Jamil Chade

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Países ricos cortam dinheiro e 4 milhões de venezuelanos ficam à deriva

A crise que já foi considerada como o maior fluxo de pessoas da história recente da América Latina hoje não desperta mais qualquer tipo de solidariedade dos grandes doadores internacionais.

A ONU soa um alerta sobre as condições consideradas como dramáticas pelas quais atravessam 4 milhões de refugiados e migrantes venezuelanos espalhados pelo continente americano. Se a entidade precisava de US$ 1,7 bilhão para sair ao resgate dessas pessoas, a ONU até agora recebeu meros 12% do orçamento necessário para 2023.

Na prática, a crise venezuelana está abandonada. A entidade estima que mais de 7,7 milhões de refugiados e migrantes da Venezuela estavam espalhados por todo o mundo em agosto de 2023. Mais de 6,5 milhões deles estão hospedados em 17 países da América Latina e do Caribe. Desses, mais da metade passa necessidade.

"Apesar dos esforços dos países anfitriões para regularizar e integrar os refugiados e migrantes da Venezuela, mais de 4 milhões de pessoas ainda enfrentam dificuldades de acesso a alimentos, abrigo, assistência médica, educação e emprego formal na América Latina e no Caribe", afirmou o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, em declaração nesta terça-feira.

Segundo a última Análise das Necessidades de Refugiados e Migrantes para 2023, milhões desses venezuelanos na região não têm oportunidades estáveis de subsistência, o que dificulta sua integração efetiva e sua contribuição para as comunidades anfitriãs.

A análise foi conduzida pela Plataforma de Coordenação Regional Interagências para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V), que é co-liderada pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e pelo Acnur, a Agência da ONU para Refugiados.

"Em meio a uma crise global e regional de custo de vida, os venezuelanos correm um risco maior de serem vítimas de abusos como tráfico de pessoas, recrutamento forçado e violência de gênero", disse.

O que aponta o levantamento:

19% das crianças refugiadas e migrantes não frequentam a escola e, em vez disso, sustentam suas famílias com empregos informais e mal remunerados para sobreviver.

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Metade dos venezuelanos na região está enfrentando barreiras para receber assistência médica e não pode pagar três refeições por dia ou ter acesso a moradia adequada"

Um terço dos refugiados e migrantes venezuelanos na América Latina e no Caribe não conseguiu regularizar sua situação e não tem condições de sustentar suas famílias por meio de empregos informais e mal remunerados.

Do US$ 1,72 bilhão solicitado pela ONU, apenas 12% das necessidades financeiras foram recebidas até o momento.

Na avaliação da entidade, "o aumento do financiamento para os países da região é extremamente necessário". "Novos investimentos podem salvar vidas, proporcionar estabilização duradoura e oportunidades de integração para milhões de refugiados e migrantes, incluindo aqueles de outras nacionalidades em trânsito, evitando que embarquem em jornadas perigosas", disse.

De acordo com o levantamento, embora mais de 60% dos refugiados e migrantes da Venezuela estejam documentados, isso não tem sido suficiente para garantir uma vida digna e acesso adequado aos direitos básicos.

"As iniciativas de regularização e documentação implementadas na região são o caminho para uma vida digna para as famílias venezuelanas", disse Eduardo Stein, Representante Especial Conjunto da OIM e do Acnur para Refugiados e Migrantes da Venezuela.

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