Lula ataca potências que 'lucram com guerra' e fala em reduzir petróleo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou a abertura da COP28, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, num palco de denúncias contra países ricos e contra aqueles que não cumprem acordos internacionais.
Falando nesta manhã nos Emirados Árabes Unidos, Lula:
- Criticou as principais potências pelo fracasso no cumprimento de tratados
- Denunciou aqueles que "lucram com a guerra"
- Disse que o planeta está "farto" de "discursos vazios" e cobrou dos ricos a prometida ajuda aos países em desenvolvimento
- Disse que quer acelerar a redução da dependência em relação ao petróleo.
Em seu discurso, Lula desafiou os demais presidentes e chefes de governos. "Precisamos de atitudes", disse.
Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta?
Luiz Inácio Lula da Silva
Com o Brasil pressionado por anos por causa do desmatamento, Lula quer usar a COP28 para tentar inverter a lógica e colocar o ônus pela crise climática sobre os países ricos. O presidente foi um dos poucos a discursar na abertura do evento, por ser o anfitrião da COP30, na Amazônia. Lula voltará a discursar ainda hoje durante o evento.
Em sua primeira fala, porém, o brasileiro destacou que, enquanto os acordos climáticos são ignorados, o mundo destina US$ 2,2 trilhões em armas.
Essa quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática
Lula
O brasileiro ainda questionou qual o volume de emissões de mísseis que matam.
Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças e mulheres famintas?
Lula
Ele lembrou que, em 2009, na COP15, em Copenhague, a arquitetura da Convenção do Clima estava à beira do colapso. "As negociações fracassaram e foi preciso um grande esforço para recuperar a confiança e chegar ao Acordo de Paris, em 2015", disse.
"Ao retornar à presidência do Brasil, constato que estamos, hoje, em situação semelhante", lamentou.
Ele denunciou governos que não cumprem os tratados. "O não cumprimento dos compromissos assumidos corrói a credibilidade do regime. É preciso resgatar a crença no multilateralismo", disse.
O brasileiro ainda fez um ataque frontal às potências e denunciou o fato de que a ONU já não consegue barrar uma guerra.
"É inexplicável que a ONU, apesar de seus esforços, se mostre incapaz de manter a paz, simplesmente porque alguns dos seus membros lucram com a guerra", disse.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receber"É lamentável que acordos como o Protocolo de Kyoto (1997) ou os Acordos de Paris (2015) não sejam implementados. Governantes não podem se eximir de suas responsabilidades", afirmou.
Conta chegou antes
Lula ainda insistiu que o planeta já cobra sua conta, diante do impacto ambiental causado. Segundo ele, existia a percepção de que não era a geração que destrói quem pagaria o preço pela crise, enquanto a ONU apontou que o mundo teria até 2030 para limitar o aumento de temperatura em 1,5 grau Celsius.
Mas, segundo o brasileiro, a realidade já é outra. "2023 já é o mais quente em 125 mil anos", disse, fazendo referências aos impactos da seca no Norte do Brasil, onda de calor e chuvas no Sul.
"A humanidade sofre com secas, enchentes e ondas de calor cada vez mais extremas e frequentes. No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte", disse.
Lula ataca quem não cumpre acordos e diz que planeta está farto de discursos vazios
O discurso ainda foi usado por Lula para inverter a pressão sofrida pelo Brasil e coloca o peso da ação sobre os países que mais emitem CO2. "A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes. O planeta já não espera para cobrar da próxima geração. O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos", disse.
Segundo ele, o mundo está farto "de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas, do auxílio financeiro aos países pobres que não chega, de discursos eloquentes e vazios".
Desde o início de seu mandato, Lula tem sido duro ao cobrar os países ricos pelas promessas feitas ainda em 2009 de que iriam transferir US$ 100 bilhões por ano para ajudar os emergentes e países pobres a fazer a transição energética e climática.
Descarbonizar e reduzir dependência ao petróleo
Lula ainda usou o discurso para dizer que o Brasil está "disposto a liderar pelo exemplo" e fez referência explícitas ao processo de redução de dependência ao petróleo.
"O mundo já está convencido do potencial das energias renováveis", disse. "É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis", defendeu.
"Temos de fazê-lo de forma urgente e justa", alertou.
Ele ainda apontou que as metas brasileiras são mais ambiciosas que de países ricos. "Ajustamos nossas metas climáticas, que são hoje mais ambiciosas do que as de muitos países desenvolvidos", disse. "Reduzimos drasticamente o desmatamento na Amazônia e vamos zerá-lo até 2030", afirmou, destacando ainda a promoção a industrialização verde e a agricultura de baixo carbono.
Ele ainda defendeu "uma visão comum com os países amazônicos e criamos pontes com outros países detentores de florestas tropicais".
Injustiça climática e minoria privilegiada
O presidente brasileiro ainda destacou que a conta da mudança climática não é a mesma para todos. Segundo ele, tal crise chegou primeiro para as populações mais pobres.
"O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial. Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, e já não podem alimentar suas famílias", disse.
"Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e seus próprios filhos", alertou.
"A injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que nos afligem", disse Lula.
Ele, porém, criticou o fato de que o "mundo naturalizou disparidades inaceitáveis de renda, gênero e raça".
Segundo o brasileiro, "não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades". "Quem passa fome tem sua existência aprisionada na dor do presente. R torna-se incapaz de pensar no amanhã", disse.
A visão do governo brasileiro é de que reduzir vulnerabilidades socioeconômicas significa construir resiliência frente a eventos extremos. "Significa também ter condições de redirecionar esforços para a luta contra o aquecimento global", disse.
Para Lula, porém, nenhum país resolverá seus problemas sozinho. Ele ainda propõe um trabalho conjunto entre os governos para "pavimentar o caminho entre esta COP 28 e a COP30, que sediaremos no coração da Amazônia".
"Não existem dois planetas Terra. Somos uma única espécie, chamada Humanidade. Todos almejamos tornar o mundo capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes - e não apenas uma minoria privilegiada", insistiu.
E concluiu citando o papa Francisco na Encíclica "Todos Irmãos". "Precisamos conviver na fraternidade", disse.
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