Jamil Chade

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Reportagem

Adesão à Opep teve resistência no Itamaraty e mina imagem do país na COP28

O anúncio por parte de países da Opep de que o Brasil iria aderir ao bloco do petróleo como membro associado, um dia antes do início da Conferência da ONU para o Clima, manchou a estratégia que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva planejava adotar na COP28.

Já no governo de Jair Bolsonaro, a Opep ensaiou uma aproximação do Brasil e fez o convite para que o governo anterior aderisse ao bloco — mas a decisão foi a de frear naquele momento o avanço das conversas. A percepção era de que qualquer sinalização poderia afastar o país do grupo Ocidental e prejudicar a relação entre Brasil e EUA, prioridade máxima dos bolsonaristas.

Em outubro de 2023, porém, a cúpula da Opep esteve no Brasil e acabou convencendo o Ministério de Minas e Energia a retomar a ideia. Lula acabaria também recebendo os representantes do grupo.

Mesmo assim, havia uma divisão clara dentro do governo sobre relevância de fazer parte do bloco. De um lado, vozes dentro do Itamaraty em Brasília insistiam que não faria sentido o país aderir na condição de membro associado.

Na avaliação deles, não haveria ganhos reais e, ao mesmo tempo, o custo político seria elevado. Alguns dos principais nomes da chancelaria também se mostraram resistentes à ideia.

Entretanto, o projeto foi liderado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira de Oliveira, e por alas dentro da Petrobras.

De forma improvisada e revelando a disparidade de visões dentro do governo, o pior dos cenários se confirmou.

Na quinta-feira (30), com uma delegação brasileira recorde desembarcado na COP28, membros da Opep divulgaram a informação da adesão do Brasil para a imprensa estrangeira — apontando como sendo já um fato. Ao lado do Brasil estarão governos como o do México e da Rússia.

Num comunicado, a entidade afirmou que:

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A 36ª Reunião Ministerial OPEP e Não-OPEP foi realizada por videoconferência, na quinta-feira, 30 de novembro de 2023.

A reunião deu as boas-vindas a Alexandre Silveira de Oliveira, ministro de Minas e Energia da República Federativa do Brasil, que se juntará à Carta de Cooperação da OPEP+ a partir de janeiro de 2024.

Planalto nega, e depois Lula confirma

Mas não estava previsto que o Brasil faria o anúncio, principalmente diante do cuidado que o governo estava tendo para desembarcar em Dubai, durante a COP28, como a principal voz dos países em desenvolvimento na busca por uma transformação da agenda climática e cobranças

Não faria sentido, segundo diplomatas, pressionar os ricos por recursos e promover uma ruptura em relação ao governo de Bolsonaro e, ao mesmo tempo, anunciar a adesão ao bloco de exportadores de petróleo.

O anúncio pegou o governo de surpresa. Inicialmente, o Palácio do Planalto desmentiu que já houvesse uma confirmação da participação do país como parte da Opep+ — que reúne aliados da Opep — e informou que o tema estava "sob análise".

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Nos discursos de Lula, já na sexta-feira (1º), o presidente insistiu em falar sobre a necessidade de "descarbonizar o planeta" e criticou o fato de que a transição para reduzir a dependência ao petróleo era lenta.

A desconfiança de uma ala dentro do Palácio do Planalto e do Itamaraty é de que a informação foi deliberadamente publicada como forma de minar a tentativa do Brasil de se apresentar como um porta-voz dos países emergentes na agenda ambiental.

A análise era de que não havia motivo para os países exportadores de petróleo terem divulgado a notícia, sem uma coordenação com Brasília.

Neste sábado, porém, o próprio Lula admitiu que o Brasil entraria para o bloco. Mas usou de argumentos para tentar minimizar o impacto da decisão.

Lula disse que, por fazer parte apenas dos membros associados, o país "não apitaria nada". Também afirmou que se tratava de uma oportunidade para influenciar a Opep a buscar a energia renovável. A fala chegou a ser ironizada por negociadores brasileiros, apontando que esse não é o objetivo do bloco.

A Opep, dizem eles, criou o grupo de associados justamente para ir na direção contrária: ampliar sua influência política no mundo.

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Ambientalistas criticam

Entre ambientalistas, a notícia da confirmação da adesão do Brasil foi considerada como um tiro no pé. Para a WWF, o anúncio da adesão é "contraditório" e vai na "contramão da urgente e necessária transição energética que o Brasil e o mundo precisam para combater a crise climática".

Para o diretor de programas do Greenpeace Brasil, Leandro Ramos, o governo "diz uma coisa, mas fez outra na COP28". "É inaceitável que o mesmo país que diz defender a meta de limitar o aquecimento global em 1,5 graus, agora esteja anunciando o seu alinhamento ao grupo dos maiores produtores de petróleo do mundo", afirmou.

"Apesar de não sabermos ainda qual será o formato da Opep Plus, sabemos que a Opep funciona como um cartel para influenciar o preço internacional do petróleo por meio do controle da oferta", disse.

"Por isso, anunciar a entrada do Brasil na organização em pleno ano de 2023, enquanto deveríamos estar preocupados em acelerar a transição energética do país e criar planos para eliminar os combustíveis fósseis progressivamente, é uma decisão completamente equivocada e perigosa, além de ser uma maneira errada de começar a construir pontes para a COP30, que acontecerá em Belém em 2025", declarou.

Para ele, não basta apenas se comprometer em zerar o desmatamento. "O governo brasileiro precisa se posicionar contra os combustíveis fósseis se quer assumir um papel de liderança climática mundial", disse.

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"Essa incoerência poderá colocar em xeque a sua posição para cobrar metas mais ambiciosas dos países desenvolvidos e custará caro à política climática brasileira", completou.

Reportagem

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