Jamil Chade

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Opinião

Guerra em Gaza vira pesadelo para organizadores das Olimpíadas de Paris

A cena parecia de um filme de espionagem. Em fevereiro, numa das principais estações de trem de Paris, a Gare du Nord, os planos confidenciais de segurança para os Jogos Olímpicos de Paris foram roubados. A mala que continha os documentos, um computador e dois USBs foi levada de um dos vagões.

O incidente aumentou ainda mais a tensão entre os organizadores, que preveem 30 mil policiais, 15 mil soldados e 2 mil policiais municipais para garantir a proteção ao evento que começa em 26 de julho. Com um orçamento de 8,8 bilhões de euros, pelo menos 400 milhões de euros irão apenas para a segurança, incluindo o pagamento de outros 20 mil seguranças privados.

O verdadeiro exército estabelecido tem como missão impedir que o evento seja engolido pela tensão internacional, num cenário com duas guerras de grandes proporções - Gaza e Ucrânia - o avanço do antissemitismo, a ameaça da extrema direita e o permanente risco do terrorismo.

Uma das grandes preocupações dos organizadores é a delegação de Israel, ainda sob o trauma dos atentados de 1972 em Munique e, neste momento, diante da repercussão da ofensiva militar sobre Gaza. No evento na Alemanha, oito membros de um grupo palestino conseguiu se infiltrar na Vila Olímpica e matou onze israelense.

Os organizadores se mantêm em completo silêncio. Mas fontes garantem que a delegação de Tel Aviv, neste ano, contará com segurança privado e armado dentro da Vila Olímpica.

A presidente do Comitê Olímpico de Israel, Yaël Arad, admitiu em recente entrevista para a RMC Sport que está "preocupada". Mas diz confiar nas autoridades francesas.

Um dos grandes desafios é a cerimônia de abertura que, pela primeira vez, ocorrerá fora do estádio, ao ar livre e com o desfile das delegações diante de milhões de pessoas. Arad garante que a delegação de Israel estará presente. "Faremos como as demais delegações", garantiu.

Se não bastasse, o evento ocorre em um país que atravessou vários atentados e centenas de mortos nos últimos anos.

Mas, com 15 milhões de turistas sendo aguardados para o verão, o COI precisará lidar com questões reais se houver uma manifestação pro palestina durante um torneio com atletas israelenses, se algum medalhista subir ao pódio com a bandeira palestina ou mesmo se um atleta estrangeiro se recusar a confrontar um adversário israelense.

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O chefe da polícia de Paros, Laurent Nuñez, anunciou ainda que o público terá de circular com um QR code, o que tentaria assegurar que todos estariam identificados nas proximidades dos eventos esportivos.

Outro debate ainda que mobiliza o COI tem sido a participação dos jogadores de futebol de Israel que, pela primeira vez em 48 anos, se classificaram para o torneio na Olimpíada. Israel caiu no gripo de Paraguai, um time asiático ainda a ser confirmado e Mali, um país com 95% de sua população muçulmana. Não se exclui ainda que, se passar para as próximas fases, Israel poderia cruzar com Egito ou Marrocos.

No final de 2023, por conta da guerra em Gaza, a Associação de Futebol da Jordânia liderou um pedido de doze federações árabes parta que as entidades esportivas tomassem "ações" contra Israel, até que o governo de Benjamin Netanyahu aceite um cessar-fogo. 300 organizações e clubes palestinos também apresentaram uma petição ao COI para que Israel seja banido dos Jogos de Paris.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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