Europa aperta cerco, e número de imigrantes mortos já é o maior desde 2018
O mar Mediterrâneo volta a ser um cenário de naufrágios dramáticos envolvendo imigrantes e refugiados que tentam chegar à Europa. Dados divulgados pela OIM (Organização Internacional de Migrações) revelam que 2,1 mil pessoas morreram durante o deslocamento para países europeus, apenas nos sete primeiros meses de 2023.
O número é superior a todas as mortes registradas anualmente desde 2018. Se o atual ritmo for mantido, o ano de 2023 pode registrar um novo recorde de óbitos de estrangeiros, afirmam especialistas.
Esses números estão bem acima dos piores anos já registrados. Estamos realmente enfrentando uma crise humanitária aguda.
Fabienne Lassalle, vice-diretora geral da associação SOS Méditerranée
Um número crescente de fluxo de migrantes, os temporais e a falta de resgate podem ser parte da explicação para a onda de mortes.
Em apenas dez anos, o Mediterrâneo se transformou no cemitério de 27 mil pessoas. O ano de 2016, em plena crise dos refugiados sírios, foi o mais mortífero até agora, com 5,1 mil mortos.
Europa endurece legislação
A nova onda de mortes coincide com uma ofensiva por parte dos governos europeus de criminalizar qualquer ajuda aos imigrantes. Embarcações ou grupos que saiam ao resgate dessas pessoas podem ser julgados por ajudar a "imigração irregular", inclusive com o confisco de barcos ou a proibição de que ancorem em portos italianos ou de outros países.
Nas últimas semanas, a UE (União Europeia) fechou um acordo com a Tunísia na questão migratória. Mas o pacto foi denunciado por ativistas de direitos humanos como uma "traição" por parte do país africano que, em troca de recursos, ajuda os europeus a manter os imigrantes do lado sul do Mediterrâneo. O problema, segundo as entidades, é que essas pessoas são mantidas em péssimas condições.
De acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, 90,7 mil pessoas desembarcaram apenas nos primeiros sete meses de 2023 no sul da Itália. Em regiões como a ilha de Lampedusa, o centro de acolhimento que tem lugar para 600 pessoas hoje é ocupado por mais de 2,5 mil estrangeiros, que aguardam uma definição sobre seus destinos.
O que mais impressiona a ONU é que o volume já é muito próximo ao que se registrou em todo o ano de 2022, quando 106 mil pessoas cruzaram o mar em direção às costas italianas.
A própria entidade estima que o número de mortos é apenas uma fração do volume real de óbitos. Nessa estimativa não estão contabilizados: barcos que nem sequer foram identificados, pessoas que morrem em campos de refugiados ou centenas que, antes de chegar aos portos do norte da África, morrem ao cruzar o deserto e áreas em conflito no continente africano.
Em alguns trajetos do Mediterrâneo, um a cada 20 imigrantes que saem da África em direção aos portos europeus não chega com vida.
É muito provável que haja muito mais naufrágios do que aqueles de que temos conhecimento, e esse é o meu verdadeiro medo.
Flavio Di Giacomo, porta-voz da OIM
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberOutra constatação da entidade é de que não se sabe a origem de mais de dois terços desses mortos. Muitos, para evitar serem deportados aos países de origem, viajam sem documentos ou com passaportes falsos.
Na prática, isso significa que milhares de pessoas jamais são resgatadas e suas famílias não são informadas sobre o paradeiro de seus corpos.
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