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Jamil Chade

OMS: maioria da população terá de esperar até 2022 para ser vacinada

Colunista do UOL

14/10/2020 12h58Atualizada em 15/10/2020 11h26

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Resumo da notícia

  • Para OMS, não há capacidade mundial para vacinação de toda a população em um ano
  • 2021 deve ser dedicado a vacinar profissionais de saúde e integrantes de grupos de risco
  • Pessoas jovens e saudáveis provavelmente serão vacinadas apenas em 2022, avalia OMS
  • Agência endurece discurso em meio a nova onda de contágio e relaxamento do isolamento social

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que a grande parte da população mundial terá de esperar provavelmente até 2022 para ser vacinada contra a covid-19, apesar dos avanços da ciência. O recado foi emitido hoje pela entidade, que insiste que não haverá uma capacidade de produção suficiente para abastecer o mundo com vacinas de forma imediata.

De acordo com a agência, a prioridade será a de garantir a vacina para profissionais do setor de saúde, idosos e pessoas com condições de vulnerabilidade. Juntos, esses grupos não somam sequer 20% das população mundial, hoje estimada em 7,7 bilhões de pessoas..

"Para uma pessoa comum, jovem e saudável, talvez será preciso esperar até 2022 para ter a vacina", declarou a cientista-chefe da entidade, Soumya Swaminathan. Para ela, o mundo deve ter uma vacina em 2021, mas será "em quantidade limitada".

Soumya indica que a esperança é de que, ao vacinar uma parcela da população, a taxa de mortalidade seja reduzida e que a transmissão possa cair.

Nunca ninguém produziu vacinas nessa quantidade", disse. "Não é que, no dia 1 de janeiro de 2021, seremos todos vacinados e a vida vai voltar ao normal.
Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS

Segundo ela, para que a vacina gere uma imunidade de rebanho, 70% da população mundial terá de receber o produto, cerca de 5 bilhões de pessoas. Nesse momento a cadeia de transmissão seria interrompida.

OMS tenta frear clima de que pandemia já passou

Nos bastidores, fontes do alto escalão da OMS indicaram que o recado de Soumya tem como objetivo frear um clima e uma narrativa entre certos governos de que medidas de contenção podem ser abandonadas, já que a vacina está próxima.

Na agência, a esperança real é de que resultados positivos sobre os testes relacionados à vacina já sejam anunciados antes do final do ano e que, em 2021, esses primeiros grupos serão imunizados. Mas, até o final do próximo ano, a meta é de que a maior campanha de vacinação da história chegue a 2 bilhões de pessoas, muito inferior à metade da população do planeta.

Maria van Kerkhove, diretora técnica da OMS, insiste que o mundo não precisa esperar a vacina para todos para garantir um controle do vírus. "Temos instrumentos hoje para impedir a transmissão [da covid-19]", disse a americana, que destaca como governos de diferentes partes do mundo conseguiram manter taxas baixas de contaminação, mesmo sem a vacina.

"Esse é um vírus que podemos controlar", insistiu.

Países devem passar por segunda onda de forma mais preparada

De acordo com a OMS, o "enorme salto" no número de casos nos últimos dias poderá ser seguido, nas próximas semanas, por aumento no número de mortes.

Mas a esperança é de que, com médicos mais preparados e alguns tratamentos com resultados para casos mais graves, a taxa de mortalidade não seja a mesma do pico da doença entre março e abril. Outro fator que pode pesar é o fato de as pessoas estarem sendo diagnosticadas mais cedo e que a parcela da população mais atingida agora é mais jovem.

Ainda assim, Soumya insiste que o mundo não pode adotar uma postura de complacência. "Ainda perdemos 5 mil pessoas por dia", alertou.

A OMS ainda afirmou que "nunca recomendou" um lockdown completo de países e que sempre insistiu que pacotes de medidas eram necessários para superar a pandemia.

"Não recomendamos lockdown", disse Maria. Ela, porém, admite que certos países precisavam "ganhar tempo" para desafogar seus sistemas de saúde, saturados de casos e com UTIs lotadas. "Alguns países não tiveram opção", explicou.

Ela espera que, diante da segunda onda da doença, governos optem por medidas localizadas, com ações focadas em regiões mais afetadas.