OMS: pandemia "não acabou" e avanço na América do Sul é "persistente"
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Resumo da notícia
- Agência indica que, depois do pico da pandemia, diversos governos deverão rever o número de mortes causadas pela covid-19
- Complacência é "risco", alerta agência mundial de Saúde
Enquanto algumas áreas de São Paulo reiniciam a abertura do comércio e certas atividades, a Organização Mundial da Saúde alerta que a América do Sul vive um avanço "progressivo e persistente" da pandemia e pede que haja um foco na contenção do vírus. "É algo profundamente preocupante", disse Michael Ryan, diretor de operações da agência de Saúde. Para a entidade, ainda que alguns países comecem a sair da quarentena, o recado é claro: a pandemia "não acabou" e o risco é a "complacência".
Somando apenas os casos dos últimos sete dias, o Brasil lidera o número de novas pessoas infectadas no mundo e de mortes, superando os EUA. Na contagem geral, desde janeiro, o território americano continua sendo o mais atingido, com 1,9 milhão de casos e 110 mil óbitos.
O Brasil vem em segundo lugar, com 707 mil pessoas contaminadas. No que se refere às mortes, a conta da OMS mantém o Brasil na terceira colocação, com 37,1 mil. Os números, porém, estão defasados em 24 horas.
"Estamos vendo um aumento de casos na América Latina, especialmente nos países sul-americanos. Vemos um aumento persistente e progressivo de casos", disse Ryan. "Isso é de uma profunda preocupação. Precisamos nos focar em conter, parar e suprimir essa doença", apelou.
A entidade também indicou que não há ainda como saber qual será o comportamento do vírus diante da chegada do inverno no hemisfério Sul. Mas alerta que não se pode depender de uma expectativa de que a temperatura seja a resposta. "A temperatura não é a resposta. A resposta é o distanciamento social, a higiene, saúde pública", insistiu.
Para ele, países que adotaram tal estratégia provaram que podem conter a transmissão. Ryan ainda deixou claro que governos que agiram rapidamente foram aqueles que, hoje, conseguiram conter a doença, reduzir a curva de casos e "sair em ordem" da crise. "A história vai contar", disse.
"Sabemos que a influenza tem um ciclo. O que não sabemos é como coronavírus vai se comportar. Nesse momento, não temos dado para dizer se ele vai transmitir de forma mais eficiente ou agressiva", afirmou Ryan. Ele lembra que, ainda que alguns digam que o verão pode reduzir a transmissão de um vírus por conta de um número maior de pessoas ao ar livre, ele alerta que o ar condicionado pode acabar ampliando o risco.
Para a diretora técnica da OMS, Maria van Kerkhove, a complacência é um risco. "Não acabou e os casos estão se acelerando em algumas regiões", disse.
Segundo Ryan, a pandemia ainda ganha força e sua preocupação é a saturação de sistemas de saúde. "Há uma enorme pressão nos sistemas de saúde. Talvez não na Europa. Mas nas Américas", disse.
Revisão do número de mortes
Maria van Kerkhove ainda apontou que, depois do final do ponto mais crítico da pandemia, ela acredita que o mundo irá ver uma mudança no número de mortes registradas por conta da covid-19.
Ela respondia a uma pergunta sobre os relativamente baixos números de óbitos na Rússia e indicou que acredita que alguns países acabarão revisando seus dados no futuro.
"Poderemos ver um aumento de casos", disse. "Isso pode ocorrer", apontou, sem citar os locais onde tal realidade poderia ocorrer.
No Brasil, o governo abriu uma polêmica nos últimos dias ao indicar que iria rever a forma de divulgar os dados da pandemia no país. De acordo com a OMS, há um protocolo que deve ser seguido para registrar o número de óbitos. Mas admite que o processo pode não ser evidente.
Alternativa ao confinamento
Na avaliação da OMS, governos não podem fazer uma dicotomia entre salvar vidas e garantir a renda do trabalhador. "Temos de fazer ambas as coisas. Suprimir a transmissão e lidar com renda", insistiu Ryan.
Ele admite que deve haver um equilíbrio entre os dois aspectos da crise. E destaca que, em locais onde governos estão relutantes em aplicar um lockdown, a alternativa é implementar uma série de medidas.
"Se não é possível o confinamento, há muitas outras coisas que podem ser feitas. Mas precisa de investimentos para monitoramento", disse. O pacote ainda incluir ampliar testes, estipular locais de quarentena, garantir respeitadores e fortalecer os serviços de saúde. Para Maria, qualquer tipo de abertura precisa ser gradual e seguir as evidências dos dados.
Transmissão de pessoas assintomáticas e mea culpa
A agência voltou a confirmar que não houve uma mudança na postura da entidade sobre a transmissão, indicando que continua a apontar que pessoas assintomáticas transmitem o vírus.
No início da semana, a diretora técnica da OMS, Maria van Kerkhove, criou uma polêmica ao declarar que pessoas assintomáticas tinham poucas chances de transmitir o vírus. Ela, porém, se referia apenas a um estudo limitado e que sequer era conclusivo. Imediatamente, governos usaram sua frase para indicar que medidas de distanciamento social e confinamentos poderiam ser desmontadas.
No Brasil, o governo de Jair Bolsonaro se apoiou na primeira declaração da diretora para justificar sua posição contrária ao confinamento.
A OMS foi obrigada a organizar numa nova coletiva de imprensa, um dia depois, para esclarecer que pessoas sem sintomas transmitem de fato a doença e que as quarentenas são necessárias.
Nesta quarta-feira, o diretor-geral da entidade, Tedros Ghebreyesus, ensaiou uma espécie de mea culpa diante da polêmica gerada pela declaração, indicando que o vírus exige "humildade" e que se trata de um desafio comunicar quase diariamente sobre os avanços da ciência. Segundo ele, porém, a posição da OMS não mudou deste fevereiro sobre a transmissão e que a agência continuará a informar sobre os avanços das descobertas à medida que sejam produzidas.
"Desde o começo eu falei de humildade", disse. "Há muita coisa que não sabemos. Falamos sobre os progressos. Maria van Kerhkove respondeu a uma pergunta. Ontem, ela e Michael Ryan explicaram o que sabemos e o que não sabemos. Desde fevereiro, temos dito que aquelas pessoas sem sintomas transmitem o vírus. Mas que precisamos de mais pesquisa para saber qual a proporção. Essa pesquisa está ocorrendo", disse.
"Mas o que sabemos é que encontrar, isolar e testar pessoas, rastrear e quarentena são as forma mais critica de parar a transmissão", disse. "Muitos países conseguiram suprimir fazendo exatamente isso", afirmou.
"Trata-se de um novo vírus e todos estamos aprendemos. Comunicar ciência em tempo real é um desafio. Mas é nosso dever. Sempre podemos fazer melhor. Vamos continuar e vamos evoluir com nossas recomendações. Vamos explicar o que sabemos e o que não sabemos", disse. "A meta é ser claro sobre a ciência e compromisso com transparência", completou.
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