Os indícios apontam que o Estado brasileiro foi alvo de um sequestro
Uma fuga de barco era a cena que ainda faltava para o script de como um grupo corrompeu o Estado de Direito e zombou de toda uma população. Mas se comprovados os indícios do uso da inteligência brasileira para fins privados, não é apenas mais um crime que foi cometido. O que se constata é o sequestro do Estado.
Ao longo de quatro anos, ficou evidente que decisões e comportamentos de autoridades não estavam interessados em assegurar a proteção de seus cidadãos. E sim de seu clã. Era uma estratégia de poder, distante de qualquer princípio republicano ou democrático.
A cada cova cavada durante a pandemia, a legitimidade original obtida nas urnas era desmanchada. A cada ataque contra a imprensa, ela era diluída. A cada proposta de intervenção nas forças de polícia, tal direito adquirido era suspenso. A cada perdão de multas ambientais, sua autoridade era transformada em abuso de poder.
Ao colocar seus generais para ameaçar a lei, ao declarar abertamente que sua família está acima do direito, ao gargalhar diante da dor ou ao disparar mentiras nas redes sociais, aqueles que chegaram a liderar o governo se depararam, refletido no chão, com sua própria sombra: a silhueta do cadáver da democracia.
Agora, se confirmadas as suspeitas sobre a Abin, constatamos que o Brasil foi alvo de um sequestro.
Não era apenas o gabinete que era de ódio. O discurso é repleto de morticínio. Morte de uma república profanada e insultada, infiltrada em suas agências de estado por dogmas e corroída pela mentira.
Se o 8 de Janeiro representou uma ameaça real, os indícios apontam que a morte da democracia ocorria nos computadores de um serviço paralelo do Estado.
No Brasil, os golpes diários ainda foram traduzidos numa redução do espaço cívico, na dificuldade cada vez maior em se ter acesso à informação, no corte de orçamentos para serviços públicos, na transformação da imagem de defensores de direitos humanos em "inimigos da nação", na deliberada tentativa do governo em desmontar órgãos de fiscalização ou nas repetidas ofensivas para promover uma ingerência na independência das forças de ordem.
Eles não esperaram pelos tanques para ensaiar um golpe. No topo do morro e antes do sol nascer por completo, eram os contornos dos coveiros com suas enxadas cavando os fossos da nossa liberdade que podiam ser avistados.
Investigar e punir aqueles envolvidos no sequestro de um Estado não é uma opção. É a única garantia da sobrevivência da democracia.
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