Jamil Chade

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Evento de editoras independentes em Paraty tem ação da polícia


A Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (FLIPEI), que ocorreu na semana passada em Paraty, afirma ter sido perturbada pela ação da polícia. Numa nota divulgada nesta quinta-feira, os organizadores do evento que reuniu intelectuais, ativistas, artistas e movimentos sociais revelaram detalhes de como as forças de ordem tentaram encerrar as atividades, impedindo que músicos continuassem suas apresentações.

A Flipei ocorreu em paralelo à tradicional Flip e, a cada ano, reúne um número cada vez maior de participantes, debates e convidados.

Segundo a nota divulgada pelos organizadores, no dia 22, quarta-feira, a Casa Azul, organizadora da FLIP, encaminhou por e-mail um ofício emitido pela Procuradora da Prefeitura de Paraty um dia antes (21), informando que as atividades após as 23h59 deveriam ser canceladas. Eles afirmam que o comunicado foi enviado horas antes de o evento começar.

"Na reta final da montagem, fomos surpreendidos pela presença ostensiva da polícia buscando encerrar o show do KL Jay, do Racionais Mc's, antes mesmo de seu início", apontou a Flipei.

"A apresentação, após árdua negociação, ficou reduzida a apenas trinta minutos, sendo que os últimos 15 minutos tivemos a presença não autorizada da polícia dentro da nossa cabine técnica", destacou.

Segundo eles, no dia seguinte, 23, os organizadores foram à prefeitura "tentar entender o que estava acontecendo, já que nos anos anteriores e de diversos festivais que acontecem em Paraty, como o Bourbon, a Festa de Ano Novo, o Carnaval, entre outros, possuem permissão para funcionar, pelo menos, até 2h da manhã, sem intervenção policial".

"Também avisamos à Casa Azul que a Prefeitura estava utilizando de seu poder de polícia com base em um documento encaminhado pela própria entidade para encerrar nossas atividades no horário, em tese, solicitado por eles", explicaram.

Após algumas horas de negociação, a Casa Azul encaminhou uma nova solicitação ao poder público municipal, requerendo uma mudança no horário limite das atividades em suas casas parceiras, incluindo aí a FLIPEI.

O documento mencionava que o horário limite passasse a ser 2h. "No entanto, na quinta e na sexta-feira, 23 e 24, fomos informados que já não havia mais tempo de mudar a rotina do efetivo policial que estava na cidade. Após muita negociação com a Polícia Militar, a Prefeitura e a Casa Azul, conseguimos estender nosso horário para 1h50 no sábado", indicou a nota.

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Histórico de ataques

De acordo com os organizadores, essa não é a primeira vez que o evento sofre perturbações. Em 2019, ele foi marcado pela ausência da polícia enquanto eram atacados "por rojões de bolsonaristas contrários à participação de Glenn Greenwald".

Agora, dizem eles, "foi o excesso de policiamento ostensivo e a falta de flexibilidade e compreensão do poder público que acabou prejudicando o desempenho do evento".

Segundo eles, a FLIPEI não foi convidada oficialmente para nenhuma reunião com a Prefeitura ou com a Casa Azul sobre a temática dos horários de funcionamento ou qualquer outro ajuste necessário.

No comunicado, os organizadores insistem que estão dispostos a participar dessas conversas. Mas, ainda assim, questionam: "Talvez este seja um momento em que todos possam se perguntar: por que a FLIPEI teve novamente suas atividades prejudicadas em 2023?"

Prefeitura responde

Procurada pela reportagem do UOL, a Prefeitura de Paraty informou que "o limite de horário para os eventos relacionados à Flip até a meia noite foi definido e formalizado pela Casa Azul, responsável pela organização da festa literária e a quem caberia ter informado previamente as entidades e organizações parceiras da festa".

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"Todo planejamento e protocolo de segurança pública da Polícia Militar, que inclui mais duas horas de dispersão após o último evento, foi feito considerando esse horário de meia-noite. Quando tomou conhecimento que a programação da Flipei se estenderia além da meia-noite, a Secretaria Municipal de Cultura buscou uma flexibilização, conseguindo, em comum acordo com a Casa Azul e com as autoridades policiais, viabilizar a realização dos eventos por mais uma hora", alegou.

"O reforço no policiamento para eventos do porte da Flip é procedimento padrão e o objetivo foi garantir a segurança de todos os participantes da festa literária", indicou.

Evento cresce, atrai público e personalidades internacionais

Ainda assim, a FLIPEI considerou que seu evento que durou cinco dias teve "um sucesso estrondoso".

"Mesmo tendo que lidar com a polícia, a chuva e a falta de energia na cidade, a FLIPEI se consolida como uma das maiores casas parceiras da FLIP e um dos principais eventos de esquerda no país", afirmou.

Foram mais de 160 convidados e 37 atividades, enquanto sua livraria vendeu 65% a mais que no ano passado e o público mais que dobrou em todas as mesas, com 5 mil pessoas por dia. O evento ainda contou com nomes internacionais, como Silvia Federici e Veronica Gago.

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Segundo eles, o evento "impactou diretamente a economia da cidade, gerando trabalho e fazendo circular diretamente a economia local entre pousadas vinculadas ao evento e locação de estruturas".

Para a edição de 2023, o evento se aliou ao Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) e vem estreitado laços com os movimentos culturais e sociais locais. Essa articulação fez a programação receber lideranças sociais locais, como Vania Guerra da Comunidade da Marambaia, Ivanildes Kerexu, da comunidade Guarani Mbya, Ronaldo Santos e Ariane Martins, do Quilombo do Campinho e Mauriceia Pimenta, caiçara da praia de São Gonçalo.

Entre as ações, eles criaram um intercâmbio cultural entre o grupo de rap Realidade Negra (RN), do Quilombo do Campinho, com o KL Jay, fundador do Racionais MC`c.

Com o Laboratório de Estudos Antirracista e anti-eurocolonialista (LEAA-E) , os organizadores ainda visitaram escolas locais.

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