Coronavírus gera censura na web da China, que teme transparecer descontrole
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A morte do médico chinês que tentou alertar colegas sobre o surto de coronavírus abre uma nova crise na cúpula do poder em Pequim. Li Wenliang, de 34 anos, foi infectado pelo novo vírus. Mas ele passou a ser tratado como herói nacional depois de publicar a história de como agiu para avisar o que havia descoberto.
Li passou a ser alvo da polícia, que o acusou de espalhar "informações falsas". Ele acabou sendo obrigado a permanecer em silêncio, sobre o risco de ser levado à Justiça por promover "distúrbios graves à ordem social".
A situação de Li reabriu o debate sobre a censura no país e fez despertar os temores de que os mesmos erros registrados em 2003 para lidar com a SARS voltem a ocorrer. Naquele momento, o governo impediu a publicação de dados sobre a doença, o que acabou levando a um número inédito de mortes.
Nas redes sociais, a morte do médico foi recebida com protestos por parte dos chineses, que exigem saber a verdade sobre o que está ocorrendo no país. Mas, imediatamente, hashtags que cobravam transparência por parte do governo foram bloqueadas pelas autoridades.
Desta vez, diante da pressão, uma parcela da máquina do Estado chinês acena para um reconhecimento de que errou. O Supremo Tribunal da China indicou, há poucos dias, que a polícia não deveria ter censurado o médico.
Mas, diante da crise, o que vem imperando na luta contra o vírus é a censura. Na semana passada, uma revista chinesa que publicou uma matéria sobre como nem todos os casos estavam sendo contabilizados teve sua matéria retirada do ar.
Não por acaso, a reunião do último fim de semana do Comitê do Partido Comunista, órgão máximo de poder na China, foi concluída com uma decisão clara: "fortalecer o controle sobre a mídia e da Internet", como forma de lidar com o vírus.
Em parte, a medida tem como objetivo lutar contra a disseminação de fakenews sobre o vírus. Mas entidades de direitos humanos alertam que a iniciativa vai além e passou a ser usada pelo governo para justificar o fechamento de contas e sites na Internet.
Um dia depois, a Administração da China para o Cyberspace declarou que criou um serviço de monitoramento sobre todos os serviços de informação e provedores. A ordem para todos os sites e operadoras é para que "criem um bom ambiente no cyberspace para vencer a batalha contra a epidemia".
Instrumentos de busca na Internet, como a Baidu, foram convocadas pelas autoridades e acusadas de não agirem de forma suficiente contra "informação ilegal". Aplicativos também foram banidos, depois de autorizar que vídeos fossem postados que, segundo as autoridades, poderiam causar "pânico".
A ofensiva não ocorre por acaso. Para o presidente chinês Xi Jinping, o surto ocorre em um momento crítico: a economia do país tem a menor taxa de expansão em anos, a crise em Hong Kong se aprofunda e Pequim também viu a vitória de candidatos independentistas em Taiwan.
A ordem, portanto, é a de conter não apenas o vírus, mas também a narrativa de que a China poderia não dar conta da crise sanitária. Neste sentido, a Organização Mundial da Saúde foi pressionada a não declarar uma emergência global por dias e, quando o fez, realizou o anúncio em meio a elogios exagerados e pouco comuns ao governo de Pequim.
A entidade também insistiu que não era o momento de buscar culpados e que o mundo deveria agradecer aos chineses pelos esforços realizados.
Ao mesmo tempo em que isso era feito, Pequim dava uma demonstração ao mundo de como construir um hospital em apenas dez dias, num gesto divulgado insistentemente nas redes sociais e imprensa internacional. A ordem era a de reverter a narrativa.
Entidades como a Human Rights Watch e mesmo o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos alertaram que populações precisam ter "direito à informação" no caso do atual surto.
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