Haia diz que Rússia viola leis, mas derruba principais queixas da Ucrânia
Numa decisão que promete frustrar os ucranianos, a Corte Internacional de Justiça condenou a Rússia por violar algumas das leis do tratado de combate ao terrorismo. Mas rejeitou grande parte das acusações formuladas pela Ucrânia sobre a anexação da Crimeia e não exige do Kremlin compensações por suposto envolvimento no ataque contra o voo 17 da Malaysia Airlines e nem outros crimes.
Nesta quarta-feira, o tribunal com sede em Haia atendeu apenas a uma pequena parte da denúncia apresentada pela Ucrânia. O caso foi iniciado ainda em 2017, antes mesmo da invasão mais recente promovida por Moscou, em 2022. Não se trata da acusação sobre a invasão de seu território. Mas de apoio aos grupos rebeldes no leste ucraniano.
O Kremlin foi condenado por:
- Violar os tratados internacionais ao não investigar suspeitas de terrorismo nos territórios ocupados no leste da Ucrânia
- Violar acordos de combate ao racismo ao implementar um sistema educacional na Crimeia que desrespeita as línguas e tradições locais.
Mas todas as outras denúncias apresentadas pelos ucranianos e os pedidos de compensações foram rejeitados.
A Rússia faz parte da corte e as decisões de Haia são juridicamente vinculante. Mas, sem a capacidade de aplicar suas ordens, a corte vem sendo ignorada. Na semana passada, a entidade já ordenou que Israel fizesse tudo que estivesse em seu alcance para evitar um genocídio em Gaza e, ainda assim, a ofensiva militar apenas aumentou em intensidade.
O mesmo tribunal já emitiu medidas provisórias ainda em 2022 para que a Rússia interrompesse a guerra e retirasse suas tropas da Ucrânia. Moscou esnobou a decisão.
Vladimir Putin também já havia sido condenado por crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional, que também fica em Haia. Mas, para que ele seja entregue à Justiça, ele teria de viajar para um país que faça parte da corte e, nesse local, a Justiça determinaria sua prisão e entrega para Haia.
Essa é a primeira de duas decisões esperadas da Corte Internacional de Justiça ligadas ao conflito. Na sexta-feira, o tribunal avalia a queixa que denuncia Moscou pela invasão de 24 de fevereiro de 2022.
Terrorismo
Kiev, ao apresentar o atual caso, acusava a Rússia de violar as convenções contra a discriminação e de financiar o terrorismo. A Ucrânia ainda pediu que o tribunal ordene Moscou a pagar por ataques e crimes no leste do país, incluindo a derrubada do voo 17 da Malaysia Airlines.
Rebeldes apoiados pela Rússia abateram o avião em 17 de julho de 2014, matando todos os 298 passageiros e tripulantes. A Rússia nega envolvimento. Em 2022, um tribunal nacional holandês condenou dois russos e um ucraniano pró-Moscou em novembro de 2022 por seus papéis no ataque e os sentenciou à prisão perpétua.
Ao apresentar seu caso, o governo ucraniano acusou as forças pró-Rússia de "atacar civis como parte de uma campanha de intimidação e terror". "O dinheiro e as armas russas alimentaram essa campanha", afirmam.
O único argumento atendido pela Corte foi a de que os russos fracassaram em realizar investigações sobre atos terroristas, depois de terem sido informados pelos ucranianos. Todo o restante foi rejeitado.
Na Crimeia, a alegação é de que a Rússia "tentou substituir a comunidade multiétnica que caracterizava o local pelo nacionalismo russo discriminatório".
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberA decisão, anunciada pela presidente da corte, Joan Donoghue, se limitou a condenar Moscou pelo sistema de ensino adotado depois da anexação. Mas rejeita a tese ucraniana de que houve uma discriminação com base étnica.
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