Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Richarlison rompe o silêncio de craques e chacoalha as estruturas do poder
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O estádio não é apenas como um local de entretenimento. Ele é uma caixa de ressonância da esperança, dos sonhos e mesmo da violência da sociedade. Não há motivo, portanto, para pensar que o esporte não possa ser um instrumento de Justiça social e de promoção de valores humanistas.
E Richarlison sabe disso. O craque da seleção que estampou seu voo em jornais de todo o mundo é politizado, defendeu a ciência, se levantou com a morte de George Floyd, denunciou as queimadas nas florestas e destina parte de seu salário para causas sociais.
Ele rompe o silêncio cômodo de tantos jogadores que, para não se transformar em um problema ao clube ou ao patrocinador, baixam a cabeça e escondem no suor as lágrimas de um passado de sofrimento e sacrifícios. Atletas que mentem para si mesmos e que, longe da coragem da indignação de um Muhammed Ali, repetem que nunca foram alvos de racismo e não denunciam um regime econômico desumano que tanto marcou suas infâncias."
Rapidamente surgirão vozes para alertar que não se pode contaminar o esporte por temas políticos. Mas esses que defendem essa tese são os mesmos que não querem ser questionados em seus privilégios hereditários.
Não se pronunciar diante de injustiças, de atos racistas ou homofóbicos é apenas silêncio ou um ato político? Podemos construir um estádio para ser usado como palanque político para a elite local, mas não podemos usar suas arquibancadas para lutar por igualdade?
Se imagem de craques podem ser usadas pelo capitalismo para vender carros, cueca, desodorante, relógios e sonhos, por qual motivo ele não pode promover a ideia subversiva do direito à vida, à alimentação e à educação?
Quanto tempo devemos esperar para que meninos se transformem em homens numa era em que vemos o acelerado desmonte dos pilares da civilização?
Assim como no reggae e outras formas de arte, a luta por direitos está autorizada a ocupar todos os espaços. Sempre. E o futebol - global, popular e irresistível - tem o poder de ser um ato de resistência contra a barbárie.
Não há contradição entre gols e ser politizado. Fazer a arquibancada tremer é apenas parte do impacto de um jogador que opte por romper o silêncio. Ao se posicionar por valores humanistas, o que esses craques globais fazem é chacoalhar o inconsciente coletivo e as estruturas do poder.
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