Topo

Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Herdeira de Franco, extrema direita na Espanha triplica número de eleitos

14.abr.2019 - Homem agita uma bandeira espanhola com a silhueta do nobre medieval espanhol e líder militar Rodrigo Díaz de Vivar "El Cid", durante um comício de campanha do partido de extrema-direita Vox, em Burgos, norte da Espanha - Cesar Manso/AFP
14.abr.2019 - Homem agita uma bandeira espanhola com a silhueta do nobre medieval espanhol e líder militar Rodrigo Díaz de Vivar "El Cid", durante um comício de campanha do partido de extrema-direita Vox, em Burgos, norte da Espanha Imagem: Cesar Manso/AFP

Colunista do UOL

29/05/2023 05h52

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Vox, partido de extrema direita, saiu fortalecido das eleições regionais e municipais na Espanha neste fim de semana. O grupo, herdeiro do franquismo e aliado ao bolsonarismo no Brasil, viu o número de votos dobrar em comparação às eleições há quatro anos. Como resultado, o partido triplicou o número de eleitos para as câmaras municipais e regionais, e se consolida como uma força política indiscutível.

O grupo conseguiu ser eleito em todas as regiões e somou mais de 1,5 milhão de votos. O crescimento em comparação a 2019 foi o mais acentuado entre todos os partidos políticos espanhóis.

O que chamou a atenção de analistas políticos foi o fato de que o grupo conseguiu ser eleito em câmaras regionais que até hoje não conseguiam votos suficientes para ter seus representantes. Foram cinco eleitos em Extremadura, dois em La Rioja, entre outras regiões do país.

Se até agora o partido tinha 530 vereadores e representantes eleitos pela Espanha, a eleição do fim de semana aumenta o número para mais de 1,6 mil.

Para o presidente do Vox, Santiago Abascal, os resultados representam "a consolidação do partido como projeto nacional".

Se a eleição de uma forma geral foi vencida pelo Partido Popular, de direita, os resultados apontam que a formação não terá como governar se não entrar em alianças com a extrema direita. O Partido Socialista de Pedro Sánchez foi o grande derrotado.

Nos dias que antecederam às eleições, o partido de extrema direita distribuiu cartazes contra as ajudas sociais aos imigrantes. Ao longo dos últimos anos, Vox causou polêmicas com suas propostas. Em 2021, o partido chegou a pedir que o termo "motivação racista" fosse retirada do delito de ódio no Código Penal espanhol.

Muitos de seus adeptos e representantes são apoiadores declarados da ditadura de Franco, algo que por anos ficou abafado no cenário político e social do país. Mais recentemente, o aniversário da morte do ex-ditador passou a ser lembrado, inclusive em missas.

Oficialmente, o líder do partido insiste que Vox não tem uma posição sobre Franco, já que supostamente não existiria consenso dentro do grupo sobre o que o ditador representou na história do país.

Mas, em 2022, no Parlamento Espanhol, o deputado Francisco José Contreras afirmou que, sob Franco, houve "uma verdadeira reconciliação". Entre os candidatos do partido, generais aposentados figuram entre seus principais nomes.

Acusados de homofóbicos, o partido ainda passou a usar a narrativa da "reconquista" como forma de buscar apoio entre espanhóis. O termo se refere ao momento da retomada do território da península ibérica por parte dos reis católicos contra muçulmanos que tinham ocupado a região.

Mais recentemente, o grupo ainda protestou contra a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Parlamento Espanhol.