EUA e Rússia pressionam Brasil para modificar resolução sobre Gaza na ONU
Faltando poucas horas para um voto decisivo na ONU sobre a resolução proposta pelo Brasil para dar uma resposta à crise na Faixa de Gaza, o Itamaraty é alvo de intensa pressão e lobby por parte dos governos de Joe Biden (EUA) e de Vladimir Putin (Rússia).
Diante da tensão nas negociações, não se descarta nem mesmo que o voto sobre o texto do governo brasileiro seja adiado.
O Brasil havia sugerido um projeto no qual se estabeleceria um "cessar-fogo humanitário" para permitir que os palestinos fossem atendidos. Mas o termo foi considerado como inaceitável pela Casa Branca, que teme que expressão possa sugerir que Israel não teria direito de se defender contra os ataques terroristas do Hamas.
No lugar de "cessar-fogo humanitário", a nova versão do texto brasileiro fala apenas em uma "pausa humanitária", período que seria usado para que os civis em Gaza possam ser atendidos.
Mas a mudança, desta vez, levou os russos a protestarem. Nas redes sociais, a diplomacia de Putin anunciou que iria apresentar emendas ao projeto brasileiro. Uma delas vai sugerir que seja restabelecido o termo "cessar-fogo".
Moscou ainda quer que o texto traga uma referência explícita de condenação aos "ataques indiscriminados contra Gaza", numa investida contra Israel e seus aliados ocidentais. Essa referência não será aceita pela Casa Branca.
No texto brasileiro, há uma condenação aos "atos terroristas do Hamas" e um apelo para que os reféns sejam liberados. Mas apenas faz um pedido a Israel que abandone seu ultimato para que o norte de Gaza seja evacuado, que civis sejam protegidos e lembra a todos que o direito internacional precisa ser respeitado. Para os russos, isso é pouco.
A Rússia, que tinha proposto uma resolução na sexta-feira e que foi alvo de questionamentos por parte do Ocidente, insiste que é o seu texto que melhor atende ao cenário atual.
"Estamos convencidos de que nosso projeto atende às necessidades humanitárias da população civil de Gaza e não contém elementos políticos que podem dividir o Conselho de Segurança da ONU", disse o embaixador russo Dmitry Polyanskiy.
Segundo ele, foi por esse motivo que Moscou decidiu apresentar as emendas ao texto brasileiro.
Questionado sobre o anúncio dos russos sobre as emendas ao texto brasileiro, o Itamaraty apenas indicou que estava em diálogo com todos os governos.
O objetivo do Brasil é que nenhuma das potências vete o texto — a abstenção permitiria que a proposta seja aprovada.
A reunião do Conselho está marcada para ocorrer nesta segunda-feira, em Nova York, e começa às 19h de Brasília.
Há sete anos o Conselho da ONU não chega a um consenso sobre a questão entre Israel e Palestina. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que preside o órgão no mês de outubro, espera usar o encontro e a iniciativa para mostrar seu protagonismo em debates sobre a segurança internacional.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
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