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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Brasil cumprimenta Macron, mas Bolsonaro evita saudar francês

O presidente da França, Emmanuel Macron, e Jair Bolsonaro durante o encontro do G20, em Osaka (Japão) - JACQUES WITT/AFP
O presidente da França, Emmanuel Macron, e Jair Bolsonaro durante o encontro do G20, em Osaka (Japão) Imagem: JACQUES WITT/AFP

Colunista do UOL

25/04/2022 17h29

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Um dos últimos países do G20 a mandar uma mensagem ao presidente Emmanuel Macron por sua reeleição na França neste fim de semana, o governo brasileiro emitiu uma nota curta cumprimentando o francês por sua vitória nas urnas. Mas ao contrário do que fizeram líderes europeus, asiáticos, americanos e africanos, o presidente Jair Bolsonaro evitou saudar o chefe de estado em Paris.

Numa nota sem qualquer entusiasmo e sem o nome do chefe do Executivo, o Itamaraty diz apenas que "o governo brasileiro cumprimenta o senhor Emmanuel Macron por sua reeleição à Presidência da República Francesa".

"O Brasil reafirma a disposição de trabalhar pelo aprofundamento dos laços históricos que unem os dois países e trazem benefícios mútuos a brasileiros e franceses, e manifesta expectativa de seguir implementando a ampla agenda bilateral", completa a nota, que se limitou a um gesto protocolar.

A comunicação contrasta com os efusivos cumprimentos que Macron recebeu pelas redes sociais de Ivan Duque, o presidente da Colômbia, ou de Alberto Fernandez, da Argentina. "A vitória de Macron é fundamental para aprofundar o multilateralismo", disse o presidente argentino. Já Duque chamou o francês de "grande amigo da Colômbia e defensor de valores democráticos".

No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador não poupou elogios à vitória de Macron, indicando que o povo francês "optou por seu legado histórico: liberdade, igualdade e fraternidade".

No Chile, o novo presidente Gabriel Boric também recorreu às redes sociais para comemorar o resultado das urnas na França. "O povo francês falou claro: a luta contra as mudanças climáticas e o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos é fundamental. Conte comigo para avançar nestes temas", disse o chileno.

Até mesmo Vladimir Putin, presidente da Rússia, emitiu um comentário pessoal. Já no domingo (24), as reações internacionais foram amplas, incluindo gestos efusivos do chanceler alemão Olaf Scholz, do britânico Boris Johnson, do americano Joe Biden, e dos principais chefes das instituições europeias, os diretores da OMS e agências da ONU, além dos governos do Canadá, Irlanda, Espanha, Holanda, Portugal, Itália, Noruega, Suécia e diversos outros.

No governo brasileiro, a ordem é a de não demonstrar "empolgação" com um líder que, nos últimos três anos, antagonizou com Bolsonaro, criticou o desmatamento no Brasil, recebeu o cacique Raoní e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Macron, que teve sua esposa ridicularizada por Bolsonaro, chegou a dizer em declarações ao UOL em novembro de 2021 que a relação entre França e Brasil "já teve dias melhores". Nos primeiros meses do governo Bolsonaro, Paris ainda foi humilhada quando o chefe da diplomacia de Macron foi esnobado pelo presidente brasileiro. No lugar do encontro que estava planejado com o francês, Bolsonaro decidiu fazer uma live cortando o cabelo. O gesto foi recebido pelos franceses como um desaforo.

Ao não emitir de forma imediata uma nota ao presidente francês, Bolsonaro repete seu gesto de ser um dos últimos chefes de estado do G20 a saudar a eleição de um líder de uma potência.

Isso ocorreu quando Joe Biden foi eleito. Bolsonaro e seus aliados chegaram a repetir o discurso do derrotado Donald Trump sobre uma suposta fraude na eleição americana.

Desta vez, na ala mais radical de apoio ao presidente Bolsonaro, a torcida era pela vitória de Marine Le Pen, o que reforçaria a rede ultraconservadora no mundo e seria um ponto de apoio para o atual presidente brasileiro.