Saúde dá a entender que receberá em fevereiro vacinas que chegam até junho
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Resumo da notícia
- Em carta, aliança de vacinas explica que apenas um quarto do total previsto para ser destinado ao Brasil desembarcará no primeiro trimestre do ano
- Será apenas no segundo trimestre que Brasil receberá entre 65% e 75% do volume acertado.
- Em nota oficial, governo não explica quanto tempo levaria para que o total de doses chegue ao Brasil
- Cenário mais realista é de entrega de 10 milhões de doses
O anúncio feito no sábado (30) pelo Ministério da Saúde brasileiro, dando a entender que o Brasil receberá "a partir de meados de fevereiro" até 14 milhões de doses do consórcio mundial de vacinas, a Covax, não traz em sua totalidade a realidade do acordo. A estimativa mais realista, indicada pela própria entidade internacional, é de que o volume seja de 10 milhões de doses e que apenas uma fração desembarcará num primeiro momento.
Ainda que as entregas comecem a chegar de fato na segunda metade de fevereiro, carta da entidade internacional e dados com o cronograma da aliança internacional revelam que grande parte desse volume do imunizante apenas será entregue entre abril e junho. Isso ainda na condição de que haja oferta suficiente no mercado, aprovação por parte da OMS e abastecimento da China.
Em Brasília, negociadores do Itamaraty se surpreenderam com o tom da nota emitida pela Saúde. A percepção é de que, ainda que positiva, a carta não significaria que um volume importante de doses estava prestes a chegar.
Forçaram a mão."
Comentário de diplomata no Planalto à coluna
Neste sábado, a pasta anunciou que o governo recebeu uma carta da Covax, "informando que o Brasil receberá estimativa de 10 a 14 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford contra a covid-19 a partir de meados de fevereiro".
Apesar de ser um volume importante, trata-se de apenas uma fração das 50 milhões de doses que já foram distribuídas nos EUA em cerca de um mês de vacinação.
Tanto a carta como o calendário internos da aliança revelam que a situação é mais complexa e lenta que a narrativa do governo tentou apresentar.
A primeira condição para que a entrega ocorra é que a OMS aprove o uso emergencial da vacina da AstraZeneca. Por conta de um atraso na entrega de dados por partes de empresas, a agência não tem conseguido realizar as aprovações.
A segunda condição: a existência dessas vacinas para a distribuição. Hoje, a AstraZeneca não tem conseguido cumprir seus contratos com os europeus e indicou que cortaria o abastecimento em 50%. O anúncio abriu uma guerra entre a Comissão Europeia e a empresa.
Se não bastasse isso, os insumos para a fabricação da vacina não estão sendo liberados com a velocidade necessária na China, o que ameaça os prazos para a entrega das doses também para a aliança internacional.
Maior entrega apenas entre abril e junho
De fato, na carta que a Saúde recebeu, o detalhamento revela que não se trata de uma entrega em grande escala nos primeiros meses.
Apenas entre 25% e 35% das 10 milhões ou 14 milhões de doses serão destinadas ao Brasil entre meados de fevereiro e março. O maior volume viria apenas no segundo trimestre do ano, quando entre 65% e 75% do total seria destinado.
A carta ainda deixa claro que essa entrega está condicionada à realidade das ofertas. As 14 milhões de unidades se referem ao total contratado. Mas a entidade aponta que o volume mais baixo, de 10 milhões, reflete a "distribuição esperada por conta das limitações ao abastecimento".
Ou seja: o mais provável é que o cenário mais realista seja de um envio de 10 milhões de doses.
Dados "indicativos"
Fontes na aliança mundial de vacinas em Genebra confirmaram à coluna que a carta fala apenas de dados "indicativos". Num dos trechos, de fato, o documento também é cauteloso em usar o termo "indicativo" para se referir ao calendário.
Dados obtidos pela coluna a partir dos planos de distribuição de doses revelam que a Covax planeja destinar para todos os países da América Latina um total de 20 milhões de doses até março.
Aos países mais ricos do continente, como Brasil, México, Chile ou Argentina, um volume inicial não chegaria a 5 milhões.
A pasta da Saúde, em seu comunicado neste fim de semana, tampouco mencionou o fato de que o governo brasileiro optou por reservar o menor número de doses possível na aliança. A entidade deu a opção para que países pedissem doses que poderiam atender de 10% a 50% de suas populações. O Brasil solicitou apenas 10%, 42 milhões de doses.
Se as 14 milhões de doses chegarem no primeiro semestre, o restante ficará para a segunda parte do ano.
O Ministério da Saúde ainda omitiu em seu comunicado que, quando a aliança foi anunciada em abril, o Brasil nem sequer foi convidado para reunião. Naquele momento, questionado pela coluna, a pasta informou que tinha "outras parceiras" em vista. Sem detalhar quais seriam. A adesão do governo só ocorreu semanas depois.
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