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Sobre Vieira para o MRE: apenas o retorno à normalidade não é suficiente
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O anúncio de cinco ministros da próxima gestão de Lula formalizou algo que já vinha se desenhando nos bastidores há algum tempo: Mauro Vieira será o próximo ministro das Relações Exteriores do Brasil.
Vieira já foi chanceler entre 2015 e 2016, no fim do governo Dilma, além de ter servido anteriormente em alguns dos postos mais importante para o país: Buenos Aires, Washington D.C., e na ONU, em Nova York.
É um dos diplomatas mais antigos da carreira, o que sinaliza um retorno às tradições do Itamaraty e um contraponto maiúsculo às escolhas do governo Bolsonaro —escolhas essas que causaram, nos últimos quatro anos, grande instabilidade institucional e inúmeros desconfortos em uma das estruturas mais hierarquizadas do serviço público brasileiro.
Apesar do relativo alívio depois de atravessar o deserto bolsonarista, a escolha por Vieira divide opiniões entre acadêmicos e, principalmente, entre diplomatas brasileiros.
As interpretações mais otimistas destacam que, além de ser cordial e gentil no trato pessoal, Vieira é preparado e, acima de tudo, experiente. Goza da confiança de Celso Amorim, de quem é visto como discípulo, e simboliza uma tentativa de continuidade de seu legado. Além disso, Vieira é visto como alguém que tem trânsito político nos três poderes e boa capacidade de articulação e de conciliação, ativos fundamentais para o novo governo.
A visão entusiasmada também aponta para sua propensão em ouvir e para a pré-disposição em reconhecer que terá de se comprometer com pautas sensíveis, especialmente questões de gênero e raça, alvo de duras críticas durante a sua gestão anterior no MRE.
Em contrapartida, não é possível ignorar a onda de frustração que o anúncio de seu nome também despertou. Especialistas chamam a atenção para o legado modesto deixado por Vieira durante o exercício anterior. Também questionam a escolha de um nome cuja vivência se concentra quase que exclusivamente em players ocidentais. Há quem diga, com ressalvas, que ele é mais político do que necessariamente técnico.
Diplomatas, por sua vez, relatam que, entre os mais jovens, a escolha do novo ministro foi recebida com certa desilusão. Ela foi vista como um gesto de timidez na condução do novo governo. Para as mulheres, a desilusão é ainda mais gritante. Havia grande expectativa para que Lula indicasse a primeira chanceler mulher da história do Brasil. Agora, o cenário projetado é descrito como "mais do mesmo".
Nos dois casos —dos jovens diplomatas e das mulheres— a percepção é de que haverá poucas mudanças institucionais no Itamaraty com Viera como chanceler. Apesar de bem visto para executar a política externa "portas afora", ele é tido como conservador na micropolítica do MRE e levanta preocupações no que tange ao combate às desigualdades no seio da carreira.
Nem mesmo o eventual anúncio de mulheres para outros cargos importantes, como a Secretaria Geral do Itamaraty e/ou para embaixadas-chave do Brasil ameniza a situação. Na verdade, isso desperta a preocupação de que seja apenas um passo dado como pura instrumentalização para "acomodar as cobranças", mas sem efetiva identificação ou cuidado com as pautas trazidas à tona por esse grupo.
De forma geral, durante o anúncio de seus primeiros ministros, Lula não foi bem no que tange à diversidade. Questionado sobre a baixa representatividade do grupo, deu uma resposta difícil de engolir: "são pessoas aptas", disse ele.
Há tanto para se problematizar sobre isso, que uma só coluna não daria conta de acomodar. Por enquanto, as repercussões sobre os critérios do novo governo para definir quadros já deixam algo bastante claro: se Lula entregar apenas o "retorno à normalidade", não será o suficiente.
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