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Isolado e sem Trump, Bolsonaro busca aliança com Putin
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) costura uma visita ao líder russo Vladimir Putin. O encontro poderá ocorrer no final de novembro, em Moscou, no que seria uma consolidação de um novo eixo na diplomacia do atual governo brasileiro.
Putin é acusado de manter um regime que reprime a oposição, mata jornalistas, silencia movimentos sociais e modifica as regras do estado para se perpetuar no poder.
Isolado pelas principais democracias do mundo e sem o apoio que tinha de Donald Trump nos EUA, Bolsonaro descobriu no G20 a dificuldade de construir um diálogo com os demais líderes. O UOL flagrou o brasileiro completamente sozinho, na antessala da cúpula em Roma, no último fim de semana, enquanto os demais líderes mundiais faziam rodinhas de conversas para debater propostas concretas para superar a crise sanitária ou climática.
Em entrevista exclusiva ao UOL, o presidente da França, Emmanuel Macron, ainda declarou que a relação com o Brasil "já viveu dias melhores", enquanto a agenda oficial de Bolsonaro era marcada por uma ausência completa de encontros formais com outros chefes de estado. O único que o concedeu uma audiência foi o presidente da Itália, Sergio Mattarella. Na condição de anfitrião, ele era obrigado a receber todos os membros do G20.
Cada vez mais isolado nos últimos meses, Bolsonaro já iniciou acenos a Putin ainda no início de 2021. Numa reunião dos Brics, o russo chegou a elogiar o presidente brasileiro por suas atitudes nacionalistas.
A possibilidade de uma viagem para Moscou foi confirmada ao UOL pelo chanceler brasileiro, Carlos França. Ele, porém, aponta que a pandemia da covid-19 ainda pode frustrar a eventual missão.
Aliança entre ultraconservadores
Uma agenda específica ainda está ampliando a aliança entre Putin e Bolsonaro: a defesa da família e os ataques contra políticas de ampliação de direitos para mulheres.
Nos últimos meses, o Kremlin adotou posturas críticas contra resoluções na ONU que tratavam de temas como a proteção de mulheres e meninas. Moscou apresentou emendas aos projetos, na tentativa de esvaziá-los. Muitos deles contaram com o apoio discreto ou por vezes explícito do governo brasileiro.
Há apenas uma semana, sites ultraconservadores indicaram que o governo russo acenou para uma adesão ao pacto que hoje é liderado pelo Brasil, o Consenso de Genebra. O grupo de cerca de 30 países tem como objetivo evitar que organismos internacionais avancem pautas como educação sexual e acesso a saúde sexual. O argumento do bloco ultraconservador é de que tais medidas poderiam servir de brechas para legitimar uma pauta de apoio ao aborto.
O bloco havia sido criado por Donald Trump. Mas, com sua derrota nas eleições, Joe Biden anunciou o fim da participação dos EUA na iniciativa. Funcionários do governo Trump, em e-mails obtidos pelo UOL, informaram aos demais participantes que a nova liderança no projeto era assumida pelo Brasil de Bolsonaro.
Num discurso no dia 21 de outubro, Putin comparou o debate atual às supostas tentativas de comunistas de lidar com os temas nos anos 20. Ele atacou o que chama de tentativa de abolir conceitos como homem e mulher.
"Quem ousar mencionar que os homens e as mulheres existem de fato, o que é um fato biológico, correm o risco de ser alvo de um ostracismo", disse.
"Isso não é novidade; na década de 1920, os chamados Kulturtraegers soviéticos também inventaram algumas notícias acreditando que estavam a criar uma nova consciência e a mudar os valores dessa forma", disse. Ele ainda chamou de atos "monstruosos" a educação que diz a um menino que "ele pode tornar-se numa menina, e vice-versa.
"Chamando as coisas pelos seus nomes, isso beira a um crime contra a humanidade, e isso está a ser feito em nome e sob a bandeira do progresso", completou.
O discurso não está distante da campanha que a ministra Damares Alves (Família, Mulher e Direitos Humanos) promove nesta semana, em encontros em Genebra.
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