Jamil Chade

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Reportagem

EUA e Europa vetam iniciativa da Rússia na ONU; projeto do Brasil é adiado

Uma primeira tentativa de aprovar uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sobre a crise em Gaza fracassou na noite desta segunda-feira. O governo da Rússia pediu para que seu projeto de resolução propondo um "imediato cessar-fogo" fosse colocado à votação.

Mas o texto foi vetado pelos governos dos EUA, Reino Unido e França. Já o Brasil se absteve, enquanto a China deu seu voto ao projeto do Kremlin.

O texto russo teve cinco votos de apoio, seis abstenções e quatro contra (veja como votaram os 15 países).

Para ser aprovada, a resolução precisava de novo votos e nenhum veto dos membros permanentes.

Rússia não acredita em aprovação de projeto do Brasil

O Conselho de Segurança da ONU transferiu para esta terça-feira a votação sobre uma resolução proposta pelo Brasil, que busca acomodar os interesses de russos e americanos. Mas Moscou já alertou que não acredita que o projeto do Itamaraty consiga o apoio suficiente e considerou que o texto é "desequilibrado".

Ao deixar a reunião desta segunda-feira, o embaixador russo Vassily Nebenzia afirmou que há um esforço para esvaziar o texto do Itamaraty. O voto do texto brasileiro deveria também ter ocorrido nesta segunda-feira, mas a falta de entendimento levou os países a adiar por mais um dia a decisão.

Oportunismo de Putin

Inicialmente, foram os russos quem apresentaram um projeto de resolução, num ato interpretado como um oportunismo diplomático por parte de Vladimir Putin para se reposicionar no cenário internacional como um defensor da paz. O texto pedia um cessar-fogo, mas nem sequer mencionava o Hamas, e foi rejeitado pelo Ocidente.

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O documento também condenava a violência e pedia acesso aos civis, além de libertar os reféns israelenses. Mas seu conteúdo não foi considerado como suficiente pelos aliados de Israel.

Nesta segunda-feira, a tensão ficou clara assim que o embaixador do Brasil na ONU, Sergio Danese, iniciou a reunião. A representante dos Emirados Árabes Unidos solicitou que o encontro fosse suspenso e que os governos se retirassem para uma consulta a portas fechadas.

Mais de uma hora depois, a decisão foi por votar apenas o texto russo e deixar a proposta brasileira para amanhã. Foi Moscou quem insistiu em ter seu projeto submetido a uma decisão, no que foi visto como uma manobra para acusar o Ocidente de estar tentando impedir um cessar-fogo na região.

Ao longo dos últimos 50 anos, o governo americano já vetou 54 resoluções no Conselho de Segurança que denunciavam Israel.

Hoje, a embaixadora dos EUA, Linda Thomas Greenfield, chamou a iniciativa dos russos de "hipocrisia" e alertou que, ao não mencionar o Hamas, Moscou estava dando "cobertura" ao grupo palestino.

Já o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, pediu que o Conselho de Segurança defina o Hamas como um grupo terrorista, que a entidade palestina seja considerada como a "única responsável" pela atual crise e que se reconheça o direito de Israel de autodefesa.

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Russos e chineses criticam EUA

O veto dos EUA foi duramente criticado pelos russos. "Não podemos mais perder tempo. Vidas estão sendo perdidas", insistiu o embaixador russo Vassily Nebenzia, que criticou o imobilismo do Conselho. "É lamentável que o Conselho seja refém do egoísmo das delegações ocidentais", disse.

A China votou ao lado dos russos e insistiu que uma decisão rápida precisava ocorrer para impedir uma instabilidade internacional. "Questões humanitárias não podem ser politizadas e o conflito está se espalhando", alertou. Pequim fez um apelo para que Israel não promova "uma punição coletiva" sobre Gaza.

Riyad Mansour, embaixador palestino na ONU, criticou o fato de o cessar-fogo não ter sido aprovado e usou o encontro para atacar Israel e cobrar respostas da comunidade internacional. "Os palestinos já não acreditam que a ajuda está chegando", disse. "Não ousem dizer que Israel não é o responsável pelas bombas. Não culpem as vítimas. O que vemos é um massacre contra nossa população", insistiu o diplomata.

"Israel matou famílias inteiras e mais de mil crianças", alertou Mansour. "Como se justifica isso? Vocês sempre nos pedem para seguir o caminho da paz. Mas e eles?", disse.

O texto ainda teve o voto dos Emirados Árabes, Gabão e Moçambique, assim como o patrocínio de governos como o da Venezuela ou Indonésia.

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A posição do governo de Vladimir Putin foi criticada por outros. O governo da Suíça elogiou o trabalho brasileiro de mediação e insistiu que a resolução russa teria de citar o direito humanitário internacional, o que não havia sido incluído por Moscou.

A delegação do Japão, que votou contra, ainda questionou a insistência russa em colocar o texto em votação, o que mostrou a desunião da comunidade internacional. Já o governo do Equador, que se absteve, lamentou o fato de que os russos não tenham sequer condenado a ação do Hamas.

Voto do texto do Brasil ocorre nesta terça-feira

A derrota russa não significa o fim do debate da questão palestina. Para impedir um impasse, o Brasil - que preside o Conselho - submeteu aos governos um projeto alternativo.

Depois de um fim de semana de intensas negociações, a esperança do Itamaraty era de que o documento fosse considerado como equilibrado o suficiente para impedir que EUA ou Rússia vetassem os termos propostos pelo Brasil.

Pressionado pela Casa Branca, o Brasil havia aceitado retirar do texto original a referência a um cessar-fogo. O termo era considerado como inaceitável por parte dos EUA, já que poderia criar um problema para o apoio que Israel quer para manter sua guerra contra o Hamas.

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A alternativa apresentada pelo Itamaraty foi a de trocar o termo "cessar-fogo" por "pausa humanitária", período no qual alimentos e remédios poderiam ser distribuídos para a população de Gaza e quando feridos poderiam ser retirados.

Mas aí foram os russos que não concordaram. Moscou apresentou emendas ao texto brasileiro, sugerindo que o termo "cessar-fogo" fosse recolocado.

Condenar Israel e Hamas

Outro impasse foi a referência ao governo de Israel.

Na proposta, o texto brasileiro condenava os "ataques terroristas do Hamas" e pedia a libertação dos reféns israelenses, num sinal claro por parte do Brasil para evitar um veto dos EUA.

Mas o texto também fazia um apelo para que o governo de Benjamin Netanyahu abandonasse seu ultimato para que os palestinos deixem o norte da Faixa da Gaza e insistia que todos os atores devem respeitar o direito humanitário internacional.

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Mas, para os russos, havia um desequilíbrio entre como o Hamas era citado e Israel.

Moscou sugeriu que o texto trouxesse uma referência explícita de condenação aos "ataques indiscriminados contra Gaza", numa ação deliberada contra Israel e seus aliados Ocidentais. Mas essa referência não foi aceita pela Casa Branca.

O objetivo do Brasil era o de conseguir que nenhuma das potências usasse seu poder de veto. Uma abstenção por parte de um deles já seria suficiente para permitir que o texto seja aprovado.

Mas nada disso foi possível ainda. Há sete anos o Conselho da ONU não chega a um consenso sobre a questão entre Israel e Palestina. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que preside o órgão no mês de outubro, espera usar o encontro e a iniciativa para mostrar seu protagonismo em debates sobre a segurança internacional.

Mas o veto de hoje na resolução russa e o adiamento do voto brasileiro representam sinais claros da dificuldade que a comunidade internacional terá para chegar a um acordo.

Reportagem

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