúrias. Em um país profundamente dividido e polarizado, não parece bom.
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