Jamil Chade

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Reportagem

Itamaraty admite que embaixada brasileira contribuiu para opressão no Chile

Num discurso realizado nesta terça-feira em Santiago, o embaixador do Brasil, Paulo Roberto Soares Pacheco, afirmou que o posto do Itamaraty na capital chilena foi "participante na promoção" de "violações inaceitáveis" durante o golpe de estado de Augusto Pinochet, há 50 anos.

O discurso ocorreu nas presenças dos ministros Flávio Dino e Silvio Almeida, além de autoridades chilenas e da ONU. Para membros do governo, o tom usado e o reconhecimento foram históricos. Mesmo dentro do Itamaraty, o reconhecimento do papel do Brasil ao impedir que brasileiros no Chile buscassem refúgio na embaixada foi um "passo importante".

O embaixador participava da cerimônia para a instalação de uma placa comemorativa na Praça Brasil, em memória dos brasileiros vítimas do golpe de Estado no Chile, que completou 50 anos na segunda-feira. Uma segunda placa ainda será colocada na sede da embaixada.

Nas palavras do diplomata, as placas trazem os nomes de seis vidas perdidas "para as forças da intolerância no Brasil e no Chile". São eles Jane Vanini; Luiz Carlos de Almeida; Nelson de Souza Khol; Nilton Rosa da Silva; Túlio Quintiliano Cardoso; e Wânio José de Mattos.

No momento do golpe, brasileiros e outros que estavam na capital tentaram fugir da opressão buscando as embaixadas estrangeiras em Santiago. A sede da diplomacia brasileira, naquele momento vivendo um regime militar, fechou seus portões e não deu proteção.

"Nos últimos dias, tive o privilégio de ouvir, em primeira mão e com grande emoção, as histórias de muitos compatriotas que, durante os anos que antecederam o golpe de 1973 no Chile, se refugiaram aqui contra a violação de suas liberdades mais básicas pela ditadura estabelecida no Brasil em 1964", contou o embaixador.

"Essas histórias são comoventes, como exemplos da resiliência do espírito humano, mas também trazem uma particular e profunda indignação a um servidor de carreira do Itamaraty, já integrado ao Ministério no período da redemocratização", disse.

Um dos pontos destacados pelo embaixador foi a impossibilidade de que brasileiros encontrassem refúgio dentro da embaixada do país em Santiago, no momento do golpe de Pinochet.

"Perseguidos em seu país e enfrentando grandes riscos, meus compatriotas brasileiros não puderam encontrar na Embaixada do Brasil um lugar seguro para eles e suas famílias, nem um aliado em um dos deveres mais fundamentais de uma representação diplomática: o de assegurar a proteção de seus nacionais no exterior", admitiu.

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"Em vez disso, no belo edifício localizado entre a Avenida Libertador Bernardo O'Higgins e a Calle Padre Alonso de Ovalle, eles encontraram um participante na promoção dessas violações inaceitáveis", reconheceu.

Segundo ele, as violações também foram impostas sobre "vários colegas diplomáticos, por causa de suas opiniões políticas pessoais e até mesmo por causa de sua orientação sexual".

"Não há dúvida de que essa lamentável ação está muito distante das tradições da Casa de Rio Branco e do grande exemplo que nós, diplomatas, fomos legados por colegas como Luiz Martins de Souza Dantas e João Guimarães Rosa, que, diante da arbitrariedade, souberam colocar a defesa da vida humana em primeiro lugar", afirmou.

Destacando a solidariedade entre os povos dos dois países, o diplomata elogiou como "inúmeros cidadãos chilenos, nos anos que antecederam o golpe, garantiram aos meus compatriotas a proteção que lhes foi negada pelas autoridades brasileiras da época". E que continuaram a fazê-lo no período que se seguiu ao golpe de 1973, mesmo correndo riscos pessoais significativos.

Reportagem

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8 comentários

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Carlos Alberto Vieira Filho

Jamais esqueceremos!

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Ricardo Jorge de Aguiar Guedes

Nunca más! Nunca mais!

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Rubem de Barros Weber

Provocam, insuflam pra implantar a ditadura vermelha, depois reclamam da reação e alegam  lutar "pela democracia" !

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