Fernanda Magnotta

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Opinião

Três são os fatores que definirão o futuro de Trump

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos acusou formalmente Donald Trump na última terça-feira, 1 de agosto, por supostamente participar da contestação dos votos das eleições de 2020 e da invasão do Capitólio em janeiro daquele ano. O ex-presidente é réu por conspirar para fraudar o governo dos Estados Unidos, conspirar para impedir um processo oficial, impedir e tentar impedir um processo oficial, e conspirar contra os direitos dos eleitores.
Ao mesmo tempo em que se acumulam processos na justiça, pesquisas indicam que Trump permanece como o candidato favorito do Partido Republicano e sugerem empate técnico na disputa nacional contra o democrata Joe Biden.

Conforme tem sido extensivamente reportado pelos meios de comunicação de todo o mundo, tudo indica que Trump poderá manter a candidatura e até mesmo assumir o cargo, caso vença, mesmo se for condenado pelos crimes, pois a Constituição dos Estados Unidos não proíbe que pessoas presas ou em julgamento sejam presidentes. Sendo assim, pouco mais de 1 ano antes das eleições norte-americanas, estão sobre a mesa 3 fatores centrais que definirão o futuro de Trump.

O primeiro deles tem a ver com a reação da opinião pública do país sobre as acusações que ele enfrenta. Tão logo o período de campanha seja iniciado, é de se esperar que a oposição explore exaustivamente as denúncias contra Trump. Se, por um lado, até o momento, outros escândalos não parecem ter afetado o apoio de sua base eleitoral republicana, por outro, sabemos que isso pode não repercutir da mesma forma particularmente entre republicanos moderados e eleitores independentes. Estudos especializados em opinião pública costumam mostrar que as preferências do público são instáveis e altamente voláteis, e que mudanças repentinas podem ocorrer a depender da construção e disseminação de narrativas.

O segundo fator tem a ver com o comportamento do mainstream republicano. Afinal, até onde irá o apoio dos líderes do partido? Embora haja figuras como Mike Pence, ex-vice e ex-aliado do Trump, levantando a voz contra os abusos de Trump, a maioria dos republicanos permanece fiel ao ex-presidente. Boa parte deles tem dito que Trump sofre perseguição política e que o novo indiciamento é uma tentativa de distrair o público do escândalo do Hunter Biden, filho do Joe Biden. Apesar disso, sabemos que os políticos estão sempre atentos à sua imagem pública e aos efeitos que suas ações podem ter sobre sua popularidade e seu apoio. Eles procuram evitar situações que possam gerar custos elevados para si, com perda de credibilidade, confiança ou votos. Por isso, mudanças na opinião pública ou efeitos sobre seus interesses egoístas podem levar figuras públicas, no futuro, a rever o apoio à Trump.

Por fim, o retorno do ex-presidente ao poder também passa por um complexo debate constitucional que deve ter lugar nos Estados Unidos caso ele vença as eleições. Por envolver uma situação completamente nova e sem precedentes, é provável que o pleito culmine em uma disputa jurídica com o objetivo de impedir que Trump assuma a presidência com base na chamada 14ª emenda. Ela é uma das chamadas "Emendas de Reconstrução", aprovadas após a Guerra Civil, e trata de vários aspectos da cidadania e dos direitos dos cidadãos norte-americanos. Em sua seção 3, ela estabelece a chamada "cláusula de desqualificação", que postula que nenhuma pessoa que tenha participado de uma rebelião contra os Estados Unidos pode ocupar um cargo público, a menos que o Congresso autorize. O debate será justamente voltado a interpretação dessa cláusula e de sua aplicabilidade em relação a Trump.

A ver.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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