Jamil Chade

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Reportagem

Lula volta à Europa em momento de turbulência para democracias e Brasil

Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcar na Europa nesta quinta-feira (13), estará tentando deixar para trás, pelo menos de forma temporária, crises domésticas, derrotas no Congresso, um desastre climático no Sul, uma polêmica sobre o leilão do arroz, o indiciamento do ministro Juscelino Filho e a alta do dólar.

Mas será acolhido por organizações internacionais esvaziadas e potências Ocidentais em sua pior crise política em anos.

Lula começa sua turnê por Genebra e com um discurso com forte cunho social na Conferência Internacional do Trabalho. A redução das desigualdades, a reforma dos organismos internacionais e a defesa da democracia estarão em sua fala.

Lula usará o palco da OIT como uma espécie de reduto, com aliados sindicalistas e governos de países emergentes. Num palco favorável e que o aplaudirá, o presidente busca reforçar sua posição de líder do mundo em desenvolvimento. Para isso, quer fazer vingar na agenda internacional o aspecto social, tanto do debate climático como dos temas econômicos e de trabalho.

Em um discurso nesta quarta-feira (12) na Organização Internacional do Trabalho, o ministro Luiz Marinho antecipou alguns dos temas que serão tratados pelo presidente. Segundo ele, sem taxar as grandes fortunas, não será possível acabar com a miséria e a fome no mundo.

O tema é uma espécie de bandeira internacional do governo Lula e pode ser central na cúpula do G20, no segundo semestre no Rio de Janeiro.

Mas o próprio organismo pena para se manter relevante e o governo Lula não descarta anunciar que o Brasil está disposto a liderar um processo de reforma nos órgãos de decisão da entidade.

Lula, no final desta quinta-feira, ainda lançará um selo comemorativo dos 35 anos da obra O Alquimista, de Paulo Coelho. O autor, que mora em Genebra, também estará no evento.

G7: Ucrânia, Gaza e China

A parada seguinte de Lula, na sexta-feira (14), será a cúpula do G7. O grupo deve anunciar um novo pacote de 50 bilhões de euros de ajuda para a Ucrânia e definir uma posição para o uso dos ativos confiscados da Rússia.

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Volodymyr Zelensky também foi convidado para a cúpula e vai insistir sobre a necessidade de uma maior coordenação do Ocidente. Não existe uma previsão de uma reunião bilateral entre Lula e o ucraniano, que o criticou abertamente nas últimas semanas pela suposta aproximação do brasileiro ao russo Vladimir Putin. O Itamaraty garante que apenas quer criar condições para uma negociação de paz.

Já o governo americano, de olhos nas eleições, quer garantir que o G7 mande um recado duro contra bancos chineses que estejam driblando as sanções contra a Rússia e garantindo oxigênio ao governo de Vladimir Putin. As sanções são criticadas pelo governo Lula.

Gaza também estará sobre a agenda, com uma tentativa de um acordo entre as potências ocidentais que chancele o plano de cessar-fogo dos EUA. Mas sem ataques frontais contra Israel.

Líderes enfraquecidos

Diante de um mundo em caos, um dos maiores obstáculos é o fato de o bloco viver sérias dificuldades e embates internos. A eleição ao Parlamento Europeu catapultou a extrema direita a uma posição de força e, nos EUA, uma possível vitória de Donald Trump mudaria o cenário internacional de forma radical.

Ao redor da mesa, pelo menos três dos sete líderes estarão em posição enfraquecida: Emmanuel Macron foi amplamente derrotado pelos rivais ultraconservadores, o alemão Olaf Scholz viu seu partido ter o pior resultado em décadas e Joe Biden tenta mostrar que ainda é capaz de liderar os EUA em um segundo mandato. Se não bastasse, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen busca apoios para renovar sua liderança.

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A única a mostrar conforto em sua posição é a anfitriã italiana, Giorgia Meloni. Seu partido de extrema direita tenta se consolidar como a referência da extrema direita europeia, depois de vencer o pleito no fim de semana.

Em entrevista ao UOL, o assessor especial da presidência, Celso Amorim, confirmou que Lula irá levar um discurso sobre a necessidade de que as democracias sejam protegidas. Mas admitiu que o cenário é "o mais preocupante desde o final da Segunda Guerra Mundial".

Se temas como a redução da desigualdade encontram aliados como Biden e o presidente francês Emmanuel Macron, o posicionamento do brasileiro sobre Gaza, Ucrânia e clima são considerados como polêmicos e abertamente criticado por europeus e americanos.

Lula retorna ao Brasil no final de semana, onde retomará a agenda de crises, desvalorização da moeda brasileira e derrotas no Congresso.

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