Movimento negro denuncia na ONU ataques de "evangélicos fundamentalistas"
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Num discurso duro no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o movimento negro brasileiro pediu o apoio internacional para combater o racismo no Brasil e alertou para os ataques conduzidos por "evangélicos fundamentalistas" contra religiões afro-brasileiras.
Wania Sant'Anna, em nome de 117 entidades que formam a Coalizão Negra por Direitos, apelou à comunidade internacional para se juntem aos afro-brasileiros "na luta contra o racismo, lembrando a situação de todos os africanos - homens e mulheres - que foram submetidos à escravidão por séculos".
Em sua fala, ela apontou como os dados do Ministério da Saúde, em 2017, revelam a existência de 65.602 homicídios no Brasil. "Entre esses, 49.500 são homicídios de afro-brasileiros - homens e mulheres, ou 75% das vítimas de homicídio", disse.
"Como ilustração, o Brasil tem oficialmente 4.878 cidades com população inferior a 50 mil. Isso significa que qualquer uma delas poderia ter sido varrida do mapa, simplesmente", alertou.
A ativista ainda apontou como, entre 2007 e 2017, "400 mil afro-brasileiros foram mortos sob indiscutível violência policial, guerra entre gangues, mas acima de tudo vítimas da histórica discriminação racial e do racismo estrutural brasileiro".
Nesse período, a taxa de homicídio de afro-brasileiros cresceu 33,1% e dos brancos apenas 3,3%. Ela alerta que flexibilizar o porte de armas de fogo, como fortemente apoiado pelo atual governo, fará aumentar ainda mais esses indicadores.
Religião
Um dos alertas lançados pela ativista se referiu à liberdade religiosa. "As religiões afro-brasileiras têm sido cada vez mais atacadas por líderes evangélicos fundamentalistas - com forte lobby no Executivo e no Congresso Nacional, enfrentando incêndios intencionais, depredação de seus locais sagrados, entre outras ameaças", denunciou.
"Isso nos mostra a incapacidade do Estado de proteger esse grupo do ódio religioso e do racismo", alertou.
No mês passado, a ministra Damares Alves (Direitos Humanos, Família e Mulheres) esteve na ONU e uma de suas bandeiras foi a defesa da liberdade religiosa. Mas usou a reunião para insistir especialmente no caso da proteção de cristãos pelo mundo.
Outro ataque da ativista foi direcionado ao governo de Jair Bolsonaro. O presidente mencionou poucos dias atrás que não iria titular nenhuma terra quilombola. Para os movimentos, isso contraria a Constituição brasileira e "expõe essas comunidades a ameaça extrema, a invasão de suas terras, ao agronegócio, às atividades de mineração e empresas transnacionais, além da base aeroespacial de Alcântara".
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