Jamil Chade

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Cuba admite dívida com Brasil, mas diz que terá dificuldades para pagar

O governo cubano iniciou uma negociação para começar a lidar com a dívida que tem com o Brasil. Mas, vivendo sua pior crise econômica em 30 anos, as autoridades cubanas já alertaram que o processo para quitar os pagamentos não será simples.

No início de fevereiro, uma equipe cubana viajou ao Brasil e, numa reunião com o Ministério da Fazenda, sinalizou oficialmente que reconhece a existência das dívidas. Para diplomatas brasileiros, o encontro foi importante, por apontar que as autoridades de Havana estão dispostas a sentar para conversar. Outras fontes em Brasília ainda consideram que se tratou de um "passo relevante, ainda que o diálogo esteja apenas no seu começo".

Do lado brasileiro, o posicionamento foi de que o governo entende as dificuldades, mas que soluções precisam começar a ser buscadas e que um encaminhamento precisa ser feito.

Reconhecida a dívida, o primeiro passo da negociação será sobre o tamanho exato do valor a ser pago. O Brasil aponta que o valor seria de R$ 671,7 milhões. Um dos aspectos centrais se refere ao empréstimo feito pelo BNDES para as obras do porto de Mariel, nas proximidades de Havana.

Mas os cubanos também sinalizaram que terão dificuldades para iniciar os pagamentos. O endurecimento do embargo americano, a crise de alimentos com a guerra na Ucrânia e o furacão Ian, em 2022, abalaram a já frágil economia local. Vivendo em grande parte do turismo, a ilha caribenha foi ainda afetada pela covid-19 e que cortou de forma profunda a receita de dólares ao país. "Foi uma tempestade perfeita", disse um dos negociadores.

Em 2023, o PIB cubano encolheu em 2% e, segundo Havana, o bloqueio americano custou à ilha US$ 4,8 bilhões. As remessas de cubanos vivendo no exterior ainda caíram de US$ 2 bilhões há dez anos para apenas US$ 1 bilhão.

O distanciamento promovido pelos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro tampouco ajudou. De uma balança comercial de mais de US$ 670 milhões em 2013, ela hoje não passa de US$ 150 milhões.

O governo brasileiro admite que, diante da crise cubana, é difícil imaginar que haverá um fluxo financeiro constante para arcar com a dívida. A ideia em Brasília é a de dar espaço para que modelos "criativos" sejam encontrados para sair do default.

Durante o encontro, não se chegou a falar ainda se haverá uma restruturação da dívida. Mas, em ambos os governos, não se exclui a possibilidade de que mecanismos alternativos possam ser usados para cobrir parcialmente a divida.

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Ao longo dos últimos meses, vários acordos começaram a ser negociados entre Cuba e Brasil, envolvendo os setores de saúde, remédios, cultura e mesmo agricultura.

Ainda não uma nova data para as reuniões e uma das dificuldades reais se refere ao fato de que a equipe negociadora do Brasil é a mesma que pilota os trabalhos do G20, que neste ano é presidido pelo governo Lula. O que já se sabe é que a próxima reunião deve ocorrer em Havana.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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