Jamil Chade

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Zelensky e Lula acertam encontro na ONU, mas divergem em saída para guerra

Após desencontros e um mal-estar diplomático, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vão finalmente se reunir nesta quarta-feira (20), em Nova York, no que será a primeira conversa bilateral entre os dois líderes de forma presencial.

O Palácio do Planalto confirmou ao UOL que o encontro está marcado para ocorrer por volta das 17h e que o convite foi feito pelo brasileiro. Ambos estão na cidade americana para participar da Assembleia Geral da ONU.

O ucraniano vai pedir que Lula aceite seu plano de paz como base para uma negociação, quer que o Brasil organize uma reunião entre Kiev e a América Latina e pedirá que o país coloque pressão sobre Moscou.

Há uma perspectiva de que Zelensky também reforce o convite para que Lula faça uma visita ao país. O brasileiro irá em 2024 para a cúpula do Brics, na Rússia. Em outras ocasiões, porém, Lula afastou a possibilidade de que a viagem possa ocorrer.

Já o brasileiro vai insistir com o ucraniano de que o plano não tem como prosperar se não incluir as preocupações russas de segurança e que é necessário negociar uma saída pacífica.

No mesmo dia, Lula também estará com Joe Biden, presidente dos EUA. Ainda que oficialmente a reunião com o americano seja para lidar da questão de direitos trabalhistas, assessores do Planalto acreditam que a crise ucraniana será mencionada.

Desde que assumiu a Presidência, Lula vem defendendo um possível papel do Brasil num processo de mediação diplomática para encerrar a guerra que eclodiu em fevereiro de 2022. Para isso, porém, seus assessores têm insistido que ele precisa manter contatos de mais alto nível tanto com Kiev como com Moscou.

De fato, o embaixador Celso Amorim foi um dos poucos interlocutores que esteve tanto com Zelensky, na capital ucraniana, como com Vladimir Putin, no Kremlin.

Zelensky, porém, insiste que o Brasil precisa adotar uma postura mais contundente na condenação à invasão russa. A diplomacia nacional tem outra percepção e alerta que a única saída para a guerra será uma negociação política que permita que os interesses de ambos os lados sejam contemplados. Para Amorim, a guerra deve ser entendida como mais um episódio da histórica rivalidade entre o Ocidente e russos e que as "legítimas" preocupações do Kremlin sobre sua segurança precisam ser consideradas.

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Lula, logo no início de seu governo, vetou qualquer gesto de apoio militar aos ucranianos, apesar da pressão de potências ocidentais. Na ONU nesta semana, o governo brasileiro deve condenar, uma vez mais, a agressão de Moscou.

Não dá sinais, entretanto, de que o presidente brasileiro esteja disposto a aceitar os termos do plano de paz que Zelensky sugere. Para o ucraniano, os russos devem se retirar de todos os territórios ocupados para que haja uma negociação. Vladimir Putin, presidente russo, já chegou a dizer a interlocutores brasileiros que tal exigência significaria a capitulação de Moscou.

Mal-estar entre os presidentes

Lula e Zelensky já mantiveram uma reunião por videoconferência. Na ocasião, o ucraniano pediu apoio do Brasil para que seu plano pudesse prosperar, mas Lula afirmou que não existe um plano de paz unilateral que tenha tido êxito na história.

A reunião ainda tenta superar um mal-estar criado durante a cúpula do G7, em maio. Naquele momento (dia 21 de maio), Zelensky não apareceu ao encontro marcado com Lula, apesar de o brasileiro ter oferecido três horários diferentes ao ucraniano. O pedido de reunião de Zelensky com Lula foi feito dois dias antes (19 de maio). Questionado se estava desapontado, o ucraniano disse em entrevista que achou uma decepção para o líder brasileiro. "Acho que isso o decepcionou", disse ele, sorrindo e arrancando risadas dos repórteres.

Dentro do governo, o gesto foi interpretado como uma tentativa do ucraniano de reduzir o papel internacional que o presidente brasileiro tentava assumir, numa possível mediação do conflito.

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Outro episódio que causou polêmica entre os ucranianos foi a decisão de Lula de não se levantar quando Zelensky entrou na sala dos líderes.

Mais recentemente, a sugestão de Lula de que Kiev deveria considerar abandonar a reivindicação pela Crimeia, anexada pelos russos, gerou irritação entre os ucranianos. O presidente brasileiro também foi criticado por declarar que Putin, alvo de um mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional, não seria preso se fosse ao Brasil. Lula, um dia depois, recuou.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, discursa em sessão de abertura de encontro da ONU. em Nova York
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, discursa em sessão de abertura de encontro da ONU. em Nova York Imagem: TIMOTHY A. CLARY / AFP

Veja as reuniões bilaterais de Lula já confirmadas em Nova York (horário de Brasília):

Terça

  • 9h40 - Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres
  • 16h - Presidente da República da Áustria, Alexander Van der Bellen
  • 17h - Primeiro-Ministro da República Federal da Alemanha, Olaf Scholz
  • 18h15 - Primeiro-Ministro do Reino da Noruega, Jonas Gahr Store
  • 19h - Presidente do Estado da Palestina e da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas
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Quarta

  • 14h - Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden
  • 17h - presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky
  • 18h - Diretor- Geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus
  • 19 - Presidente da República do Paraguai, Santiago Peña

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que informou a primeira versão do texto, o encontro será na quarta-feira, e não na terça. A coluna foi corrigida.

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