Jamil Chade

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Reportagem

ONU: sem combustível, ajuda a palestinos pode acabar nesta quarta-feira

A ONU alerta que, sem a entrada de combustíveis para a Faixa de Gaza, hospitais e distribuições de água e alimentos podem parar na noite nesta quarta-feira.

Nesta manhã, em Genebra, a porta-voz da agência da ONU para Refugiados Palestinos, Tamares Alrifai, deixou claro que os estoques mantidos pela organização estão acabando. Para a entidade, o que existe dentro de Gaza pode esgotar na noite de quarta-feira.

O alerta ocorre no mesmo dia em que o Conselho de Segurança da ONU se reúne para considerar, uma vez mais, uma resolução sobre a crise no Oriente Médio. Desta vez, o projeto é do governo dos EUA que, na semana passada, vetou uma resolução do Brasil propondo a criação de uma pausa humanitária.

No fim de semana, a passagem em Rafah, na fronteira entre o Egito e Gaza, foi aberta para apenas 20 caminhões por dia, um volume considerado como insuficiente. Para completar, Israel impede que combustível possa entrar, alegando que isso acabaria nas mãos do Hamas.

Segundo Tamares, antes do novo capítulo da crise, cerca de 500 caminhões entravam em Gaza diariamente, dos quais 45 eram exclusivamente com combustível. Para complicar, parte das doações não conseguem ser usadas. "Sacos de arroz ou lentilhas foram enviados. Mas não há nem água e nem combustível para cozinhar", alertou.

Para a ONU, sem combustível, toda a operação de ajuda vai ser congelada a partir de quarta-feira. "Pedimos que o combustível possa entrar", afirmou Tamares.

As autoridades de Israel acusam o Hamas de estar mantendo o combustível, impedindo que o material chegue à população.

Hoje, segundo a ONU, 58 clínicas já deixam de funcionar em Gaza e filas para pão chegam a 6 horas. Superlotados, os abrigos da ONU em Gaza vivem tensão, escassez e violência. Os dados ainda apontam que chega a quase 3 mil o número de crianças mortas ou desaparecidas em Gaza.

"Estamos em nossos joelhos implorando para que haja um espaço humanitário", declarou a OMS, nesta terça-feira.

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De acordo com a ONU, is bombardeios israelenses por ar e terra "se intensificaram durante a noite em toda a Faixa de Gaza". Na noite entre Os militares israelenses indicaram que atacaram 320 alvos, um aumento de três vezes em relação aos dias anteriores.


Eis algumas das principais conclusões do levantamento da ONU:


5.087 palestinos foram mortos, incluindo pelo menos 2.055 crianças e 1.119 mulheres, e cerca de 15.273 ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde em Gaza. O número de vítimas fatais relatado em Gaza durante os 17 dias de hostilidades é mais do que o dobro do número total durante os 50 dias de hostilidades em 2014.

Cerca de 1.500 pessoas, incluindo pelo menos 800 crianças, foram dadas como desaparecidas e presume-se que estejam presas ou mortas sob os escombros.

Em 23 de outubro, a passagem de Rafah para o Egito foi aberta pelo terceiro dia consecutivo, permitindo a entrada de 20 caminhões com alimentos, água e suprimentos médicos. Isso equivale a cerca de quatro por cento do volume médio diário de mercadorias que entravam em Gaza antes das hostilidades. Nenhuma das remessas de ajuda incluiu o combustível extremamente necessário para abastecer hospitais e instalações de água.

Hospitais fechados

Em 23 de outubro, cinco hospitais ergueram tendas em seus complexos para lidar com a superlotação. O hospital Shifa, o maior da Faixa de Gaza, está atualmente tratando cerca de 5.000 pacientes, muito acima de sua capacidade de 700 pacientes, e hospedando cerca de 45.000 pessoas.

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Desde 7 de outubro, 12 hospitais e 46 clínicas de atendimento primário em Gaza foram forçados a fechar devido aos danos sofridos ou à falta de eletricidade e suprimentos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) documentou 72 ataques a serviços de saúde na Faixa de Gaza, que resultaram em 16 mortes e 30 ferimentos em profissionais de saúde em serviço. Os ataques afetaram 34 instalações de saúde e 24 ambulâncias.

Esses e outros hospitais estão à beira do colapso devido à falta de eletricidade, medicamentos, equipamentos e pessoal especializado. Os estoques de medicamentos da ONU estão diminuindo drasticamente, com diferentes medicamentos disponíveis por mais 5 a 15 dias.

Além da escassez de combustível, as operações dos hospitais são prejudicadas pela quebra recorrente e pelo mau funcionamento dos geradores de reserva, que não foram projetados para operar ininterruptamente. Sua manutenção e reparo são cada vez mais difíceis devido à falta de peças de reposição necessárias.

O Ministério da Saúde em Gaza solicitou o envio de equipes médicas internacionais, especialmente aquelas com experiência em cuidados cirúrgicos e de trauma, para aumentar a capacidade dos hospitais e aliviar os profissionais de saúde que têm trabalhado incansavelmente nos últimos 17 dias. Embora 14 equipes de todo o mundo estejam de prontidão, elas não podem ser enviadas devido ao cerco imposto por Israel.

Os pacientes com insuficiência renal estão correndo risco de vida. Antes de 7 de outubro, o Ministério da Saúde de Gaza estava operando serviços de diálise renal em seis centros, realizando cerca de 13.000 sessões de diálise por mês. Entretanto, a grave escassez de combustível e de suprimentos médicos essenciais obrigou esses centros a reduzir as sessões de diálise de 4 para 2,5 horas para mais de 1.000 pacientes, incluindo pelo menos 30 crianças.

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Os pacientes com insuficiência renal agora temem que, em breve, não possam ter acesso a esses serviços vitais de diálise. Os suprimentos do Ministério da Saúde de filtros para diálise renal, cânulas e tubos de transferência de sangue estão totalmente esgotados, restando apenas uma quantidade limitada nos departamentos de diálise renal.


Superlotação em abrigos

Estima-se que haja 1,4 milhão de deslocados em Gaza, com cerca de 590 mil abrigados em 150 abrigos de emergência designados pela UNRWA, a agência da ONU para Refugiados Palestinos.

A superlotação é uma preocupação crescente, já que o número médio de deslocados internos por abrigo atingiu mais de 2,5 vezes a capacidade designada.

O número de deslocados chegou a 4.400 em muitos abrigos, embora eles tenham sido projetados para receber de 1.500 a 2.000 pessoas. Em muitos abrigos, até 70 pessoas são acomodadas em uma sala de aula. Para garantir um ambiente mais seguro, à noite, mulheres e crianças permanecem nas salas de aula, enquanto homens e meninos adolescentes ficam ao ar livre, no pátio da escola. A superlotação e a escassez de suprimentos básicos provocaram tensões entre os deslocados internos, além de relatos de violência de gênero.

Centenas, e possivelmente milhares, de deslocados internos estão retornando ao norte, devido aos bombardeios contínuos no sul e à incapacidade de encontrar abrigo adequado.

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Destruição

O Ministério de Obras Públicas de Gaza informou a destruição de 15.749 unidades habitacionais e a inabilitação de 10.935 outras unidades, até 21 de outubro. Outras 142.500 unidades habitacionais sofreram danos leves a moderados. O número total de unidades habitacionais relatadas como destruídas ou danificadas corresponde a pelo menos 43% de todas as unidades habitacionais na Faixa de Gaza. Bairros inteiros foram destruídos.

Padarias fechadas e filas de seis horas

Atualmente, apenas cinco das 24 padarias contratadas pelo Programa Mundial de Alimentos estão funcionando e fornecendo pão para os abrigos. A escassez de combustível é o principal obstáculo que impede essas padarias de atender à demanda local por pão fresco, colocando-as em risco de fechar as portas.

As padarias estão enfrentando dificuldades, com longas filas formadas antes do amanhecer. O tempo médio de espera é de seis horas.

17 das 202 lojas contratadas pela ONU foram forçadas a fechar. Esse fechamento é resultado da destruição causada pelas hostilidades ou devido a preocupações com a segurança e estradas bloqueadas causadas por escombros.

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Em 21 de outubro, a ONU indicou que os estoques de gêneros alimentícios essenciais em Gaza eram suficientes para cerca de 13 dias. Apesar da disponibilidade de itens alimentícios essenciais, os varejistas estão enfrentando desafios significativos ao reabastecer os atacadistas locais devido à destruição generalizada e à insegurança.

Funcionários da ONU mortos

Desde o início das hostilidades, pelo menos 16 profissionais de saúde foram mortos em serviço, juntamente com 35 funcionários da UNRWA, seis dos quais foram mortos nas últimas 24 horas.

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