Fernanda Magnotta

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Opinião

Esquecida, guerra na Ucrânia se intensifica à sombra do conflito em Gaza

Desde outubro do ano passado, quando as atenções e a cobertura da mídia se voltaram para o conflito entre Israel e Hamas, no Oriente Médio, muitas pessoas têm se questionado sobre o status da guerra na Ucrânia.

Diferente do que alguns podem imaginar, o conflito no leste europeu não arrefeceu. Ao contrário, tem sido marcado por intensificação dos ataques russos, reforço na resistência ucraniana, e grande envolvimento internacional. A situação, que se manteve dinâmica e complexa, incluiu, nos últimos meses, a retirada da Rússia de tratados internacionais importantes, a realização de grandes exercícios militares pela Otan, e o fornecimento de ajuda financeira substancial pela União Europeia à Ucrânia. Este resumo panorâmico visa capturar os principais desenvolvimentos e mudanças no cenário da guerra desde o fim do ano passado. A sistematização é baseada no Global Conflict Tracker do Council on Foreign Relations.

No fim de 2023, em novembro, o presidente russo Putin assinou uma lei que retira a Rússia de um tratado que proíbe testes nucleares, e a Rússia também se retirou formalmente do Tratado de Forças Armadas Convencionais na Europa. Durante este período, os países do G7 reafirmaram seu apoio à Ucrânia. A Rússia continuou suas ações agressivas, atacando uma cerimônia militar ucraniana e matando dezenove soldados, além de atacar Kiev e descarrilar um trem russo. Um oficial ucraniano foi implicado na coordenação da sabotagem do gasoduto Nord Stream em 2022. Em resposta, a Ucrânia intensificou seus ataques às forças russas ocupando Melitopol e acusou três indivíduos de traição.

O Ministro das Relações Exteriores do Reino Unido visitou a Ucrânia, fortalecendo o apoio internacional, que também foi evidenciado pela visita de altos funcionários dos EUA e europeus a Kiev. Em um ato de retaliação, a Ucrânia lançou ataques de drones em Moscou após ataques russos em Kiev. Em uma cúpula em Bruxelas, ministros das Relações Exteriores da Otan prometeram nova cooperação com a Ucrânia. Durante este mês tumultuado, o presidente Zelensky da Ucrânia declarou que as negociações de cessar-fogo com a Rússia só seriam possíveis com a retirada total das forças russas, enquanto a Rússia realizava extensivos bombardeios em território ucraniano.

Durante o mês de dezembro, Putin ordenou um aumento no tamanho do exército russo, enquanto a Casa Branca alertava sobre o risco de esgotamento dos fundos para Kiev. Disputas táticas interromperam a comunicação entre EUA e Ucrânia durante a contraofensiva, e Zelensky discursou virtualmente na cúpula do G7. Os EUA acusaram quatro soldados russos de torturar um cidadão americano na Ucrânia, e a Ucrânia transportou caminhões para a Polônia por trem, superando um bloqueio. Zelensky visitou Washington em busca de apoio para a guerra, e o presidente Biden ressaltou a importância da ajuda à Ucrânia.

Líderes da UE discutiram ajuda e caminhos de adesão para a Ucrânia em uma cúpula em Bruxelas, e a UE deu luz verde para conversas de adesão com a Ucrânia. O FMI expressou preocupações sobre a recuperação da Ucrânia sem nova ajuda econômica, e o Pentágono alertou que os fundos para Kiev se esgotariam em 30 de dezembro. Um ataque ucraniano danificou um navio de guerra russo no Mar Negro, e os EUA propuseram opções para confiscar 300 bilhões de dólares em ativos russos.

Iniciando em janeiro de 2024, a Rússia intensificou o bombardeio de cidades ucranianas, levando a uma resposta da Casa Branca, que revelou o uso de mísseis da Coreia do Norte pela Rússia para atacar a Ucrânia. Durante o mesmo período, um bombardeio de mísseis russo resultou na morte de quatro pessoas na Ucrânia. Em uma ação significativa para fortalecer a defesa ucraniana, a OTAN sediou uma reunião do Conselho da Ucrânia, e o Pentágono reportou que mais de 1 bilhão de dólares em ajuda militar dos EUA à Ucrânia não foi devidamente rastreada. Em meio a estes eventos, o presidente Zelensky declarou que um cessar-fogo apenas beneficiaria Moscou, e a Ucrânia reivindicou ter abatido um avião espião russo.

Zelensky também buscou apoio adicional no Fórum Econômico Mundial. A situação geopolítica se complicou ainda mais quando a Rússia rejeitou uma proposta dos EUA para diálogo sobre controle de armas nucleares. Em resposta às ações russas, ataques de drones ucranianos visaram um terminal de combustível russo e a área de transporte na cidade de Donetsk. Reforçando suas capacidades militares, a Otan assinou um contrato de artilharia de 1,2 bilhão de dólares para a Ucrânia, e um avião militar russo caiu perto da fronteira da Ucrânia. Além disso, a Otan iniciou seus maiores exercícios militares desde a Guerra Fria.

No campo da energia nuclear, Kiev começou a construção de quatro novos reatores nucleares. A UE ponderou sobre um plano para sabotar a economia da Hungria caso esta vetasse a ajuda à Ucrânia, e um ataque de drone russo provocou interrupções no fornecimento de eletricidade ao atingir uma estação de energia em Dnipropetrovsk.

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A Ucrânia e a Rússia realizaram uma troca significativa de cerca de 400 prisioneiros, com a mediação dos Emirados Árabes Unidos. Por fim, os líderes da UE concordaram em fornecer mais de 54 bilhões de dólares à Ucrânia ao longo de quatro anos, marcando um compromisso substancial com o apoio contínuo à Ucrânia. Neste início de fevereiro, a União Europeia finalizou um acordo para fornecer mais de 50 bilhões de dólares em ajuda à Ucrânia.

Em suma, estamos diante de um conflito contínuo e intensificado no leste europeu, com envolvimento internacional significativo e uma série de dilemas geopolíticos complexos que, em 2024, devem encontrar novos capítulos, a começar pelos desdobramentos das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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