EUA alertam Irã, e ONU diz que conflito corre risco de se espalhar
A reunião de hoje do Conselho de Segurança da ONU revelou a dimensão de uma crise internacional sem precedentes gerada pela guerra entre Israel e o Hamas.
No encontro, os EUA lançaram um alerta ao governo do Irã, Israel se recusou a falar em um cessar-fogo e pediu a demissão da cúpula da ONU, enquanto que o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que a guerra corre o risco de se espalhar pela região. Para ele, é urgente que um cessar-fogo humanitário seja estabelecido.
A situação no Oriente Médio está se tornando mais terrível a cada hora. A guerra em Gaza está em andamento e corre o risco de se espalhar por toda a região. As divisões estão fragmentando as sociedades. As tensões ameaçam transbordar
António Guterres
Tor Wennesland, representante da ONU para a situação no Oriente Médio, também soou seu alerta:
Há muito em jogo. Qualquer erro de cálculo seria devastador
Tor Wennesland
A reunião havia sido convocada pelo Brasil, na esperança de debater a crise no Oriente Médio e votar uma resolução proposta pelos EUA. Mas as potências não conseguem chegar a um acordo sobre como lidar com a situação. Segundo Guterres, a situação é cada vez mais difícil e existe um risco de que a tensão saia do controle.
Mas, para o governo de Israel, não há como falar em cessar-fogo. Guterres causou ainda a ira dos israelenses ao dizer que os ataques do Hamas "não aconteceram no vácuo". A diplomacia de Benjamin Netanyahu imediatamente cancelou as reuniões com o chefe da ONU e pediu sua demissão.
"O discurso chocante do secretário-geral, enquanto foguetes são disparados contra Israel, provou que ele está completamente desconectado da realidade de nossa região e vê o massacre cometido pelo Hamas de forma imoral", declarou o embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan.
"Peço que ele (Guterres) renuncie imediatamente", insistiu. "Não há sentido falar com quem demonstra compaixão pelas mais terríveis atrocidades cometidas contra israelenses e o povo judeu", disse.
Horas depois, o mesmo diplomata disse que a única forma de Guterres manter seu cargo seria se o português pedisse desculpas pela declaração. Mas a ONU confirmou que, apesar do discurso do diplomata, as famílias das vítimas israelenses foram recebidas pelo chefe da organização.
Conforme o UOL revelou há duas semanas, a relação entre a ONU e o governo de Israel se degradou desde o dia 7 de outubro. Em cartas sigilosas, o governo de Netanyahu tem criticado alguns dos principais nomes da entidade e exigido que uma condenação do Hamas seja o centro das atenções das Nações Unidas.
Em um discurso ao conselho, o chanceler israelense, Eli Cohen, ampliou a tensão com a entidade. Ele se recusou a falar em um cessar-fogo, criticou a ONU e deixou claro que seu país vai vencer a guerra.
O que seria a resposta proporcional de matar crianças? Como concordar com cessar-fogo com alguém que quer te destruir? A resposta proporcional é total destruição do Hamas. Não é só nosso direito. Mas nosso dever
Eli Cohen
"O Ocidente é o próximo. Hoje foi em Israel. Amanhã estarão na porta de todos. O sonho deles (Hamas) é o mundo, igual aos nazistas", afirmou, apelando para que todos os países considerem o Hamas como terroristas. Para ele, há uma provocação ocorrendo para que outras forças também entrem na guerra.
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JAMIL CHADE
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Antony Blinken, chefe da diplomacia dos EUA, também admitiu para o risco de que o conflito se espalhe e sinalizou que irá debater uma saída com a China, que mandará seu chanceler para Washington nos próximos dias.
O recado do americano, porém, foi direcionado aos iranianos. Segundo ele, se houver qualquer ataque, o governo de Joe Biden irá responder. "Não joguem combustível no fogo", disse.
"Um conflito maior seria devastador", disse. Para ele, governos devem mandar recados a todos os atores na região para que não abram novas frentes contra Israel. Ele também denunciou a atuação de Teerã.
Não queremos que a guerra se amplie. Mas se o Irã atacar nossos cidadãos, não tenham dúvidas: vamos nos defender (...) Estamos numa encruzilhada
Antony Blinken
Tensão e acusações mútuas
O encontro foi marcado por tensão. Guterres fez questão de condenar o Hamas e a tomada de reféns israelenses. "Pedimos que eles sejam soltos imediatamente", disse. Mas alertou que a crise "não ocorre num vácuo". "Os palestinos vivem por 56 anos sufocados por uma ocupação", afirmou.
Para ele, porém, nem a causa palestina nem o argumento de segurança de Israel justificam a violência. Denunciando o Hamas, Guterres deixou claro que a população palestina não pode ser usada como escudos humanos. Mas também criticou Israel e alertou que ordenar a evacuação de 1 milhão de pessoas não era aceitável.
"Nenhuma parte está acima da lei", disse.
As queixas do povo palestino não podem justificar os terríveis ataques do Hamas. E esses ataques terríveis não podem justificar a punição coletiva do povo palestino
António Guterres
O chefe da ONU ainda pediu que um cessar-fogo humanitário seja imediatamente estabelecido. Segundo ele, o que conseguiu entrar em Gaza é "um pingo de ajuda num oceano de necessidades".
Segundo ele, os estoques de materiais da ONU na região vão acabar nos próximos dias. "Será um desastre", afirmou.
Lynn Hastings, representante da Operação Humanitária da ONU, chamou o sofrimento dos palestinos de "épico" e apontou que, se combustível não entrar em Gaza, todos serviços aos palestinos serão paralisados.
Palestinos criticam indignação seletiva
"Pare o derramamento de sangue. Não há ajuda humanitária que será suficiente enquanto as mortes não pararem", declarou Riyad al Maliki, chanceler palestino, ao Conselho de Segurança. Para ele, deve haver uma declaração imediata de um "fim das agressões" e o estabelecimento de corredores humanitários".
Segundo ele, foram mais de 5.700 mortos em Gaza até agora, sendo 2.000 crianças. "Ao final dessa reunião, 150 palestinos terão morrido", alertou.
Maliki ainda criticou a indignação dos demais governos em relação aos israelenses, sem que o mesmo sentimento seja demonstrado em relação aos palestinos.
Onde está a indignação diante da morte de famílias palestinas?
Riyad al Maliki
Segundo ele, se não houver uma mobilização pelos palestinos, a mensagem será de que Israel poderá continuar com os ataques. Para Maliki, "o mínimo que se pode dizer é que Israel comete algo desumano". "São crimes", denunciou.
O chanceler ainda cobrou da comunidade internacional uma resposta:
Sua consciência humana não se ofende pela ocupação de Israel e pelo que ocorre hoje?
Riyad al Maliki
Israel critica a ONU e diz que "Hamas é o novo nazismo"
Uma posição radicalmente diferente foi tomada pelo governo de Israel. Nomeando as crianças que foram vítimas do Hamas e a dor das famílias, o chanceler israelense Eli Cohen criticou Guterres. "Em que mundo o senhor vive? Não é o nosso mundo", disse.
Em seu discurso, o chefe da diplomacia israelense descreveu com detalhes o massacre cometido pelo grupo palestino. "Você não esteve lá", disse Cohen.
O Hamas é o novo nazismo (...) Da mesma forma que o mundo se uniu contra o nazismo e contra o Estado Islâmico, a comunidade internacional precisa se unir contra o Hamas
Eli Cohen
O chanceler fez um apelo para que os reféns israelenses sejam soltos imediatamente. A reunião do Conselho de Segurança ainda contou com as famílias das vítimas, que pediam ação dos governos para condenar o Hamas.
"Essa reunião deve terminar uma mensagem clara: tragam eles de volta para casa", disse o ministro, que ainda apresentou áudios com vozes de membros do Hamas.
Cohen deixou claro seus ataques contra Guterres. Segundo ele, se não houver uma resposta, "essa será a hora mais sombria da ONU, sob sua gestão. "Esse local (Conselho) não terá motivo para existir", alertou.
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