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ONU: Insegurança alimentar aumenta no Brasil e atinge 43 milhões de pessoas

pobreza, criança, esmola, morador de rua, desigualdade socia, fome - Getty Images
pobreza, criança, esmola, morador de rua, desigualdade socia, fome Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

13/07/2020 11h00

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Dados divulgados pela FAO nesta segunda-feira revelam que a fome voltou a aumentar no Brasil. De acordo com a entidade, 37,5 milhões de pessoas viviam uma situação de insegurança alimentar moderada no país no período entre 2014 e 2016. Entre 2017-2019, porém, esse número chegou a 43,1 milhões. Em termos percentuais, o número também subiu, de 18,3% para 20,6%.

Os dados fazem parte do informe "O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo", o estudo global mais completo que acompanha o progresso no sentido de acabar com a fome e a desnutrição. Ele é produzido conjuntamente pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo Internacional para a Agricultura (IFAD), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Mundial de Alimentação (PMA) da ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Ao longo dos últimos 20 anos, a FAO destacou o avanço do combate à fome no Brasil. Hoje, a taxa de pessoas consideradas como sub-nutridas é de menos de 2,5% da população. Em 2006, essa taxa era de 4,1%.

A insegurança alimentar severa também caiu, passando de 3,9 milhões de pessoas entre 2014-2016 para 3,4 milhões entre 2017 e 2019. Em termos percentuais, isso representa um queda de 1,9% da população do país para 1,6%.

Mas é na camada da população com um pouco mais de recursos que a insegurança alimentar voltou a fazer parte da realidade.

2 bilhões o número de pessoas no mundo vivem num estado de insegurança alimentar, o que representa a incapacidade de ter acesso a alimentos seguros, nutritivos e suficientes o ano todo.

Além dos dados sobre a insegurança alimentar, a entidade aponta que 14,5% da população brasileira ainda não tem acesso a uma dieta saudável. A anemia entre mulheres também aumentou, passando de 25,3% para 27,2% entre o período avaliado.

Um outro sinal é obesidade, também resultado de uma alimentação não saudável. Nesse caso, a taxa passou de 20.1% entre 2014-2016 para 22,1% entre 2017 e 2019.

60 milhões extras de famintos no mundo

O informe da FAO ainda revela que a fome no mundo aumentou. De acordo com as entidades, dezenas de milhões juntaram-se às fileiras das pessoas subnutridas nos últimos cinco anos.

A estimativa é de que quase 690 milhões de pessoas passaram fome em 2019 - um aumento de 10 milhões em relação a 2018, e de quase 60 milhões em cinco anos.

"Os altos custos e a baixa acessibilidade econômica também significam que bilhões de pessoas não podem comer de forma saudável ou nutritiva", aponta.

Os problemas, porém, tendem a se agravar. "Em todo o planeta, o relatório prevê que a pandemia da COVID-19 poderá levar mais de 130 milhões de pessoas a passar fome crônica até o final de 2020.

"Cinco anos depois que o mundo se comprometeu a acabar com a fome, a insegurança alimentar e todas as formas de desnutrição, ainda estamos fora do caminho para atingir este objetivo até 2030", alertam as instituições.

A Ásia continua sendo o local do maior número de subnutridos, com 381 milhões pessoas. A África está em segundo lugar, com 250 milhões. A América Latina e Caribe vem na terceira posição, com 48 milhões de subnutridos.

Em termos percentuais, a prevalência global de subnutrição pouco mudou, com 8,9%. Mas
os números absolutos têm aumentado desde 2014. "Isto significa que, nos últimos cinco anos, a fome tem crescido em sintonia com a população mundial", explica.

Os números ainda escondem grandes disparidades regionais: em termos percentuais, a África é a região mais duramente atingida, com 19,1% de sua população subnutrida. Isto é mais que o dobro da taxa na Ásia (8,3%) e na América Latina e no Caribe (7,4%).

"É na África que o número está aumentando mais rapidamente. A prevalência da fome no continente também é o dobro da média global e, com base nas tendências atuais, a região tem poucas chances de chegar a Fome Zero até 2030", alerta.

Covid-19 deixa metas de erradicação da fome ainda mais distantes

Outra constatação é de que, com a pandemia no mínimo outros 83 milhões de pessoas, e possivelmente até 132 milhões, poderão passar fome em 2020 como resultado da recessão econômica desencadeada pela COVID-19. O revés joga em dúvida ainda mais a realização da erradicação da fome até 2030.

De acordo com as entidades, superar a fome e a desnutrição é mais do que garantir alimentos suficientes para sobreviver. "O que as pessoas comem - e especialmente o que as crianças comem - também deve ser nutritivo", disse.

"No entanto, um obstáculo fundamental é o alto custo dos alimentos nutritivos e o baixo custo de dietas saudáveis para um grande número de famílias. O relatório apresenta evidências de que uma dieta saudável custa muito mais do que US$ 1,90 por dia, o limiar de pobreza internacional", aponta o comunicado de imprensa do grupo.

Hoje, custo de um prato de alimentos saudáveis representa cinco refeições compostas por apenas amido.

As últimas estimativas são de que 3 bilhões de pessoas ou mais não podem pagar uma dieta saudável. Na África e no sul da Ásia, este é o caso de 57% da população.

De acordo com o relatório, em 2019, entre um quarto e um terço das crianças com menos de cinco anos (191 milhões) estavam muito abaixo do peso. Outras 38 milhões de crianças com menos de cinco anos tinham excesso de peso. Entre os adultos, entretanto, a obesidade se tornou uma pandemia global por direito próprio.

"Faltando apenas dez anos para conseguir uma palavra livre da fome e da desnutrição, a comunidade internacional parece disposta a perder essa promessa crucial. A fome, de fato, continua a aumentar: ela afeta agora mais 60 milhões de pessoas do que há cinco anos. Os efeitos da pandemia da COVID-19 certamente exacerbarão uma situação já alarmante", apontam as organizações.