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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Na China, irmãos Batista voltam a ser recebidos pela diplomacia brasileira

Irmãos Batista são recebidos na embaixada brasileira em Pequim - Jamil Chade
Irmãos Batista são recebidos na embaixada brasileira em Pequim Imagem: Jamil Chade

Colunista do UOL, em Pequim

26/03/2023 01h39

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Eles estão de volta, com direito a assédio de outros empresários, cortejo, recepção na embaixada do Brasil e muito luxo.

Joesley e Wesley Batista, fundadores da multinacional J&F, estão mantendo sua agenda de reuniões na China, mesmo sem a presença da comitiva oficial do governo brasileiro e do cancelamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas com uma característica própria: o silêncio total diante da imprensa.

Neste domingo, os empresários circulavam com uma verdadeira corte pelo hotel de Pequim onde grande parte dos eventos ocorreria. Num dos restaurantes mais sofisticados do local, os dois irmãos distribuíam sorrisos, paravam para tirar fotos com outros empresários e trocavam número de telefone. Antes, tinham almoçado numa ala reservada do restaurante.

Segundo sua assessoria, as reuniões continuariam. Mas não foi informado com quem eles se encontraram. Joesley e Wesley foram incluídos na maior comitiva já montada pelo governo brasileiro para uma viagem ao exterior, causando desconforto dentro das próprias agências do estado.

Para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, não existia motivo para não convidar os irmãos Batista. "É a maior empresa de carnes do mundo, que gera muitos empregos e eles cumprindo a legislação brasileira. Não tem motivo para não fazer parte da comitiva", disse o ministro, numa coletiva de imprensa em Pequim. "Se alguém deve, que pague. Mas vamos olhar para frente", afirmou.

O ministro confirmou que conversou com os dois empresários no hotel onde estão hospedados. Mas não entrou em detalhes.

Abordados por jornalistas brasileiros em duas ocasiões, os irmãos no centro de um amplo escândalo de corrupção apenas sorriam. "Eles não estão falando", explicava a assessoria.

Recebidos na embaixada

Os irmãos ainda foram recebidos individualmente neste domingo pela embaixada do Brasil em Pequim, apesar de a comitiva oficial ser composta por mais de uma centena de empresários.

Ao chegarem perto do portão do local, não precisam sequer se identificar e entraram imediatamente. Nenhuma segurança ou apresentação de documentos. O segurança chinês na porta não ousou fazer qualquer pergunta.

Repleta de simbolismo, a visita marca a normalização da relação dos empresários e a diplomacia nacional. Ao fundo, uma reprodução da tela O Abapuru de Tarsila do Amaral ornamentava a cena do retorno da JBS.

Ao deixar o local, Joesley voltou a se recusar a explicar o motivo da visita à sede da diplomacia brasileira na China. "Estamos chegando aqui agora", justificou. A embaixada explicou que "a JBS foi recebida hoje na embaixada para apresentar o panorama das exportações da empresa para a China".

Novo calendário

No sábado, por conta de sua condição de saúde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva suspendeu sua partida para a China. A decisão causou um verdadeiro terremoto, obrigado o Itamaraty e empresários a repensar uma agenda ampla que incluiria até um banquete de estado oferecido pelo presidente Xi Jinping ao brasileiro.

Joesley e Wesley se recusaram a responder a perguntas dos jornalistas, apenas sorrindo. A China é o maior mercado para a J&F, e fontes apontam que os dois empresários trabalharam nos bastidores pela reabertura do mercado de carnes bovinas para os produtos brasileiros.

O gesto do lado chinês era um sinal de que a visita de Lula traria resultados concretos. E a JBS tinha participação nisso.

Eventos empresariais e visitas mantidas

Entre os empresários, a ausência de Lula levou alguns a cancelar a viagem para a China. Outros retornaram ao Brasil ao saber do fim da visita do chefe de estado. Mas um número importante optou por permanecer.

As visitas técnicas organizadas antecipadamente pela Apex para fábricas e empresas chinesas vão ser realizadas, inclusive com a presença do presidente da agência, Jorge Viana. Na segunda-feira, um evento sobre desenvolvimento sustentável foi mantido, enquanto na quarta-feira um seminário empresarial também ocorrerá.

A percepção de alguns dos empresários é de que, sem Lula, o foco empresarial da delegação ganhará uma nova dimensão. Acordos que seriam anunciados entre empresas devem também ser mantidos, ainda que as companhias possam optar por adiar e esperar por uma eventual visita de Lula, ainda em 2023.

Sem a presença de ministros brasileiros, o protocolo chinês impede que membros do gabinete de Xi participem dos eventos oficiais.

O único representante do alto escalão do governo brasileiro em Pequim é o ministro Carlos Fávaro (Agricultura), que já estava na China na semana passada para negociações.

China deseja "rápida recuperação" de Lula; mas não há data para nova visita

Já o governo chinês deixou claro que, por enquanto, não existe ainda uma nova data para a viagem de Lula.

"O lado brasileiro informou a decisão de adiar a visita à China do presidente Lula devido a sua condição de saúde. A parte chinesa manifesta compreensão e respeito, expressa cumprimentos ao presidente Lula e deseja sua rápida recuperação. A parte chinesa continuará a manter contato com o lado brasileiro sobre questões relacionadas à visita", afirmou a chancelaria chinesa, num briefing nesta manhã.

Xi envia mensagem

O presidente Xi Jinping enviou uma mensagem ao presidente Lula, insistindo para que uma nova viagem possa correr "o quanto antes".

Gostaria de expressar minhas sinceras condolências ao senhor. Desejo ao Sr. Presidente uma rápida recuperação e lhe dou as boas-vindas para visitar a China o quanto antes" Xi Jinping em mensagem a Lula