Governo palestino quer cúpula de apoio a Gaza em Brasília
A Autoridade Palestina quer levar uma comitiva de chanceleres de países de maioria muçulmana para um encontro, em Brasília, com ministros de países que apoiem a causa palestina. A informação foi revelada ao UOL com exclusividade pelo ministro palestino de Relações Exteriores, Riyad Al-Maliki.
A reportagem apurou que a ideia de uma missão de países árabes e muçulmanos de outras partes do mundo já foi apresentada, há poucas semanas, por Maliki ao chanceler brasileiro, Mauro Vieira —quando ambos se reuniram em Nova York, às margens das reuniões do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Um dos objetivos do encontro seria o de angariar apoio por um cessar-fogo permanente que conduza à desocupação das terras palestinas. Isso ainda poderia levar a um processo no qual o reconhecimento palestino seja estabelecido como condição para qualquer acordo envolvendo Israel.
Ao longo das últimas semanas, o governo brasileiro vem insistindo sobre a necessidade de que um processo negociador multilateral seja iniciado, com o objetivo de criar condições para uma paz duradoura entre Israel e um estado palestino reconhecido internacionalmente.
Depois de quatro anos de uma postura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de se afastar dos palestinos, o governo Lula (PT) retomou a postura tradicional do Brasil no debate sobre a situação no Oriente Médio.
"Estamos contemplando, como um grupo de chanceleres de países árabes e muçulmanos, de ir ao continente (latino-americano). E para ver se podemos realizar uma reunião com um grupo de ministros", explicou o chanceler palestino. Segundo ele, a esperança é de que o encontro conte com os chefes da diplomacia de países como Colômbia, Peru, Chile e tantos outros da região.
O político é um dos nomes mais fortes da Autoridade Palestina. Já foi ministro da Informação, porta-voz do governo e é o chefe da diplomacia palestina desde 2007.
No primeiro mandato de Lula, seu governo promoveu cúpulas entre América Latina e os países árabes, num esforço para aproximar as duas regiões.
Além da opção por Brasília, outra alternativa seria um encontro em Bogotá. O governo colombiano tem sido um dos principais pontos de apoio dos palestinos na América Latina, revertendo uma postura de anos por parte de diversos governos da Colômbia.
Al-Maliki, porém, destaca o papel da diplomacia brasileira. "Estamos satisfeitos com o fato de que, no Brasil, as coisas estão estáveis", afirmou. "O presidente Lula tem constantemente apoiado (a causa palestina). Não apenas com declarações. Mas também com ações", disse.
"Sempre que há uma oportunidade, vemos que uma declaração é feita, seja por ele ou por seus ministros", insistiu.
Para ele, porém, não há mais uma unidade latino-americana em relação à causa palestina. "Não se pode mais falar numa posição conjunta da América Latina. Hoje, temos governos de direita e de esquerda na região. Não há como dizer que um governo como o da Argentina seja próximo aos palestinos", lamentou —numa referência ao posicionamento do governo de Javier Milei, novo presidente da Argentina. "Não há como fazer uma comparação ao posicionamento da Colômbia", disse.
"Fracasso internacional"
Falando sobre a situação do conflito, o chanceler insistiu que ele representa um povo que tem seus direitos negados há décadas. "Hoje, metade das crianças de Gaza estão com fome. Não por um desastre natural. Mas por conta do uso da fome como arma de guerra por parte de Israel", disse.
Em sua avaliação, há um "fracasso internacional" diante do que ocorre em Gaza. Para ele, se governos pelo mundo aceitam o que está ocorrendo nos territórios palestinos, não há como garantir que o sistema internacional de direitos humanos possa sobreviver por mais 25 anos.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receber"Quando mais de 8.000 crianças morrem, quando escolas são atacadas e quando um só país pode frear qualquer ação, como podemos ousar dizer que os direitos humanos são universais?", atacou.
Para o chanceler, o mundo precisa ter a "a coragem de dizer que nosso sistema fracassou".
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