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'Simpatia autoritária' do Brasil com Rússia preocupa potências ocidentais
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Depois de uma série de votações do Brasil se distanciando de uma ofensiva internacional para isolar o presidente Vladimir Putin, os países ocidentais estão preocupados com o posicionamento "ambiguamente pró-Rússia" adotado pelo governo de Jair Bolsonaro.
Nesta semana, o Itamaraty optou pela abstenção diante da proposta de suspender a Rússia de sua vaga no Conselho de Direitos Humanos da ONU, destoando de praticamente todos os governos sul-americanos. Se não bastasse, o Brasil evitou condenar explicitamente Moscou pelas atrocidades descobertas em Bucha, cidade na periferia de Kiev onde valas comuns foram encontradas com dezenas de corpos. Na OIT (Organização Internacional do Trabalho), G20, Unesco e em outros organismos internacionais, a postura brasileira tem sido a de evitar um isolamento completo da Rússia.
Um dos argumentos da diplomacia brasileira é que tal isolamento poderia aprofundar a crise e ainda minar a própria credibilidade dos organismos internacionais. Numa nota, o Itamaraty também destacou como tais gestos poderiam aprofundar a polarização no conflito e dificultar um eventual acordo de paz.
Há ainda o interesse bilateral, principalmente depois que Putin foi o único chefe de estado de uma grande potência que recebeu Jair Bolsonaro nos últimos meses.
Mas o argumento usado pelo Brasil de que precisa ter acesso aos fertilizantes russos para a agricultura não convence as diplomacias estrangeiras. Os europeus também importam o produto e estão buscando driblar a dependência em relação a Moscou com novos fornecedores, incentivando a agricultura orgânica e ampliando a produção doméstica.
Já no final do ano passado, os fazendeiros europeus foram confrontados com uma elevação dos preços das substâncias, levando muitos deles a comprarem apenas uma parcela do que seria necessário para a safra.
Em Bruxelas e demais capitais europeias, autoridades sentem que, no caso do Brasil, há um fundo de "simpatia autoritária" com relação ao presidente russo, principalmente depois da visita de Bolsonaro ao Kremlin, dias antes da guerra começar.
Para os europeus, essa percepção ainda coincide com os sinais recorrentes de intenções autoritárias por parte de Bolsonaro, inclusive diante das declarações de seu entorno e seus ministros.
Há uma real desconfiança de quais podem ser as intenções de Bolsonaro nas eleições de 2022, inclusive tentando imitar as cenas de invasão do Capitólio e os gestos de Donald Trump.
No mês passado, uma das principais entidades que monitoram a democracia no mundo, a V-Dem (Suécia), alertou que o avanço autoritário no Brasil só não foi maior graças à atuação do Supremo Tribunal Federal e do Congresso. Mas, entre as autoridades, existe um temor de que as instituições sejam colocadas sob uma pressão ainda maior em 2022, com as eleições.
De acordo com diplomatas, a desconfiança europeia com relação ao presidente brasileiro já colocou o Brasil em "pré-sanções". Ou seja, uma reação às posições brasileiras sobre meio ambiente, democracia —e agora, a simpatia com o inimigo da Europa Ocidental.
Em Bruxelas, os europeus já adotaram um "gelo de oportunidades ao Brasil", bloqueando o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE (União Europeia), além da criação um novo imposto ambiental que vai excluir boa parte das exportações brasileiras à Europa.
Na adesão à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a situação do Brasil também é considerada como "problemática" depois do posicionamento adotado sobre a Rússia. Diplomatas franceses, por exemplo, ironizam a ideia de a organização deixar entrar países que, na hora de uma guerra, ficam ambiguamente do lado de Moscou enquanto pedem para entrar na organização ocidental.
- Assista ao UOL News e veja o comentário completo de Jamil Chade sobre a guerra na Ucrânia e posição no Brasil na ONU:
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