Jamil Chade

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UE retoma envio de dinheiro para agência da ONU acusada por Israel

A União Europeia decidiu retomar o financiamento e repasse de recursos para a agência da ONU responsável por dar assistência humanitária aos palestinos, a UNRWA. A entidade é acusada por Israel de ser cúmplice do Hamas.

A decisão ocorre na mesma semana em que mais de cem palestinos morreram durante a distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Hamas e Israel culpam um ao outro pela tragédia.

Há um mês, o governo do premiê israelense Benjamin Netanyahu anunciou que havia descoberto que doze dos 13 mil funcionários da agência tinham participado de alguma forma dos ataques de 7 de outubro de 2023.

Imediatamente, doadores suspenderam suas contribuições, ampliando o desespero de 2,2 milhões de palestinos na Faixa de Gaza.

A ONU abriu investigações e demitiu os funcionários acusados. Mas, nesta semana, informou que o governo de Israel ainda não havia apresentado todas as evidências e novas provas de suas acusações. A única informação que a entidade dispõe se refere aos dados apresentados por Israel, há um mês.

O anúncio israelense de que funcionários da ONU teriam sido cúmplices com os ataques terroristas ainda ocorreu no mesmo momento em que a Corte Internacional de Justiça denunciava o governo de Netanyahu e ordenava, em medidas cautelares, que Israel tomasse "todas as medidas necessárias" para evitar um genocídio.

Com os cortes de recursos por parte dos doadores, a UNRWA anunciou que teria de encerrar seus trabalhos em grande parte de Gaza no final de fevereiro.

Nesta semana, porém, a Comissão Europeia anunciou que vai alocar 68 milhões de euros (R$ 365, 3 milhões) para apoiar a população palestina em toda a região, a ser implementado por meio de parceiros internacionais como a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho.

Isso se soma aos 82 milhões de euros (R$ 440,4 milhões) de ajuda previstos para serem implementados por meio da UNRWA em 2024, elevando o total para 150 milhões de euros (R$ 805,7 milhões).

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Num comunicado, a UE admite que "procederá ao pagamento de 50 milhões de euros (R$ 268,6 milhões) da dotação da UNRWA na próxima semana".

O volume de dinheiro não é suficiente para compensar as perdas de 400 milhões de euros (R$ 2,15 bilhões), diante do corte de repasses. Mas, entre os diplomatas e mesmo funcionários do alto escalão da ONU, o gesto foi recebido como um sinal político importante de respaldo ao trabalho da agência.

No anúncio, a UE informou que, em 29 de janeiro, o bloco "avaliou sua decisão de financiamento para a UNRWA à luz das alegações muito graves feitas em 24 de janeiro que implicam vários funcionários da UNRWA nos hediondos ataques de 7 de outubro". "Ela levou em conta as medidas tomadas pela ONU e os compromissos que a Comissão exigiu da UNRWA", disse.

Israel ainda não entrega provas

Na ONU, porém, uma insatisfação tomou conta de diplomatas, diante dá demora de Israel de entregar provas que possam apoiar as alegações.

Na semana passada, o jornal Wall Street Journal revelou que documentos internos do Conselho Nacional de Inteligência dos Estados Unidos considerou que havia "baixa confiança" sobre as alegações de Israel de que a agência da ONU seria, de uma forma ampla, cúmplice do Hamas.

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Na semana passada, os investigadores da ONU entregaram ao secretário-geral da ONU, António Guterres, a primeira versão da apuração sobre a agência. Mas sem qualquer tipo de novas evidências.

O governo de Israel informou às Nações Unidas que os dados seriam colocados à disposição "em breve". O ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, garantiu que "forneceria todos os materiais que comprovam o envolvimento da UNRWA com o terrorismo e seus danos ao futuro da região".

O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, admitiu que o processo não está concluído. "A investigação continua em andamento", disse. Segundo ele, a auditoria tentará coletar "informações adicionais e comparar as informações obtidas com materiais mantidos pelas autoridades israelenses". Uma missão para Israel também está sendo planejada.

Entre as acusações está ainda a existência de um túnel sob a sede da UNRWA em Gaza, supostamente mantido pelo Hamas.

Da parte dos europeus, o bloco elogio a investigação do Escritório de Serviços de Supervisão Interna da ONU para esclarecer as "graves alegações contra o pessoal da UNRWA".

Além disso, aplaudiu a ONU pela criação de um Grupo de Revisão independente, liderado por Catherine Colonna, para avaliar se a agência está fazendo tudo o que está ao seu alcance para garantir a neutralidade e responder às alegações de violações graves", disse.

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Segundo a UE, após o intercâmbio com a Comissão Europeia, "a UNRWA também indicou que está pronta para garantir que seja realizada uma análise de seu pessoal para confirmar que eles não participaram dos ataques".

Por fim, a UNRWA concordou com o fortalecimento de seu departamento de investigações internas.

"Nesta base, e na sequência da troca de cartas com a UNRWA confirmando os seus compromissos, a Comissão procederá ao desembolso de uma primeira parcela de 50 milhões de euros dos 82 milhões de euros previstos para a UNRWA para 2024", completou a UE.

A segunda e a terceira parcelas de 16 milhões de euros (R$ 85,9 milhões) serão liberadas de acordo com a implementação desse acordo.

Para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, "os palestinos inocentes não deveriam ter que pagar o preço pelos crimes do grupo terrorista Hamas".

"Eles enfrentam condições terríveis, colocando suas vidas em risco devido à falta de acesso a alimentos suficientes e a outras necessidades básicas. E por isso que estamos reforçando nosso apoio a eles este ano com mais 68 milhões de euros", disse.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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