Jamil Chade

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Israel nega visto a chefe de agência da ONU que iria a Gaza contra fome

A fome é iminente em Gaza, e metade da população do território palestino estaria em risco. O alerta foi emitido nesta manhã, num novo informe da ONU. De acordo com o levantamento, o cenário "catastrófico" pode ocorrer até o final de maio de 2024 se não houver um cessar-fogo imediato e acesso para o fornecimento de suprimentos e serviços essenciais à população.

Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, Israel precisa permitir a entrada de ajuda imediatamente. Ele destacou que a dimensão da fome é a mais elevada já registrada pela entidade. Segundo ele, o mundo precisa agir para "prevenir o impensável, o inaceitável e o injustificável".

O informe é publicado no dia em que Israel negou o visto para que o chefe da Agência da ONU para Refugiados Palestinos, Philippe Lazzarini, entre em Gaza. "Minha visita hoje era para coordenar e melhorar a resposta humanitária", explicou o suíço.

Sua agência é acusada por Israel de estar ajudando o Hamas, algo que ele rejeita. Dos mais de 10 mil funcionários da UNRWA, doze deles foram acusados por Israel por ter apoiado de alguma forma os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023. Os doze foram demitidos e a ONU abriu uma investigação. Mas, para o governo israelense, a agência precisa ser fechada.

"Essa fome causada por ações humanas é uma mancha em nossa humanidade coletiva", disse Lazzarini. "A fome pode ser evitada com vontade política", completou.

O veto à sua entrada ocorre um dia após o governo brasileiro ter anunciado que vai continuar a financiar a agência, gesto que já havia sido feito por Canadá e a UE (União Europeia).

A crise diplomática entre a ONU e Israel começou nas primeiras semanas do conflito, depois que a agência alertou que os ataques terroristas do Hamas "não ocorreram no vácuo". O governo de Benjamin Netanyahu pediu a demissão do secretário-geral da ONU, António Guterres.

UE fala em "cemitério a céu aberto"

Também nesta segunda-feira, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borell, classificou a situação em Gaza como um "cemitério a céu aberto". Para ele, Israel deve ser obrigado a permitir que a ajuda humanitária entre na região.

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A revelação sobre a fome e a crise diplomática coincidem com a data da visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas para Israel. Ele deve se encontrar com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O que diz o novo levantamento sobre a fome?

70% da população do norte de Gaza, com 210 mil pessoas, seriam os mais afetados. "A continuidade do conflito e a quase total falta de acesso das organizações humanitárias e dos caminhões comerciais às províncias do norte provavelmente aumentarão as vulnerabilidades e a disponibilidade, o acesso e a utilização extremamente limitados de alimentos, bem como o acesso à saúde, à água e ao saneamento", indica o informe.

"O limite da fome para a insegurança alimentar aguda das famílias já foi muito ultrapassado e, considerando os dados mais recentes que mostram uma tendência de aumento acentuado nos casos de desnutrição aguda, é altamente provável que o limite da fome para a desnutrição aguda também tenha sido ultrapassado", alertou.

"Espera-se que a tendência de aumento da mortalidade também se acelere, resultando na probabilidade de que todos os limites da fome sejam ultrapassados em breve", constatou.

Nas últimas semanas, mais de 25 crianças morreram desidratadas ou desnutridas.

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As províncias de Deir al-Balah e Khan Younis, no sul do país, e a província de Rafah, estão classificadas na Fase 4 do índice de desnutrição, apontado como "Emergência". "No entanto, na pior das hipóteses, essas províncias enfrentam o risco de fome até julho de 2024", diz.

Além disso, o informe constata que "toda a população da Faixa de Gaza (2,23 milhões) está enfrentando altos níveis de insegurança alimentar aguda".

"Entre meados de março e meados de julho, no cenário mais provável e sob a premissa de uma escalada do conflito, incluindo uma ofensiva terrestre em Rafah, metade da população da Faixa de Gaza (1,11 milhão de pessoas) deverá enfrentar condições catastróficas", completou.

"Essa análise atualizada confirma o que todos nós temíamos: uma deterioração rápida e profunda da situação da segurança alimentar em Gaza. Metade da população está enfrentando níveis catastróficos de insegurança alimentar", disse Beth Bechdol, diretora-geral adjunta da FAO. "Isso atinge o nível mais alto já registrado, diferente de tudo o que já vimos antes. Em dezembro, o relatório anterior indicou que a fome era provável. Se não forem tomadas medidas para cessar as hostilidades e fornecer mais acesso humanitário, a fome é iminente. Ela pode já estar ocorrendo. É necessário acesso imediato para facilitar a entrega de assistência urgente e crítica em escala", completou.

Segundo o levantamento, "praticamente todas as famílias estão pulando refeições todos os dias e os adultos estão reduzindo suas refeições para que as crianças possam comer". "Nas províncias do norte, em quase dois terços dos lares, as pessoas passaram dias e noites inteiros sem comer pelo menos 10 vezes nos últimos 30 dias. Dados recentes mostram que, nas províncias do norte, uma em cada três crianças com menos de dois anos de idade está gravemente desnutrida", afirmou.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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