Fernanda Magnotta

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Opinião

Biden, 'candidato indesejável' para 2024, reflete crise das democracias

A pouco mais de um ano da corrida presidencial nos Estados Unidos, a crise política norte-americana parece estar bem longe do fim.

Se, do lado republicano, é preciso gerenciar a complicada candidatura de Donald Trump, que responde a dezenas de processos na justiça e tanto pode ir para a cadeia quanto tornar-se presidente da República em 2024, do lado democrata a reeleição de Joe Biden parece cada dia mais improvável.

A popularidade de Biden enfrenta baixa histórica. Dados do renomado Five Thirty Eight sugerem 53,7% de desaprovação de seu governo. Nos levantamentos da Gallup, Biden está entre os de menor aprovação ao longo das últimas décadas.

Além de criticado pelas recorrentes gafes públicas, o presidente é visto, por boa parte da população, como figura senil e sem energia. Em um contexto de profunda polarização política, ele também enfrenta novas acusações que devem drenar ainda mais sua candidatura para o próximo ano.

Ao longo de setembro, deputados do Partido Republicano iniciaram um inquérito de impeachment contra Biden, concentrando-se em alegações de irregularidades nos negócios de sua família, especialmente envolvendo seu filho Hunter Biden. Ainda que o processo não avance, como parece ser o caso, ele certamente será amplamente explorado pela oposição ao longo de toda a campanha.

Se Biden não parece o candidato ideal, as lideranças do mainstream tampouco estão empenhadas em dar visibilidade nacional a outros nomes da nova geração. Nesse sentido, mesmo Kamala Harris, atual vice-presidente do país, não foi trabalhada nem pelo partido democrata nem pela própria administração para se apresentar como alternativa viável ao pleito. Ao contrário, parece ter sido escanteada pelo governo em curso.

A falta de entusiasmo em relação aos candidatos, a dificuldade de renovação dos quadros, e a baixa agilidade para oferecer respostas à sociedade parecem sintomáticos não apenas do drama que afetará as eleições de 2024, mas também do próprio estágio em que se encontram os Estados Unidos enquanto potência.

A letargia revela não apenas uma condição pontual da vida política do país, mas sua dificuldade em se reinventar como liderança viável. Não à toa, como consequência, vemos aparecer, em um mundo repleto de modelos alternativos, dúvidas sobre a eficácia do sistema liberal que os Estados Unidos representam.

Cenários como esse, em que não há nomes nem plataformas que empolgam, contribuem para uma erosão da confiança nos valores de que comungamos. A pergunta que não quer calar, como reflexo direto do drama norte-americano (e um problema real de todos nós), é: como podemos convencer as pessoas de que as democracias valem à pena?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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