Brasileiros decolam do Cairo e tentam resgatar parentes que ficaram em Gaza
O grupo de 32 pessoas formado por brasileiros e parentes que conseguiram sair de Gaza no fim de semana iniciou, na manhã de hoje, o trajeto entre o Cairo e Brasília. O voo organizado pelo governo brasileiro decolou do Egito às 11h51 do horário local (6h51 de Brasília) e a previsão é a de que chegue a Brasília às 23h30 de hoje.
Mas longe de terminar uma saga de mais de um mês, a viagem é marcada pelo desejo de vários deles de iniciar um processo para retirar do território palestino o restante de suas famílias.
Ao UOL, um dos passageiros que embarcou nesta manhã, Hasan Rabee, deixou claro quais são seus projetos ao chegar nesta noite em Brasília:
Quero trazer minha família ao Brasil. Não há outro plano
Hasan Rabee, brasileiros que deixou Gaza
Ele ficou conhecido por seus vídeos que descreveram o cotidiano das famílias brasileiras em Gaza. Mas deixou para trás três pessoas que, agora, espera poder socorrer.
O Itamaraty informou ao UOL que está avaliando os pedidos. Mas alertou que, neste momento, não se sabe nem quantas pessoas estariam interessadas e nem quando haveria uma nova possibilidade dada pelos israelenses para que listas sejam apresentadas com estrangeiros ou parentes que consideram sair.
Diplomatas brasileiros explicaram que, quando a guerra começou, Israel deu um prazo para que listas de nomes fossem apresentadas por cada um dos governos. Como ocorre em todas as embaixadas do Brasil pelo mundo, nem todos os brasileiros naquele local estão registrados nas representações do Itamaraty. Essa também era a situação com o posto brasileiro em Ramallah.
Depois de encerrada as inscrições, outras pessoas se mostraram interessadas em sair. Mas já não puderam ter seus nomes adicionados às listas.
Algumas estimativas apontam que haveria o interesse de pelo menos mais 40 pessoas. No caso dos brasileiros que já embarcam ao país, vários deles demonstram o mesmo objetivo de Hasan. O governo aponta que, neste estágio, está ainda considerando a nova lista.
Se parte do grupo pensa em retirar mais gente de Gaza, outros não disfarçam o alívio com a partida.
"Estou calma, estou feliz e estou animada", disse ao UOL Shahed Al Banna, de 18 anos. Ela é de São Paulo. Mas estava em Gaza há um ano e meio.
"Eu não vejo a hora de chegar ao Brasil", afirmou por telefone, já no ônibus que a levava do Cairo ao aeroporto.
Depois de mais de um mês de incertezas, tensão e lobby diplomático intenso, os 32 brasileiros e seus dependentes que estavam em Gaza finalmente cruzaram a fronteira neste domingo para o Egito e deixaram a zona atingida pela guerra que já fez mais de 11 mil mortos.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberOs brasileiros estavam na lista de nomes que poderiam deixar Gaza e, usando a passagem de fronteira de Rafah, entraram no Egito. Mas, enquanto faziam o percurso até a fronteira na sexta-feira, um impasse entre israelenses, egípcios e o Hamas novamente fechou a passagem e eles voltaram a ficar retidos.
Pelas regras do acordo que existe para a saída de pessoas de Gaza, a prioridade é dada para as ambulâncias que transportam feridos. Nos últimos dias, Israel acusou o Hamas de tentar esconder seus membros nas ambulâncias e o acordo foi suspenso.
Na sexta-feira, o impasse aumentou diante da forte presença militar israelense e combates ao redor de hospitais, que impediram a saída de ambulâncias.
Neste domingo, porém, houve um acerto e, depois da retomada do fluxo de feridos, foi a vez de os brasileiros e outros estrangeiros passarem pela fronteira.
O caso da evacuação vinha criando uma tensão entre o governo de Israel e o governo brasileiro. Os israelenses haviam sinalizado que a saída poderia ocorrer na quarta-feira. Mas, depois de dois atrasos sucessivos, os nomes finalmente foram incluídos na lista.
A espera de um mês gerou tensão e fortes preocupações dentro do governo brasileiro. No Itamaraty, essa retirada era considerada como prioridade. Qualquer incidente que pudesse causar a morte de um deles seria vista como um fracasso diplomático do governo, com elevado custo político.
Mesmo as ingerências do governo de Israel no Brasil e atos vistos como provocações por parte da diplomacia israelense foram abafados pelo Itamaraty para impedir que "ruídos" atrasassem ainda mais a liberação dos brasileiros.
Trajeto
Ao cruzar a fronteira para o Egito, os brasileiros foram levados até a capital do país. No Cairo, pernoitaram e, nesta manhã, embarcam no vôo da FAB que os aguardava.
Antes de chegar ao Brasil, o jato disponibilizado pela presidência fará paradas para abastecimento em Las Palmas (Espanha) e no Recife. Originalmente, havia uma parada em Roma também, mas a FAB mudou a rota. Só na noite de segunda-feira é que o avião deve aterrizar em Brasília. A expectativa é de que o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva os receba na base aérea, num sinal claro da importância política que a operação tem.
Além dos 32 nomes de brasileiros e seus dependentes, havia um total de quase 600 pessoas que seriam beneficiadas pela última lista de pessoas que poderiam deixar Gaza, incluindo russos e chineses.
Metade não tem onde ficar e governo prepara abrigo
No total, o avião transporta 17 crianças, nove mulheres e seis homens: 22 brasileiros e dez palestinos familiares dos brasileiros trazidos no décimo resgate da zona de conflito no Oriente Médio. Antes de embarcar, no Cairo, foram recepcionados por equipes médicas e de psicólogos.
Na chegada ao Brasil, o governo colocou à disposição serviços de abrigo, documentação e alimentação, além de apoio psicológico, cuidados médicos e imunização. Nos próximos dois dias, eles ficarão em Brasília para descanso numa estrutura da FAB.
Se alguns brasileiros contam com parentes no país, mais da metade não tem onde ficar.
"O Governo Federal já preparou, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social, um local onde essas pessoas ficarão acolhidas no interior de São Paulo", explicou Augusto de Arruda Botelho, secretário nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Segundo ele, não há um prazo para esse atendimento. "Estamos preparados para o tempo que for necessário, para que essas pessoas possam se integrar ao país. Não há prazo limite fixado. Eles ficarão em um local com longa experiência de acolhimento de refugiados da forma mais completa, mais digna, sem prazo", completou Arruda Botelho.
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